Destino da Ucrânia foi selado muito antes do fracasso da contraofensiva, diz especialista
13:39 30.08.2023 (atualizado: 13:55 30.08.2023)
© Sputnik / Sergei Averin / Acessar o banco de imagensTanque destruído em Artyomovsk (Bakhmut, em ucraniano)
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Recentemente, as Forças Armadas da Ucrânia foram criticadas pelos seus parceiros militares ocidentais por levarem a cabo operações de apoio à contraofensiva em curso, de uma forma que se desvia da teoria operacional da guerra de armas combinadas.
De acordo com o ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, Scott Ritter, a guerra de armas combinadas integra as capacidades inerentes às armas de combate separadas (infantaria, artilharia, blindados, guerra aérea, guerra eletrônica etc.) em um esforço singular que se complementa, aumentando assim a letalidade e a eficiência das operações. A teoria serviu de base ao treino das forças ucranianas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na preparação para a atual contraofensiva e se baseia na atual doutrina dos Estados Unidos e da Aliança Atlântica que enfatiza princípios e táticas fundamentais, técnicas e procedimentos que, quando devidamente implementados, são projetados para alcançar o resultado desejado.
Para o especialista, as declarações atribuídas a oficiais militares dos EUA e da OTAN que estiveram envolvidos no treino das forças ucranianas, o Exército ucraniano não conseguiu implementar as táticas para as quais foi instruído, que enfatizavam uma abordagem de armas combinadas que utilizava o poder de fogo para suprimir as defesas da Rússia enquanto unidades blindadas avançavam agressivamente, buscando combinar choque e massa para romper posições defensivas preparadas. De acordo com estes oficiais ocidentais, os ucranianos se revelaram "avessos às baixas", permitindo a perda de mão de obra e equipamento diante da resistência russa para interromper os seus ataques, condenando a contraofensiva ao fracasso.
Os ucranianos, por outro lado, afirmam que o treino de armas combinadas que receberam se baseou em princípios doutrinários, tais como a necessidade de apoio aéreo adequado, que a Ucrânia nunca foi capaz de implementar, condenando a contraofensiva ao fracasso desde o início, e forçando a Ucrânia a se adaptar às realidades do campo de batalha, abandonando a abordagem de armas combinadas em favor de uma batalha centrada na infantaria, afirma Ritter. Para ele, o fato de estas novas tácticas terem produzido um número prodigioso de baixas ucranianas contradiz a noção de que a Ucrânia é avessa a baixas.
"A trágica realidade é que nenhuma das abordagens à guerra permitiu à Ucrânia alcançar as metas e objetivos ambiciosos que estabeleceu para si própria ao lançar a contraofensiva, especialmente a violação das defesas russas levando ao rompimento da ponte terrestre que liga a Crimeia à Rússia", afirmou o especialista.
Para Ritter, embora a Ucrânia, com o apoio dos seus aliados da OTAN, tenha acumulado capacidade militar suficiente para participar em operações militares concertadas contra a Rússia desde o início da contraofensiva no início de junho, a realidade é que este esforço é insustentável, ou seja "a Ucrânia chegou ao fim das suas forças".
As pesadas baixas sofridas pela Ucrânia, combinadas com o fracasso da contraofensiva em romper até mesmo a primeira linha das defesas russas preparadas, levaram o Exército ucraniano a empenhar a sua reserva estratégica na luta. Esta reserva, composta por algumas das forças mais bem treinadas e equipadas à disposição dos ucranianos, destinava-se a explorar os avanços obtidos pelas operações ofensivas iniciais. O fato de a reserva estratégica ter sido empenhada em atingir objetivos que todas as unidades de ataque anteriores não conseguiram alcançar apenas sublinha a futilidade do esforço ucraniano e a inevitabilidade da sua derrota final.
O colapso da coesão militar ucraniana ao longo da linha de contato com a Rússia está ocorrendo mesmo quando o último vestígio da contraofensiva ucraniana sangra nos campos de Zaporozhie. O especialista afirma que devido às perdas no campo de batalha sofridas pela Ucrânia nos meses que antecederam o início da contraofensiva de junho — principalmente, mas não exclusivamente, na Batalha de Artyomovsk — as forças ucranianas foram reduzidas à medida em que as unidades eram reorganizadas ao longo do front para substituir aquelas que tinham sido esgotadas em batalha.
Este estreitamento das linhas de frente ucranianas proporcionou oportunidades às forças russas, levando a grandes avanços nas proximidades de Kupyansk. À medida que as perdas ucranianas continuam, esta diminuição só se tornará mais prevalente, criando lacunas nas defesas ucranianas que podem ser exploradas por militares russos que têm mais de 200.000 reservistas bem treinados e bem equipados que ainda não foram empenhadas na batalha.
Segundo Ritter, esta relação causa-efeito vai continuar, uma vez que a Ucrânia não tem mais reservas disponíveis para substituir as perdas no campo de batalha que vão continuar a se acumular ao longo de toda a linha de contato. "Eventualmente, a postura ucraniana será insustentável e o alto comando ucraniano será confrontado com a realidade de que terá de ordenar uma retirada geral para posições mais defensivas — talvez até a margem direita do rio Dniepre — ou enfrentará a inevitabilidade da destruição total do seu Exército", afirmou ele.
"O destino da Ucrânia foi selado muito antes de sua contraofensiva ser reprimida pelas defesas da Rússia. As raízes do desastre militar da Ucrânia podem ser encontradas nos campos de treino da OTAN, onde os soldados ucranianos foram induzidos a acreditar que o treino que recebiam lhes daria capacidade semelhante à da OTAN no campo de batalha. Mas o léxico da guerra de armas combinadas, a menos que esteja ligado a princípios, táticas, técnicas e procedimentos doutrinariamente sólidos, é apenas uma coleção de palavras desprovidas de significado e substância", garantiu.
A ideia fundamental por trás da guerra de armas combinadas é que se pode exigir mais de cada arma de combate individual porque as fraquezas inerentes presentes são protegidas pelas capacidades complementares das outras que, quando agem em conjunto, servem como um multiplicador de força global, onde o coletivo é maior que a soma de todos os componentes individuais. Mas no campo de batalha, não foi como os fatos transcorreram.
À medida que a operação militar especial atinge a sua fase terminal, marcada pelo colapso da coesão por parte de um Exército ucraniano esgotado em batalha e incapaz de se reforçar adequadamente, é necessário refletir sobre como a situação se deteriorou até este ponto para uma nação que foi beneficiada por bilhões de dólares em assistência. Embora a determinação e a habilidade dos militares russos tenham desempenhado um papel importante na definição dos atuais acontecimentos no campo de batalha, o fato dos ucranianos terem sido lançados em uma batalha para a qual não estavam organizados nem treinados desempenhou um papel enorme no âmbito e na escala do conflito. E por isto a Ucrânia pode culpar – e a Rússia agradecer – à OTAN, concluiu Ritter.