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Ameaças do próximo inverno: ao isolar a Rússia, Europa caminha para uma crise social e energética

© AFP 2023 / Gints IvuskansUm homem caminha enquanto a neve cai em Riga, em 8 de dezembro de 2022
Um homem caminha enquanto a neve cai em Riga, em 8 de dezembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 29.08.2023
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No ano passado, os europeus testemunharam a perspectiva de uma verdadeira crise energética quando decidiram restringir suas importações de combustíveis fósseis da Rússia, fazendo com que os preços de energia no continente subissem para máximas históricas.
Hoje, as lideranças na União Europeia já se debatem para encontrar meios necessários de obter a energia suficiente para sobreviver ao próximo inverno, que promete ser bem mais rigoroso do que o do ano passado.
Tendo aderido ao frenesi das sanções contra Moscou, por exigência dos americanos, a Europa tomou o caminho de tentar diminuir sua dependência das commodities russas, ainda que tais medidas sejam claramente prejudiciais a suas próprias populações e à competitividade de sua indústria.
Com o objetivo de eliminar completamente as importações de energia russa até 2030, a União Europeia acabou jogando em favor da estratégia estadunidense no continente, que visa tornar os europeus dependentes de Washington não somente em termos de segurança, mas também do ponto de vista energético.
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Afinal, os Estados Unidos são experts em criar problemas e depois oferecer soluções que atendam aos seus interesses econômicos. Esse foi o caso, por exemplo, da insistência americana em vender seu gás natural liquefeito para os europeus, a fim de cobrir a lacuna deixada pelo gás russo.
Ora, até a eclosão do conflito ucraniano no ano passado, a elevada dependência da União Europeia dos produtos energéticos vendidos pela Rússia, principalmente gás natural, petróleo e carvão, tinha sido uma das principais razões a preocupar os formuladores de políticas nos Estados Unidos.
Isso porque durante os anos 2000, os europeus adquiriam cerca de 40% do seu gás natural e 30% do seu petróleo da Rússia, implicando em uma sólida relação de complementaridade econômica entre Moscou e o continente.
Contudo, em vista de desavenças políticas e da intromissão americana no Leste Europeu, o Kremlin se viu em uma situação em que suas exportações de energia para a Europa foram sendo paulatinamente diminuídas, sobretudo porque os europeus embarcaram em um jogo geopolítico de confrontação à Rússia por meio das sanções.
Diante desse contexto, testemunhou-se a uma redução de cerca de 80% no valor do comércio energético entre Moscou e o continente no ano de 2022. Todavia, Moscou soube contornar as sanções, estabelecendo relações ainda mais próximas com potências asiáticas como China e Índia. No ano passado, por exemplo, a Rússia já havia se tornado a principal fornecedora de petróleo à Índia, ultrapassando a posição de países como Iraque e Arábia Saudita.
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Não obstante, segundo dados recentes da administração alfandegária chinesa, nos primeiros seis meses de 2023 a Rússia também liderou os suprimentos de petróleo à China. No final das contas, dada a estratégia da União Europeia de diminuir sua dependência do gás e do petróleo russos, Moscou empreendeu importantes parcerias comerciais com China e Índia, o que representa um marco geopolítico para a Eurásia, frustrando assim os planos europeus de enfraquecimento da Rússia.
Assim sendo, o bloqueio do fornecimento de gás russo à Europa tratou-se de um golpe trágico não somente para o setor energético europeu e para o bolso de seus cidadãos, afetando o custo de vida de famílias e empresas, como também do ponto de vista geopolítico, uma vez que serviu para consolidar o eixo Moscou-Nova Deli e Pequim na Eurásia.
Atualmente, os governos europeus se encontram diante da difícil tarefa de sobreviver ao próximo inverno, dado que não querem contar com os recursos energéticos russos. Para piorar a situação, protestos como os ocorridos recentemente na França – assim como em outros países - demonstram um alto grau de insatisfação popular com as autoridades, o que tende a agravar-se em caso de continuada deterioração nos preços de produtos básicos e de energia.
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Esse momento é particularmente desfavorável para os europeus, que continuam insistindo no erro estratégico de sancionar a Rússia, expondo-se a uma grave crise energética e social séria. Além do mais, aquelas nobres iniciativas políticas da União Europeia no âmbito de estabelecerem uma economia verde (o vulgo "Go Green"), visando alcançar uma redução de 55% nas emissões de gases com efeito estufa até 2050, também saíram pela culatra.
O continente, que estava no processo de reduzir voluntariamente a sua dependência de combustíveis fósseis em direção a uma economia mais limpa, foi negativamente afetado por essa brusca onda de sanções contra a Rússia. Isso porque a falta de abastecimento do gás russo implicou na necessidade de utilizar cada vez mais carvão para satisfazer as necessidades energéticas europeias.
Sendo o carvão o combustível fóssil mais prejudicial por conta justamente de suas emissões de carbono, o discurso europeu em torno da necessidade de redução nas emissões de gases com efeito estufa não passou, portanto, de retórica vazia.
Para resumir, a Europa percebeu que alcançar a segurança energética e uma economia verde eram tarefas mutuamente excludentes. Como se não bastasse, durante o último inverno – que acabou sendo relativamente ameno – autoridades do bloco incentivaram seus cidadãos a baixarem a temperatura de seus termostatos (que controlam aquecedores residenciais) em cerca de 0,6 grau Celsius.
Ou seja, literalmente os europeus foram incentivados a passar mais frio dentro de suas próprias casas, tudo em nome da chamada "causa ucraniana" e de sua oposição irrestrita a Moscou. Em suma, no ano passado a sorte da Europa veio na forma de um inverno brando.
Contudo, a promessa é de que o próximo será bem mais rigoroso do que o anterior. Além do frio, porém, a Europa também terá de lidar com um cenário de inflação alta e tumultos populares constantes (vide o caso da França), em boa medida resultante de suas políticas de isolamento da Rússia.
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As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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