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Zona de paz no Atlântico Sul estreitou relações entre Marinhas do Brasil e de países africanos

© Tânia Rêgo/Agência BrasilFragata Independência (F-44) retorna ao Brasil após concluir missão de paz. Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2020
Fragata Independência (F-44) retorna ao Brasil após concluir missão de paz. Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 13.10.2023
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Era 1986 quando, sob a liderança do Brasil, nascia um tratado de cooperação inédito para evitar a proliferação de armas nucleares e reduzir a presença militar de outros países na porção sul do Atlântico. Passados 37 anos, a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas) ajudou a estreitar a cooperação brasileira com países da costa africana.
O capitão de mar e guerra da reserva da Marinha e mestre em ciências navais Francisco Eduardo Neves Novellino ressaltou à Sputnik Brasil as conquistas trazidas pelo tratado nas últimas décadas.
Segundo Novellino, a atuação da Zopacas voltou com força total após a pandemia, depois de um período sem muitas atividades.
Como exemplo, ele cita o último exercício anual realizado com a Guiné, que também envolveu a Costa do Marfim, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Camarões e Nigéria. Além do Brasil e de países africanos, o tratado conta com a participação da Argentina e do Uruguai.

"Nesses exercícios tudo é simulado, como o inimigo ou uma emergência. Já as operações podem envolver exercícios simulados ou não. Podemos fazer uma vistoria, vamos em grupo-tarefa e inspecionamos um navio. A Marinha do Brasil, nessa cooperação, também realiza missões navais, mantém diversas formas de interação com outras forças navais", explica.

Todas as ações, pontua Novellino, sempre são realizadas em conjunto com o Itamaraty.
Para o especialista em poder naval, o Brasil precisa olhar cada vez mais o Atlântico Sul como uma bacia de seu interesse, intensificando ainda mais a sua atuação.

"É como os Estados Unidos olham para o Atlântico Norte. Não é à toa que é o maior líder da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. Não pretendemos criar uma nova [entidade], isso não é necessário, mas precisamos fortalecer a Zopacas. O nosso problema e da África, antes de serem políticos e militares, são econômicos. Precisamos desenvolver essa região", ressalta.

Apesar disso, o capitão da reserva pontua que o Brasil já tem uma atuação forte com a Marinha de países do continente africano. Como exemplo, Novellino citou a participação ativa na Namíbia, quando o Brasil foi contratado na década de 1990 para ajudar a formar a força naval do território. "Na época eles não tinham a Marinha. Hoje possuem comandante, almirante, chefe de Estado Maior, de operações navais. Mas o que o Brasil fez? Pegamos uma corveta antiga e doamos para eles. Os oficiais vieram aqui, foram treinados", diz.
Segundo ele, muitos podem questionar o motivo de doar esses bens e não vender, mas o especialista conta que há toda uma estratégia militar. "Os Estados Unidos também nos deram vários navios, a preço de banana. A França também, na década de 1990, com um navio-aeródromo. Ninguém é bonzinho. Quando você entrega um sistema a uma força armada de outro país, ele fica dependente de você em termos de adestramento, logística, uma série de coisas. Você cria um vínculo, e isso é muito bom. E para a gente não custa nada", enfatiza.

Formação de militares da Marinha

Para além da cooperação tecnológica e estratégica, o Brasil apoia a formação de almirantes e oficiais da Marinha dos países africanos. "Atualmente mesmo, o Brasil hospeda um oficial de Camarões e outro da Namíbia, que provavelmente serão os futuros comandantes", acrescenta.
Tudo isso também ajuda, segundo o especialista, na segurança de todo o Atlântico Sul contra a atuação de piratas e do tráfico, trabalho que também é realizado pelas Marinhas dos Estados Unidos e da França.

"O Brasil tem uma tradição diferenciada até dentro da América do Sul nessa questão de estabilidade de instituições. Apesar de toda a história republicana ter várias intervenções militares, não é o DNA dos nossos oficiais. Nós sempre temos essa visão de promover, através da água, a boa vizinhança. A visão da Marinha é muito profissional. Creio que esses oficiais que foram formados aqui adquirem essa visão profissional de atuação e emprego do poder naval sem se preocupar muito com a questão política", completa.

Marinha é um 'Itamaraty flutuante'

Já o comandante Robinson Farinazzo, oficial da reserva da Marinha e apresentador do canal Arte da Guerra, lembra que a instituição brasileira é vista como um "Itamaraty flutuante" por ampliar as boas relações do Brasil com países amigos, tanto na África quanto em outros continentes.
O especialista ainda ressalta a atuação das forças de paz do Brasil na região, como na Missão da Organização das Nações Unidas para a Estabilização na República Democrática do Congo (Monusco).
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"Em relação à África, é importante destacar que o continente tem um enorme potencial econômico. Já possui uma população na casa dos bilhões e é uma região rica em recursos naturais, oferecendo um mercado consumidor relevante para as exportações brasileiras. Além disso, a proximidade geográfica torna a África um destino natural para os nossos negócios e interesses comerciais. Compartilhamos preocupações sobre a segurança no Atlântico e atuamos no combate à pirataria e outras ameaças", argumenta.

Conforme Farinazzo, a troca de conhecimento entre as instituições também é valiosa, já que permite adquirir novas estratégias e aprimoramento profissional. "Por exemplo, o militar de uma Marinha africana que está acostumado a operar em sua região traz um conhecimento especializado das condições locais e dos procedimentos de navegação", diz.
Tudo isso ainda foi mais intensificado desde a criação da Zopacas, zona que cobra mais de 20% da superfície terrestre e tem participação de 24 países, concluiu o especialista.
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