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'A culpa é dos mais ricos': Lula alfineta Norte Global na ONU pelas desigualdades no mundo

© AP Photo / Mary AltafferO presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva discursa na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU na cidade de Nova York, 19 de setembro de 2023
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva discursa na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU na cidade de Nova York, 19 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2023
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Lula fez o discurso de abertura da 78ª Assembleia Geral da ONU na manhã desta terça-feira (19) em Nova York. Dentre os principais pontos de sua fala, destacaram-se críticas ao Norte Global pelas desigualdades sociais e políticas do mundo.
No início de seu discurso, Lula fez menção à falta de confiança atual na capacidade humana de vencer desafios. Como principal motivador dessa desconfiança, destacou, por exemplo, questões como a gravidade da crise climática, que vem atingindo e ceifando vidas ao redor do mundo, lembrando como exemplo a tragédia das enchentes no estado brasileiro do Rio Grande do Sul.
Outro tema também presente no discurso de Lula – como já se especulava – foi a desigualdade entre os Estados. O mandatário brasileiro aludiu aos milhões de pessoas que ainda passam fome em diversas regiões do globo, tecendo críticas ao fato de que apenas dez bilionários deteriam mais riqueza do que os 40% da parcela mais pobre do planeta.
Nesse momento, Lula lançou mão de uma interpretação propriamente estamental da sociedade humana, quando afirmou que o destino de uma criança dependerá justamente da família e do lugar em que nasceu, podendo comprometer seriamente seu acesso à saúde, a oportunidades justas e a bens básicos.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva discursa na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU na cidade de Nova York, 19 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.09.2023
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Segundo Lula, falta vontade política – sobretudo dos países mais ricos do Norte Global – para vencer a desigualdade no planeta, culpando "aqueles que governam o mundo" pelo atual estado de crise econômica e social no cenário internacional. Ao fazer uso da palavra na tribuna da ONU, o presidente brasileiro acabou destacando algumas medidas que, em sua visão, ajudariam a enfrentar o desafio da desigualdade.
Uma dessas medidas seria incluir os mais pobres no orçamento nacional dos Estados e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais aos seus patrimônios, ponto esse que esteve bastante presente em sua campanha pré-eleitoral de 2022. Não obstante, Lula também aludiu a outros problemas importantes, sobretudo de ordem nacional, ao dizer que pretende lutar pela igualdade racial na sociedade brasileira e pelo combate ao feminicídio, temas que constituem o núcleo do discurso político de seu partido.
Voltando a tecer críticas ao Norte Global, Lula afirmou mais uma vez que os países ricos cresceram economicamente por conta de altas taxas de emissão de gases danosos ao meio ambiente, o que lhes confere especial responsabilidade para lidar com o problema.
Aqui, o presidente brasileiro repetiu alguns dos pontos de seu discurso em Paris ainda nesse ano, quando mencionou que não foram os povos do Sul Global que poluíram o mundo, mas sim os países europeus que fizeram a Revolução Industrial (a exemplo: Reino Unido, França, Alemanha, Itália entre outros). São estes os países que gostam de apontar o dedo para o resto do mundo, sem primeiro ponderar sobre os próprios erros cometidos no passado quanto à gestão da questão ambiental.
Lula, por sua vez, fez lembrar que as populações do Sul Global são as que mais sofrem pela mudança no clima, enquanto os 10% mais ricos da população mundial respondem por quase metade dos fatores causadores da crise climática que vivemos hoje.
Na sequência, ao cutucar – ainda que de forma velada – os países que detêm interesses na região Amazônica, Lula afirmou que "agora a Amazona está falando por si mesma" ao invés de o mundo estar falando por ela. Incutida no âmbito dessa fala está o entendimento de que compete aos Estados que detêm a soberania sobre o território amazônico (como o Brasil) solucionar os problemas da floresta, sem a interferência estrangeira de atores externos à região.
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Desde tempos, vale lembrar, críticas europeias sobre a gestão brasileira da Amazônia, especialmente quanto a incêndios de grandes proporções na região, suscitaram no governo brasileiro uma certa desconfiança. Interpreta-se que, por detrás dessas críticas, escondem-se objetivos obscuros de questionar a soberania do Brasil sobre a sua porção do território amazônico e, com isto, justificar uma intervenção externa em assuntos domésticos do país em nome da proteção ambiental.
Seja como for, as desconfianças de Lula quanto ao Norte Global não pararam por aí. Durante seu discurso, Lula afirmou que o FMI vem ajudando mais os países europeus do que a África, por meio da liberação de direitos especiais de saque. Em vista, portanto, dessa desconfiança quanto às instituições globais de gestão financeira foi que surgiu os BRICS, que Lula definiu como uma "plataforma estratégica para a cooperação entre países emergentes", fortalecendo uma ordem mundial mais justa e plural no século XXI.
Além do mais, o presidente brasileiro teceu duras críticas ao neoliberalismo econômico, que culpou pelo desemprego e pela precarização do trabalho em diversos países, culminando em diversos problemas para essas sociedades e contribuindo para o surgimento de nacionalismos primitivos e autoritários.
Para além disso, sobraram críticas às instituições internacionais dominadas pelo Ocidente, carentes de reforma, e ao próprio Conselho de Segurança da ONU, que teria falhado em sua missão de promover uma cultura de paz entre as nações. Lula lamentou que hoje as principais potências internacionais não conseguiram fazer valer os propósitos da Carta da ONU, ampliando assim conflitos interestatais causados por disputas de influência e ambições geopolíticas.
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Por fim, o presidente brasileiro se posicionou abertamente contra a aplicação de sanções unilaterais (prática bastante utilizada por Estados Unidos e Europa) contra determinados Estados sem a aprovação da ONU, as quais prejudicam sobretudo os países em desenvolvimento mais vulneráveis do sistema. Em lugar de medidas agressivas e de coerção econômica e política, o Brasil – afirmou Lula – continua propondo o diálogo aberto e franco com todos os atores, inclusive no que diz respeito a encontrar uma solução adequada para o conflito na Ucrânia.
Na somatória de seu discurso, e mais ainda de suas críticas, Lula mostrou que há muito a se fazer para diminuir as desigualdades no mundo, assim como outras contradições fundamentais presentes atualmente no cenário internacional. No entanto, a identificação feita por Lula sobre os principais responsáveis pelos problemas que vivemos hoje é bastante clara e podemos afirmar que eles não estão no Sul Global.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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