- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

EUA na encruzilhada: financiar Arábia Saudita ou deixar a China se aproximar de país árabe?

© Sputnik / Stringer / Acessar o banco de imagensO presidente dos EUA, Joe Biden, e sua esposa Jill durante uma reunião com o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, na Casa Branca.
O presidente dos EUA, Joe Biden, e sua esposa Jill durante uma reunião com o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, na Casa Branca. - Sputnik Brasil, 1920, 02.11.2023
Nos siga no
Especiais
Em conversa com a Sputnik Brasil, especialistas analisaram a nova posição dos EUA no xadrez geopolítico global em relação à Arábia Saudita: se aproximarem de vez ou verem os chineses tomarem a dianteira?
Os EUA e a Arábia Saudita conservam relações históricas de aproximação, o que ajudou a fortalecer a presença norte-americana no Oriente Médio.
Com o conflito entre Israel e Hamas, o cenário entrou em ebulição: os EUA perderam influência na região, na mesma medida que a China se tornou um pivô de defesa do cessar-fogo no confronto, aproximando-se da Arábia Saudita e outros países.
O governo da Arábia Saudita propôs aos líderes americanos, como garantia de reaproximação de Israel, o desenvolvimento de um projeto conjunto para construir um programa civil de energia nuclear no país. O projeto – chamado de "Aramco nuclear" – tem como objetivo explorar o potencial de exportação energia atômica, e é de cunho pacífico, segundo os sauditas.
Míssil nuclear (imagem referencial) - Sputnik Brasil, 1920, 01.11.2023
Panorama internacional
Mídia: China e EUA vão discutir acordo sobre controle de armas nucleares na próxima semana
As negociações, no entanto, pararam repetidamente devido à exigência do país árabe de produzir o combustível nuclear para seus reatores em solo saudita.
Agora, as movimentações para a possível expansão da planta energética do país árabe se tornaram uma dor de cabeça aos EUA, já que, com a demora dos americanos em fechar o negócio, os sauditas decidiram considerar uma proposta chinesa de construção de instalações nucleares no país.
Em entrevista cedida ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, João Nicolini, professor de relações internacionais, explorou essa delicada relação entre os EUA e a Arábia Saudita.

"Os sauditas já vinham cobrando uma maior participação dos americanos no seu processo de produção de ciência e tecnologia. É muito claro para eles [sauditas] essa ideia de se libertar do capital puramente do petróleo e tentar expandir para outros tipos de investimentos (...) O que acontece é que esse tipo de requisição, ela vai muito além do que os americanos já ofereceram para outros parceiros", diz Nicolini.

Segundo o especialista, os sauditas "querem deter as tecnologias para enriquecimento de urânio no país", o que afetaria a estratégia dos EUA em relação ao Irã, que tem se aproximado da Arábia Saudita em meio à guerra de Israel e o Hamas.
Drone suicida Meraj-532 desenvolvido pelo Irã de perto - Sputnik Brasil, 1920, 01.11.2023
Irã desenvolve novos drones kamikaze inspirados em munições vagantes dos EUA
"Quem fez a aproximação do Irã com os sauditas foram os chineses, então os americanos estão muito alarmados com a possibilidade dos chineses se tornarem um ator importante no Oriente Médio", completa o professor.

Árabia Saudita nos BRICS+ e China como ator central e segurança global

A China, observando a perda de influência dos EUA no Oriente Médio, traçou uma estratégia para se aproximar dos países árabes. Como lembra Nicolini, "o programa balístico de produção de mísseis da Arábia Saudita se consolidou nos últimos anos com o apoio chinês".
Arábia Saudita e China ainda podem tornar-se mais parceiras do que nunca. Isso porque o país árabe, em 2024, conclui sua entrada no BRICS+, de acordo com ele. A integração do país ao bloco "fortalece possibilidades comerciais para os sauditas e também cria uma certa maior desconfiança para os norte-americanos tentarem, digamos, se curvar aos interesses sauditas também, porque eles estão barganhando no final", diz.

"Eles [os americanos] estão vendo que os chineses querem ser um ator de relevância estratégica também no campo diplomático. Até para poder, digamos, expandir o seu plano de rota da seda com maior eficiência", completa o especialista.

Hoje, a Arábia Saudita é o maior fornecedor de petróleo da China, e a China é o maior destino das exportações sauditas de petróleo. Fazendo os mesmos pedidos que os EUA, mas comprometendo-se em acelerar o processo de negociação, os chineses parecem liderar os esforços de cooperação na área.

"Se eles [sauditas] não conseguirem as concessões dos norte-americanos, eles vão procurar apoio nos chineses. Os planos de negociação com os chineses no campo nuclear ainda é muito incipiente. Há esse tipo de aproximação sendo construída. Ela é muito efêmera, mas abre-se a possibilidade", completa o professor.

Ainda que se proponha como projeto pacífico, o perigo de uma expansão nuclear secreta preocupa, mesmo com o país árabe se colocando à disposição de deixar as plantas abertas para fiscalização internacional, principalmente da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
O presidente dos EUA, Joe Biden, faz uma pausa ao ser questionado se ele tem algum conselho para um novo presidente republicano da Câmara, após falar na Sala Roosevelt da Casa Branca, 4 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 02.11.2023
Panorama internacional
Presidente do Congresso dos EUA fala sobre possível impeachment de Joe Biden: 'Muito em breve'
"Aceitar as salvaguardas da IEA é uma coisa, mas, por exemplo, a gente tem que lembrar que os sauditas já usaram capital norte-americano e depois nacionalizaram as empresas", relembra o professor, dizendo que ainda é imprevisível o "como essas fiscalizações acontecerão".

'Genocídio em curso' e fragilidade dos EUA

Em conversa com a Sputnik Brasil, Francisco Carlos Teixeira, professor titular da cadeira de história moderna e contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta a fragilidade dos EUA diante da situação, confirmando que a China, "ao aproximar a Arábia Saudita do Irã, tirou os Estados Unidos de uma área vital como o Golfo Pérsico".

"A China soube entrar nessa relação, oferecer mercados, oferecer compras, garantir o fluxo do petróleo pelo Golfo Pérsico em direção ao próprio país. [Isso] enquanto os Estados Unidos estavam mais envolvidos em apoiar e manter o seu vínculo com Israel", acrescenta Teixeira.

A atitude dos EUA, no futuro, permanece incerta, ainda mais diante dos constantes desdobramentos do conflito entre Israel e o Hamas, que parecem longe de acabar.

"Todas essas relações Estados Unidos e Arábia Saudita estão agora congeladas. A gente está em plena invasão da Palestina por terra, um genocídio em curso (...) Mesmo um regime absolutista como a Arábia Saudita não pode governar contra a opinião da sua própria população."

Nicolini segue a mesma linha, afirmando que tal acordo — entre norte-americanos e sauditas — precisa ser aprovado no Congresso, e o conflito no Oriente Médio dificulta a celeridade do processo. "Em termos do Biden com o Netanyahu, o governo norte-americano precisa sempre mostrar-se em apoio ao governo israelense", completa.
Os mecânicos da Pirelli preparam os pneus durante a primeira sessão de treinos livres no autódromo Hermanos Rodriguez, na Cidade do México - Sputnik Brasil, 1920, 26.10.2023
Panorama internacional
Após barrar chineses, Pirelli fecha parceria milionária com Arábia Saudita para produzir no país
A China, de olho na situação, segue tendo a função de servir como pedra no caminho norte-americano. Isso porque o país asiático tem uma capacidade muito grande de expandir naquela área".

"Eu acho que um acordo nuclear com a Arábia Saudita, é lógico, tendo uma condição estável em que Israel e os palestinos reduzam essas tensões, é muito possível. É muito possível que os norte-americanos concedam aos sauditas esse tipo de programa (...) Eu acho que não há constrangimentos para que isso aconteça, mesmo que os chineses comecem a demonstrar maior interesse no mundo árabe", conclui Nicolini.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала