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Analista: carreira de Zelensky está na mão de oligarcas ucranianos e da indústria militar dos EUA

© AP Photo / Eduardo MunozVladimir Zelensky, presidente da Ucrânia, diante de soldados ucranianos feridos no Hospital Universitário de Staten Island, em Nova York. EUA, 18 de setembro de 2023
Vladimir Zelensky, presidente da Ucrânia, diante de soldados ucranianos feridos no Hospital Universitário de Staten Island, em Nova York. EUA, 18 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 20.09.2023
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Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil não creem que o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, sente-se na mesa de negociações de paz após crescente desgaste de sua malsucedida contraofensiva. Isso porque, segundo um deles, o governo ucraniano é sinônimo de um "saco sem fundo" para receber dinheiro e armas do Ocidente.
Também chamou atenção a irritação e a discordância dos países da velha ordem mundial com países emergentes. Segundo um analista ouvido pela jornalista Melina Saad, da Sputnik Brasil, EUA e Europa interferem nas questões de outras nações, mas acham que o Sul Global não deve opinar sobre a questão ucraniana.
Além disso, o arranjo econômico entre Ucrânia e Estados Unidos vai bem e precisa ser mantido porque é extremamente lucrativo para ambas as partes, conforme nota Eden Pereira Lopes da Silva, analista internacional e doutor em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"A posição de Zelensky [sobre tratativas de paz] não mudou e dificilmente deve mudar. A carreira política dele está nas mãos de oligarcas ucranianos e do complexo industrial militar dos Estados Unidos, cujo papel foi e está sendo cumprido com sucesso. Ao mesmo tempo, quando a sua posição já não for mais tão importante para a estratégia conduzida por Washington na Ucrânia, o apoio a uma mudança nos rumos, e mesmo na direção política do Estado, poderá ser diretamente estimulado. Isso pode vir a acontecer na medida em que o contínuo suporte militar e político ocidental não gere resultados concretos no campo de batalha", aponta.

Entretanto Pereira alerta que "isso é um círculo vicioso".
Segundo ele, se Zelensky for completamente abandonado enquanto os Estados Unidos negociam uma desescalada no conflito com a Rússia, a imagem seria a de que os ucranianos foram derrotados e que todo o suporte e sacrifício foi inútil, e deixaria os russos como vencedores.
Isso é inadmissível para os membros da administração de Joe Biden, prossegue o professor, que já está marcada pela retirada desastrosa do Afeganistão e que está às vésperas de uma dura eleição presidencial em 2024.
Ele afirma que a Ucrânia ser capaz de derrotar os russos ou não sempre foi uma questão secundária, e hoje é ainda mais.

"Essa tendência momentânea favorece a posição de Zelensky, que precisa pedir cada vez mais recursos financeiros e militares. A situação econômica e estratégica de Kiev perante a Rússia, que em fevereiro de 2022 já era bastante grave, piorou na medida em que a evolução do conflito sugou tudo o que a Ucrânia possuía. Ao referido saco sem fundo, que conhecemos como governo ucraniano, e aos Estados Unidos não resta escolha. Essa estrutura, lucrativa para os dois lados, precisa ser mantida e sustentada custe o que custar."

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Mundo cindido

Tito Lívio Barcellos Pereira, geógrafo, mestre em estudos estratégicos da defesa e segurança e doutorando em relações internacionais do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, vê os países ocidentais e o Sul Global divididos em relação ao conflito, às suas implicações e à sua extensão.

"Para os países do chamado primeiro mundo, o conflito foi causado por uma decisão unilateral do governo da Federação da Rússia, que, em suas visões, quer anexar territórios na Ucrânia por questões históricas da elite russa. Mas para os países emergentes a interpretação é diferente: eles não concordam que essa guerra tem um único responsável e [acham] que só através de uma resolução política, diplomática, a construção de um novo regime de segurança europeu e atlântico permitirá que não necessariamente uma paz, mas uma estabilidade estratégica retorne ao ambiente regional."

Isso, de acordo com ele, tem base no governo de Zelensky, que tomou uma série de atitudes políticas: orientou a sua política externa visando a uma integração unilateral à União Europeia e, principalmente, à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que é percebida pela Rússia como uma ameaça.
"Uma relíquia da Guerra Fria, uma aliança militar feita para defender a Europa de uma ameaça soviética e que permanece até os dias atuais, mesmo com o fim da disputa bipolar. A Ucrânia na OTAN traria a infraestrutura militar estratégica da aliança para as fronteiras da Rússia", avalia.
Presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, durante a 78ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, nos EUA - Sputnik Brasil, 1920, 20.09.2023
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Nesse caldeirão geopolítico, ele lembra que os países que financiam a Ucrânia não estão sendo bem-sucedidos em convencer a comunidade internacional a se engajar pela causa ucraniana e isolar a Rússia, que era o objetivo final deles.
Os países emergentes e os demais países em desenvolvimento não apenas consideram que a responsabilidade do conflito é compartilhada com o Ocidente, como também não aderiram às sanções, ao embargo econômico, político e cultural que a Rússia vem sofrendo.

"Tanto europeus quanto norte-americanos adoram interferir em problemas dos outros, mas acham que o Sul Global não deve se meter na questão ucraniana. Mas ficou claro e evidente que a Rússia conseguiu contornar o embargo internacional e mantém um crescimento macroeconômico. A maioria dos países, e estamos falando de mais da metade da população mundial, não se importa de continuar mantendo relações com a Rússia", observa.

Biden em apuros?

O historiador e tradutor Rodrigo Ianhez lembra que o apoio à Ucrânia pode custar caro a Joe Biden e suas pretensões de reeleição nos EUA, em 2024.
Embora a economia americana esteja em uma posição muito mais favorável que a da Europa em relação às consequências desse conflito, ela foi afetada e a inflação bateu recordes das últimas décadas.
De acordo com sua avaliação, isso afeta a possibilidade de Biden realizar uma campanha bem-sucedida, mesmo porque o adversário, Donald Trump, coloca a Ucrânia no centro do debate e tem uma posição totalmente contrária à de Biden.

"Aquelas pessoas que associarem os seus problemas econômicos, [os problemas] que o mundo vem sofrendo, que o Ocidente vem sofrendo (e os Estados Unidos não são uma exceção) [ao conflito], essas pessoas vão evidentemente se influenciar por essa posição quanto à guerra na Ucrânia, que está no centro das razões pelas quais estão vivenciando uma crise econômica desde o ano passado."

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