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Além do Oriente: Brasil está pronto para possível baque econômico da guerra em Gaza?

© AFP 2023 / Evaristo SaO presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, fala durante o lançamento do Programa Combustível do Futuro, no Palácio do Planalto. Brasília, 14 de setembro de 2023
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, fala durante o lançamento do Programa Combustível do Futuro, no Palácio do Planalto. Brasília, 14 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 27.10.2023
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A economia global observa atenta os atores que podem se envolver militarmente, o que alteraria de maneira drástica o fluxo econômico entre muitos países. Se for o caso, como fica o Brasil? A Sputnik Brasil entrevistou especialistas para entender como a economia brasileira pode ser afetada pela guerra entre Israel e o Hamas.
No início do confronto entre Israel e Hamas, no dia 7 de outubro, os olhos do mundo também se voltaram para a matéria-prima mais afetada durante as guerras: o petróleo. O preço do barril de petróleo do tipo brent, usado como referência global, aumentou 5,22% e chegou a US$ 89 [R$ 458] no início deste mês. Hoje (27), o barril custa o mesmo valor. O preço engloba diversos fatores: reação e envolvimento internacional na guerra, preparação política dos países e capacidade de mediação dos produtores.
Dentro do panorama de produção, tanto Israel quanto a Palestina não são produtores de óleo, mas nações como a Arábia Saudita e o Irã — que cada vez mais caminham para o rumo de intervenção armada no conflito — podem afetar o mercado, fazendo uso do petróleo como uma forma de pressionar os participantes do conflito.
No que isso afeta o Brasil? Há possibilidade de crise? Em conversa com a Sputnik Brasil, a professora e coordenadora do departamento de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Juliana Inhasz, observa o cenário com cautela, assinalando que não há motivo para pânico.

"Não acho que exista hoje uma desestabilização financeira internacional em curso. O conflito ainda é muito recente. Eu acho que o Brasil, na verdade, está olhando o hoje e está entendendo que ele não pode fazer sanções, pelo menos. Porque se ele fizer sanções, […] prejudica um cenário econômico que já não é favorável", explica Inhasz.

A política brasileira já vinha debatendo a questão do preço da matéria-prima e como isso afetava o cenário nacional, estipulando uma nova política de preços. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em declaração pública, pontuou que a nova política considera os gastos da empresa com o uso de moeda nacional, "passando no teste", e defendeu o recente reajuste no preço da gasolina, dizendo que "passou no teste".
Desde 2017, a estatal utilizava os preços de paridade de importação (PPI), que se baseia em valores dolarizados de empresas que exportam combustíveis ao Brasil.
Agora, o preço dos combustíveis é calculado principalmente observando o local de produção e o destino, entre milhares de outras variáveis, dentre as quais constam também o PPI. Para o presidente da Petrobras, o modelo foi resgatado por tornar mais justo o preço ao consumidor final.

"[O modelo] envolve 40 mil equações diferentes, com programação linear. Onde o cliente estiver é possível [] fazer a simulação de qual o melhor modal, o melhor óleo pra colocar na refinaria mais próxima. A Petrobras tem esse modelo desenvolvido há décadas e é para ser usado", concluiu Prates.

O maior efeito da guerra deve ser, portanto, sobre o diesel, mas a nova política de preços pode ajudar a conter uma possível crise, já que se baseia longe da "paridade internacional", como reafirmou o presidente.

Conflitos militares anteriores geram insegurança para o futuro

A preocupação da possibilidade de expansão da guerra é importante. Durante a Guerra dos Seis Dias (1967) ou a Guerra do Yom Kippur (1973), por exemplo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) se uniu contra o apoio americano e europeu a Israel, e seus membros impuseram corte na produção e no embargo às exportações, elevando os preços do petróleo a recordes para aquela época.
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Porém, o contexto atual é diferente, o que gera menos preocupações. À época, o Brasil importava cerca de 90% de seu consumo de petróleo, o que não acontece hoje, visto que o país exporta mais petróleo do que importa, com o petróleo sendo a segunda maior fonte de ingresso de receitas do exterior para o Brasil, ficando atrás apenas da soja.
Em conversa com a Sputnik Brasil, o coordenador do curso de ciência política da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Thales Castro, pontuou que a política econômica depende crucialmente da definição da posição pública tomada pelo Brasil, visto que o mundo se mostra cada vez mais "hiperpolarizado, causando inflamação para todos os lados".

"Toda mediação de paz […] tem substancialmente o duplo significado: o político diplomático e o simbólico. Quando o Brasil busca uma mediação, ele está, de fato, dando a sinalização de sua orientação de política externa. E eu não vejo particularmente um contexto específico de crise no campo econômico não", completa Castro.

Expansão do BRICS+ e desejo de paz acalmam o cenário brasileiro

Para os especialistas, a maior preocupação em relação ao conflito é se a escalada de violência irá se manter restrita aos territórios de Israel e dos palestinos (Faixa de Gaza e Cisjordânia) e se o Irã — que tem papel fundamental na gestão no transporte do petróleo pelo Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 30% do produto consumido no mundo — se envolverá militarmente.
No caso do BRICS+, o cenário é de maior margem de manobra, visto que, dada a sua importância para a gestão da economia mundial, fica difícil criar animosidades internacionais que consequentemente afetam a economia.

"No caso [da China], por exemplo, é muito difícil fazer o que os Estados Unidos fizeram: a tentativa de criar espaços e animosidades para que outros países cortassem relações com a China. Hoje, todo mundo depende da China", completa Inhasz.

Para Castro, a "economia interna brasileira deverá buscar meios de não ser impactada de forma extrema, coisa que pode acontecer com qualquer país", visto que o BRICS+ "ainda não está muito coeso", mas se aproxima fortemente, em especial "a Rússia e a China, que compõem um eixo de cooperação e fraternidade, como visto na Cúpula da Rota da Seda".
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As eleições dos EUA podem afetar o cenário internacional também, principalmente pela possibilidade de sanções e pressões organizadas por países que observam os EUA como um adversário econômico direto.
O presidente Joe Biden enfrenta, com a ajuda contínua do país a Israel, o maior déficit orçamentário fiscal do governo dos Estados Unidos, que cresceu em US$ 320 bilhões (R$ 1,6 trilhão), um aumento de 23%, atingindo o montante de US$ 1,7 trilhão (cerca de R$ 8,6 trilhões) em 2023.
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A elevação do barril de petróleo, por exemplo, traria danos à economia norte-americana, aumentando a inflação, o preço do combustível, a taxa de juros e a baixa do crescimento da economia interna. Ao Brasil, esse cenário não se aplica, visto que mantém boas relações tanto com a Rússia quanto com a China. Do período de janeiro a agosto deste ano, por exemplo, 74% do diesel importado pelo Brasil veio da Rússia, com descontos significativos.
A produção de petróleo brasileiro, que bateu recorde em cerca de 4,3 milhões de barris por dia em 2023, deverá ultrapassar a marca dos 5 milhões na próxima década, segundo estimativas. De acordo com o presidente da Petrobras, a gasolina e o diesel podem ser afetados no Brasil, pois o país depende da importações dos dois derivados.
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Um preço de petróleo mais alto no mercado internacional, portanto, pode elevar a inflação no Brasil, mesmo não sendo a preocupação principal — ainda se considerado o preço do barril, que se mantém estável e, dentro das estimativas esquematizadas pelo governo, ainda não variou muito.
Segundo a professora Juliana Inhasz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não tem margem de manobra o suficiente para ousar" nas negociações de paz e nos posicionamentos internacionais, pois isso afeta a política interna.

"A gente está numa economia que este ano vai crescer por volta de 3%, muito pelo aumento do gasto do governo, mas que para o ano que vem tem que se virar para conseguir ficar dentro das metas que eles mesmos estabeleceram […]. O governo Lula deveria estar muito atento ao fato de que Lula é uma peça importante para essas negociações de bases de apoio. Se ele sai dessa frente, estamos com um trem sem condutor", explica.

Ainda segundo Prates, o Brasil agora precisa esperar, visto que "não tem que fazer muito mais do que a gente já está fazendo". Para isso, segundo a autoridade, é necessário "ter a habilidade de ir acompanhando os preços, principalmente do diesel, e ir se organizando de acordo com isso", pois "se tiver que haver ajuste, a gente vai fazer ajuste", completou.
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