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Chamas da vingança: o fator Hezbollah no conflito Israel-Palestina e a eclosão da guerra regional

© AP Photo / Bilal HusseinMilitante do Hezbollah em torre de vigilância
Militante do Hezbollah em torre de vigilância - Sputnik Brasil, 1920, 31.10.2023
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Após os ataques do Hamas em 7 de outubro, militares israelenses fixaram suas atenções para a Faixa de Gaza. No entanto, na fronteira norte com o Líbano novas ameaças, como o Hezbollah, vêm ganhando corpo, prometendo transformar o conflito Israel-Palestina em uma verdadeira guerra regional.
Fato é que desde as primeiras semanas de outubro, o grupo Hezbollah (sediado no Líbano) prometeu apoiar o Hamas, ameaçando inclusive abrir uma segunda frente contra Israel em sua fronteira norte. Como resposta, o governo de Tel Aviv já chegou a trocar mísseis com o grupo, vitimando soldados de ambos os lados.
Em vista desse cenário, populações no sul do Líbano encontram-se em preparação para a ampliação das hostilidades na região. O Hezbollah, vale lembrar, possui cerca de 130 mil foguetes e mísseis sob seu poder, representando uma força militar ainda mais perigosa do que o Hamas em diversos aspectos.
Dado esse extenso arsenal, o grupo pode causar sérios danos às defesas aéreas israelenses e até mesmo a infraestruturas críticas controladas por Tel Aviv. Israel, por sua vez, tem se preparado para uma escalada também ao norte e conta com o apoio irrestrito das potências ocidentais e sobretudo dos Estados Unidos para atuar da forma que imaginar conveniente aos seus objetivos.
O líder do Hezbollah no Líbano, Sayyed Hassan Nasrallah, encontra-se com o secretário-geral da Jihad Islâmica, Ziad al-Nakhala, e o vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri, 25 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 25.10.2023
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Outras potências internacionais, como Rússia e China, por outro lado, têm demonstrado visível consternação com a resposta desproporcional de Israel em Gaza, cujos constantes bombardeios têm transformado diversas áreas em um verdadeiro tapete de ruínas.
Não raro, vídeos circulando nas redes sociais, assim como em canais oficiais e não oficiais de notícias, vêm relatando a tragédia das vítimas dos ataques israelenses, fomentando interpretações, sobretudo no mundo árabe e no Sul Global, de que Israel age sem consideração pelas perdas humanas causadas pelas suas ações.
Como se não bastasse atacar bairros inteiros em Gaza, os militares israelenses preparam-se para uma invasão terrestre total da região, o que tem causado um êxodo descontrolado de civis e pânico em diversas partes do enclave palestino. O objetivo das operações anunciado por Tel Aviv é o de destruir o potencial ofensivo do Hamas, entretanto tal justificativa tem sofrido muitas críticas devido às dificuldades implicadas em sua execução.
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Isso porque o Hamas possui cerca de 40 mil soldados altamente treinados e conta com uma rede gigantesca de túneis subterrâneos ao longo da Faixa de Gaza. Ademais, a Faixa de Gaza é uma área urbana densamente populada, o que faz com que qualquer ação militar por parte de Israel na região acabe invariavelmente vitimando inúmeros civis sem qualquer ligação com o Hamas.
Logo, com o número de palestinos mortos aumentando de forma exponencial a cada dia, Israel vem causando mais e mais indignação nos países árabes em seu entorno. Enquanto isso, o Hamas não é o único ator que possui pretensões de vingança para com Israel. Afinal, países como o Irã têm sido bastante ativos no financiamento e no apoio logístico a grupos como o Hezbollah pelo menos desde a década de 1990.
Com o apoio iraniano, por sua vez, o Hezbollah cresceu de um pequeno bando de rebeldes desorganizados para se tornar uma poderosa força de combate com cerca de 100 mil homens, mais de duas vezes o número de combatentes do Hamas. Não obstante, combatentes do Hezbollah participaram de diversos combates na Síria, no Iraque e no Iêmen ao longo dos últimos anos, aumentando significativamente sua experiência em batalhas.
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Sua capacidade para um conflito sustentado com Israel, portanto, ofusca em muitas vezes a do próprio Hamas, que, se estiver em vias de ser subjugado, vai provocar a intervenção do Hezbollah (e consequentemente do Irã) no conflito, transformando-o numa guerra de proporções regionais.
Ao mesmo tempo, durante a atual fase das hostilidades, tanto o Hezbollah como o Irã, que não possuem condições de auxiliar fisicamente o Hamas em Gaza, podem recorrer à utilização de drones (como o Shahed) para atacar forças israelenses em diversas partes do país.
No mais, vale lembrar que, ao visitar o Líbano no início deste mês, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, já havia deixado clara a possibilidade de Teerã abrir uma segunda frente contra Israel caso o bloqueio de Gaza continuasse, com o Hezbollah se juntando à luta armada contra o governo de Tel Aviv.
Em tal situação, Benjamin Netanyahu se veria exposto a duas frentes de batalha simultâneas, ao sul (envolvendo o Hamas) e ao norte (envolvendo o Hezbollah), o que explica a manobra estadunidense de enviar dois porta-aviões para o Mediterrâneo, em uma demonstração da prontidão de Washington para intervir caso necessário.
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Enquanto isso, a Síria, que faz fronteira com Israel pelo norte, pode servir de posto avançado para o Irã posicionar equipamentos militares direcionados contra Israel. Do território sírio, aliás, tropas do Hezbollah são capazes de atacar Israel a partir das Colinas de Golã, o que marcaria um ponto de não retorno para o conflito.
Em suma, enquanto o Hezbollah se vê disposto a retaliar Israel por suas ações em Gaza, a contagem de corpos resultante dos ataques aéreos na região vai aumentando. Ao mesmo tempo, Israel envia milhares de soldados para a fronteira com o sul do Líbano, preparando-se para uma provável escalada militar com o Hezbollah.
Para o mundo, Tel Aviv justifica suas operações como essenciais para a destruição do Hamas e em prol da libertação dos reféns israelenses capturados no dia 7. Do outro lado, o Hamas continua a atacar alguns bairros israelenses por meio de foguetes lançados da Faixa de Gaza, como forma de retaliação às operações de Israel e às mortes de palestinos causadas pelos bombardeios recentes.
Em se prologando esse cenário, o Oriente Médio continuará marcado por paisagens apocalípticas compostas de ruínas, estilhaços e ódio recíproco. Logo as imagens de escombros e de prédios destruídos, alguns deles em chamas, continuarão a circular por diversos cantos da Internet e das redes sociais.
Ao passo que o mundo acompanha essa tragédia humana, uma triste convicção vai se formando: há incêndios que são impossíveis de apagar. E infelizmente o Oriente Médio está repleto deles. Trata-se de incêndios formados pelas chamas da vingança.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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