- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Brasil e Paraguai unem forças regionais contra protecionismo verde no acordo Mercosul-UE

© AP Photo / Jorge SaenzNovo ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez (à esquerda), recebe o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na posse de Santiago Peña, novo presidente do país vizinho. Assunção, 15 de agosto de 2023
Novo ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez (à esquerda), recebe o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na posse de Santiago Peña, novo presidente do país vizinho. Assunção, 15 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 05.09.2023
Nos siga no
Especiais
Brasil e Paraguai se comprometeram, no mês passado, a retomar a Comissão de Comércio Bilateral, desativada há sete anos. A decisão foi tomada durante reunião, em Brasília, entre autoridades ministeriais da indústria e comércio de ambos os países, na qual foi estabelecida uma pauta de prioridades nesses segmentos.
O encontro na capital brasileira marcou uma importante aproximação entre as duas nações sul-americanas, que vem sendo sinalizada por Assunção desde que o presidente Santiago Peña assumiu o poder, no último dia 15, seja através de declarações positivas sobre a postura do governo brasileiro, da priorização de visitas oficiais ou da busca de posicionamentos comuns sobre certos temas das agendas regional e internacional.
Paraguai e Brasil movimentaram cerca de US$ 7 bilhões (R$ 34,7 bilhões) em transações comerciais no último ano, com o Brasil exportando, principalmente, máquinas agrícolas, carros e fertilizantes e importando arroz, equipamentos para distribuição de energia elétrica e carne bovina.
Os dois países são parceiros na Usina Hidrelétrica de Itaipu e no Mercado Comum do Sul (Mercosul), cooperam nas áreas de segurança e inteligência, têm projetos conjuntos de infraestrutura, vêm aumentando seus fluxos de investimento, compartilham uma extensa fronteira de 1.339 quilômetros e importantes laços sociais.
O presidente eleito do Paraguai, Santiago Pena, à esquerda, fala durante uma reunião com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, em Taipei, Taiwan, 12 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 01.08.2023
Panorama internacional
Paraguai diz que comércio com China 'não é conveniente' e pede investimentos a Taiwan
Um dos debates que mais têm aproximado os dois governos atualmente é o que gira em torno do acordo Mercosul-União Europeia (UE), alvo de exigências crescentes dos países europeus, amplamente criticadas pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo seu colega paraguaio. Peña inclusive chegou a defender uma interrupção das negociações entre os blocos, alegando desconfiança do "interesse genuíno" da UE em avançar nas tratativas.
No cerne do impasse estão demandas europeias consideradas inaceitáveis pelos sul-americanos. Uma delas diz respeito a punições para os países do Mercosul em caso de violações de compromissos ambientais internacionais, o que é amplamente visto como uma medida protecionista em prol dos produtores europeus.
A outra prevê a abertura de processos de compras públicas para empresas estrangeiras, suspendendo, assim, a utilização do mecanismo de compras estatais como forma de incentivar pequenas e médias empresas nacionais, o que também seria muito mais benéfico para os empresários da Europa.

"A articulação entre Paraguai e Brasil deve aproveitar para criar sinergias entre os seus interesses, criando melhores condições de negociações dos complementos contratuais. A Europa tem consciência do peso da importância do Brasil, da Argentina, do Paraguai, do Uruguai — assim como há um interesse recíproco. Os interesses da Europa não se restringem apenas à arena econômica, incluindo interesses nas relações políticas. Porque interessa à Europa, do ponto de vista político, uma boa relação com a América do Sul", avaliou Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em América Latina, em entrevista à Sputnik Brasil.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante sessão Plenária de Chefes e Chefas de Estado do MERCOSUL, Bolívia, Estados Associados e Convidados Especiais, Argentina, 4 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 04.07.2023
Notícias do Brasil
Uruguai e Paraguai pedem 'posição clara' do Mercosul sobre Venezuela e deixam Lula em saia justa
Para ela, a aproximação entre Brasil e Paraguai reforça a integração regional em momento de ameaça, com possível guinada do governo da Argentina para a extrema-direita.
No próximo dia 15, Brasília sediará a primeira reunião presencial para tratar do acordo entre os blocos desde a apresentação das novas exigências da UE. O Mercosul deve apresentar uma contraproposta. O Brasil, atual presidente do grupo sul-americano, aguarda apenas os comentários do Paraguai para o Itamaraty redigir a carta oficial, uma vez que os demais membros já responderam.
As sintonias entre Brasília e Assunção no enfrentamento ao chamado protecionismo verde podem render frutos em outras áreas de interesse comum para brasileiros e paraguaios, conforme avalia Charles Pennaforte, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA).
Em entrevista à Sputnik Brasil, ele avaliou que, em caso de vitória do direitista Javier Milei, a não participação da Argentina (ou a vontade da Argentina em menor intensidade) é ruim para o Mercosul. Isso porque o atual presidente do Uruguai, o também conservador Luis Alberto Lacalle Pou, tem feito várias críticas ao bloco.

"Nesse vácuo surgido entre sócios-fundadores, o Paraguai pode ocupar um espaço de proeminência, de destaque, ao propor uma pauta lógica, factível de discussão, que realmente veja o desenvolvimento do bloco como um fim. O Paraguai, no momento, tem uma questão muito lógica do seu papel e da sua capacidade. Certamente será importante e pode ocupar, sem dúvida alguma, um lugar de destaque mais à frente."

Neste ano, Brasil e Paraguai devem negociar a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu, que estabelece as condições de suprimento de energia, o custo do serviço de eletricidade, a receita e outras disposições que compõem as bases financeiras e de prestação dos serviços de eletricidade da empresa, constituída em igualdade de direitos e obrigações pelos dois países.
Em encontro com Lula em Brasília, no final de julho, o então presidente eleito Santiago Peña demonstrou otimismo com a possibilidade de um acordo rápido e vantajoso para as duas partes.

"O Paraguai não tem como vender a energia excedente para outros países. Talvez a Argentina, o Uruguai e o Chile comprem um pouco, mas o grande comprador é o Brasil, e isso pode facilitar esse acordo", concluiu à Sputnik Brasil Michel Alaby, diretor regional da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra) em São Paulo.

Lula e Santiago Peña em Brasília, 28 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 28.07.2023
Panorama internacional
Em reunião com Lula em Brasília, presidente do Paraguai fala sobre Itaipu e relação com China-Taiwan
Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала