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Hermanos, pero no mucho: as idas e vindas da aliança estratégica entre Brasil e Argentina
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Sputnik Brasil
O estabelecimento de uma relação estratégica com a Argentina fez parte do arcabouço político de diversos governos brasileiros ao longo do tempo, desde Fernando... 25.10.2023, Sputnik Brasil
2023-10-25T15:37-0300
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Por mais que próximos geográfica e culturalmente, importantes diferenças nas visões de mundo das lideranças de Brasil e Argentina foram capazes — em diversas ocasiões — de colocá-los em rotas distintas do ponto de vista de política externa.Quanto aos dois primeiros mandatos do governo Lula (2003–2010), as relações entre Brasil e Argentina apresentaram bastante proximidade, sobretudo em temas como: a consolidação da América do Sul como um polo de poder global, a priorização das relações Sul-Sul e a luta pela autonomia política regional diante dos Estados Unidos.Contudo, diferentemente da Argentina, o Brasil de Lula acabou caminhando de forma mais assertiva no sentido de defender uma ordem mundial multipolar, através de sua cooperação com potências importantes como China, Rússia e Índia no âmbito do BRICS, com o Brasil sendo o único país latino-americano a participar do agrupamento.O governo de Dilma Rousseff, por sua vez, deu continuidade às principais linhas gerais da política externa de Lula, porém com menos entusiasmo que seu antecessor, ainda que o Brasil tenha mantido uma conduta de protagonismo em fóruns como o G20 e o próprio BRICS.Diferentemente da Argentina, que no período vivenciava problemas econômicos sérios em âmbito doméstico, o Brasil de Dilma seguiu sozinho em sua campanha para conseguir um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, por exemplo, sob a pretensão de representar toda a América Latina.Tal empreitada, por sua vez, não foi unanimemente chancelada pelos formuladores de políticas em Buenos Aires, que à época enxergavam no Brasil uma liderança regional hesitante. Por outro lado, o governo Dilma também demonstrou um viés propriamente revisionista das instituições internacionais de governança global, como era o caso do FMI, que, em última análise, interessava à Argentina, dado que o país durante os anos 2000 havia se endividado perante a instituição.Não obstante, conforme discurso inaugural do primeiro chanceler de relações internacionais da administração Dilma, Antonio Patriota, para o Brasil a Argentina encontrava-se no centro da construção de um lugar especial para a América do Sul no mundo. Nesse ínterim, enquanto Dilma compartilhou mandato com sua homóloga Cristina Kirchner (2007–2015), as duas presidentes tiveram vários encontros e visitas presidenciais que evidenciaram um clima de bastante cordialidade nas relações entre as duas lideranças.Todavia, com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a chegada ao poder de Jair Bolsonaro em 2019, Brasil e Argentina viveriam um sucessivo período de estranhamento. Isso porque de início Bolsonaro voltou suas atenções para o estabelecimento de relações mais próximas com os Estados Unidos de Donald Trump, deixando de lado iniciativas regionais nas quais o país participava juntamente com a Argentina, como é o caso da CELAC, abandonada pelo Brasil em 2020.Apesar de posições econômicas coincidentes com as do presidente argentino Mauricio Macri (2015–2019) — maior liberalização e menor participação do Estado na economia — Bolsonaro não somente deslocou o Mercosul de sua posição prioritária na agenda política do Itamaraty, como também reduziu o perfil estratégico das relações com Buenos Aires.Seja como for, a vitória eleitoral de Joe Biden em 2020 mudou alguns aspectos da política exterior do governo brasileiro, implicando inclusive em mudanças no gabinete de Jair Bolsonaro, entre elas a retirada do antigo chanceler Ernesto Araújo, que foi substituído pelo mais moderado diplomata de carreira Carlos França.Araújo, vale lembrar, havia contribuído justamente para esfriar a relação do Brasil com os países vizinhos, entre eles a Argentina, que passou a aumentar as exportações de seus produtos para o mercado chinês em detrimento do brasileiro. Já com Alberto Fernández (2019–presente) à frente da Casa Rosada, aprofunda-se o estranhamento entre as duas lideranças, pelo menos até o retorno de Lula à presidência do Brasil em 2023.Lula e Fernández, por sua vez, mantêm um diálogo político próximo — e também mais alinhado, com enfoque em uma retórica em defesa do Sul Global e em prol de uma América Latina independente, por meio justamente do fortalecimento de instituições regionais como a Unasul, o Mercosul e a CELAC, para a qual o Brasil acabou retornando em 2023.Hoje a aproximação ou o estranhamento entre Brasil e Argentina dependerá fundamentalmente do resultado das urnas no segundo turno das eleições presidenciais na Argentina.Em caso de vitória de Sergio Massa, candidato do atual governo, espera-se uma continuidade das relações cordiais e da cooperação com o atual mandatário brasileiro, mantendo-se assim linhas similares de política externa e de atuação regional tanto no Mercosul quanto em demais iniciativas sul-americanas.Diante de uma vitória de Massa, o mais provável é esperar por um fortalecimento da posição negociadora de blocos como o Mercosul perante a União Europeia, e também pela entrada da Argentina no BRICS em 2024.Entretanto, em caso de vitória de Javier Milei, novamente presenciaremos um desencontro de agendas e de visões entre a política externa argentina e a brasileira.Milei provavelmente bloqueará a entrada da Argentina no BRICS, grupo que vê com bastante ceticismo, além de rejeitar a política universalista e multilateralista do Brasil, com Buenos Aires devendo adotar negociações bilaterais com parceiros selecionados, sobretudo com os norte-americanos, e afastando-se da China.Do resultado das eleições no país vizinho, portanto, saberemos se Brasil e Argentina se manterão próximos em termos de política externa ou se seguirão separados na defesa de seus interesses nacionais, diante de um cada vez mais conturbado cenário internacional.As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
https://noticiabrasil.net.br/20231020/analise-eleitores-argentinos-reeditam-insatisfacao-com-a-elite-politica-vista-no-brasil-e-nos-eua-30932596.html
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Hermanos, pero no mucho: as idas e vindas da aliança estratégica entre Brasil e Argentina
15:37 25.10.2023 (atualizado: 09:12 01.11.2023) Especiais
O estabelecimento de uma relação estratégica com a Argentina fez parte do arcabouço político de diversos governos brasileiros ao longo do tempo, desde Fernando Henrique Cardoso até a atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, por vezes, ambos os países preferiram seguir seus caminhos de forma isolada na arena internacional.
Por mais que próximos geográfica e culturalmente, importantes diferenças nas visões de mundo das lideranças de Brasil e Argentina foram capazes — em diversas ocasiões — de colocá-los em rotas distintas do ponto de vista de política externa.
Quanto aos dois primeiros mandatos do governo Lula (2003–2010), as relações entre Brasil e Argentina apresentaram bastante proximidade, sobretudo em temas como: a consolidação da América do Sul como um polo de poder global, a priorização das relações Sul-Sul e a luta pela autonomia política regional diante dos Estados Unidos.
Contudo, diferentemente da Argentina, o Brasil de Lula acabou caminhando de forma mais assertiva no sentido de defender uma ordem mundial multipolar, através de sua cooperação com potências importantes como China, Rússia e Índia
no âmbito do BRICS, com o Brasil sendo o único país latino-americano a participar do agrupamento.
20 de outubro 2023, 10:00
O governo de
Dilma Rousseff, por sua vez, deu continuidade às principais linhas gerais da política externa de Lula, porém com menos entusiasmo que seu antecessor, ainda que o Brasil tenha mantido uma conduta de
protagonismo em fóruns como o G20 e o próprio BRICS.
Diferentemente da Argentina, que no período vivenciava problemas econômicos sérios em âmbito doméstico, o Brasil de Dilma seguiu sozinho em sua campanha para conseguir um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, por exemplo, sob a pretensão de representar toda a América Latina.
Tal empreitada, por sua vez, não foi unanimemente chancelada pelos formuladores de políticas em Buenos Aires, que à época enxergavam no Brasil uma liderança regional hesitante. Por outro lado, o governo Dilma também demonstrou um viés propriamente revisionista das instituições internacionais de governança global, como era o caso do FMI, que, em última análise, interessava à Argentina, dado que o país durante os anos 2000 havia se endividado perante a instituição.
Não obstante, conforme discurso inaugural do primeiro chanceler de relações internacionais da administração Dilma,
Antonio Patriota, para o Brasil a Argentina encontrava-se no centro da construção de um lugar especial para a América do Sul no mundo. Nesse ínterim, enquanto Dilma compartilhou mandato
com sua homóloga Cristina Kirchner (2007–2015), as duas presidentes tiveram vários encontros e visitas presidenciais que evidenciaram um clima de bastante cordialidade nas relações entre as duas lideranças.
Todavia, com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a chegada ao poder de Jair Bolsonaro em 2019, Brasil e Argentina viveriam um sucessivo período de estranhamento. Isso porque de início Bolsonaro voltou suas atenções para o estabelecimento de relações mais próximas com os Estados Unidos de
Donald Trump, deixando de lado iniciativas regionais nas quais o país participava juntamente com a Argentina,
como é o caso da CELAC, abandonada pelo Brasil em 2020.
Apesar de posições econômicas coincidentes com as do presidente argentino
Mauricio Macri (2015–2019) — maior liberalização e menor participação do Estado na economia — Bolsonaro não somente deslocou o Mercosul de sua posição prioritária na
agenda política do Itamaraty, como também reduziu o perfil estratégico das relações com Buenos Aires.
Seja como for, a vitória eleitoral de
Joe Biden em 2020 mudou alguns aspectos da política exterior do governo brasileiro, implicando inclusive em mudanças no gabinete de
Jair Bolsonaro, entre elas a retirada do antigo
chanceler Ernesto Araújo, que foi substituído pelo mais moderado diplomata de carreira Carlos França.
Araújo, vale lembrar, havia contribuído justamente para esfriar a relação do Brasil com os países vizinhos, entre eles a Argentina, que passou a aumentar as exportações de seus produtos para o mercado chinês em detrimento do brasileiro. Já com Alberto Fernández (2019–presente) à frente da Casa Rosada, aprofunda-se o estranhamento entre as duas lideranças, pelo menos até o retorno de Lula à presidência do Brasil em 2023.
Lula e Fernández, por sua vez, mantêm um diálogo político próximo — e também mais alinhado, com enfoque em
uma retórica em defesa do Sul Global e em prol de uma América Latina independente, por meio justamente do fortalecimento de instituições regionais como a Unasul, o Mercosul e a CELAC, para a qual o Brasil acabou retornando em 2023.
Hoje a aproximação ou o estranhamento entre Brasil e Argentina dependerá fundamentalmente do resultado das urnas no segundo turno das eleições presidenciais na Argentina.
Em caso de vitória de Sergio Massa, candidato do atual governo, espera-se uma continuidade das relações cordiais e da cooperação com o atual mandatário brasileiro, mantendo-se assim linhas similares de política externa e de atuação regional tanto no Mercosul quanto em demais iniciativas sul-americanas.
Diante de uma vitória de Massa, o mais provável é esperar por um fortalecimento da posição negociadora de blocos como o Mercosul perante a União Europeia, e também pela entrada da Argentina no BRICS em 2024.
Entretanto, em caso de vitória de
Javier Milei, novamente
presenciaremos um desencontro de agendas e de visões entre a política externa argentina e a brasileira.
23 de outubro 2023, 10:21
Milei provavelmente
bloqueará a entrada da Argentina no BRICS, grupo que vê com bastante ceticismo, além de rejeitar a política universalista e multilateralista do Brasil, com Buenos Aires devendo adotar negociações bilaterais com parceiros selecionados,
sobretudo com os norte-americanos, e afastando-se da China.
Do resultado das eleições no país vizinho, portanto, saberemos se Brasil e Argentina se manterão próximos em termos de política externa ou se seguirão separados na defesa de seus interesses nacionais, diante de um cada vez mais conturbado cenário internacional.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.