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Maior inimigo da hegemonia do dólar são os próprios EUA, diz analista
Maior inimigo da hegemonia do dólar são os próprios EUA, diz analista
Sputnik Brasil
A política externa dos EUA está minando a confiança de países emergentes no dólar, acelerando a busca por alternativas. A Sputnik Brasil conversou com... 16.11.2023, Sputnik Brasil
2023-11-16T14:46-0300
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Dados publicados pelo Ministério para Desenvolvimento Econômico da Rússia apontam que 95% do comércio entre China e Rússia já é feito sem o uso do dólar. A participação do rublo e da moeda chinesa, o yuan, nas transações comerciais russas como um todo já se aproxima dos 70%.O desafio de replicar o sucesso da experiência sino-russa nos demais países do BRICS, agora ampliado, foi debatido por especialistas de Brasil, Índia e Rússia nesta quinta-feira (16), durante a VII Escola Internacional do BRICS, em Moscou.De acordo com o professor da Universidade Estatal de São Petersburgo e diretor do Centro de Estudos Iberoamericanos, Victor Jeifets, cerca de 60% das reservas em moeda estrangeira dos países do BRICS seguem alocadas em dólar.No caso do Brasil, 80,42% das reservas seguem com a moeda norte-americana, apesar do crescimento do uso do yuan chinês, de acordo com o relatório mais recente do Banco Central sobre o assunto."O espectro das sanções econômicas também preocupa diversos países, não só aqueles que já são atingidos por elas", considerou Jeifets. "Por isso, os países estão gradualmente adotando moedas nacionais em seu comércio ou debatendo a criação de sistemas de pagamentos alternativos, como no caso do BRICS."'Fardo compulsório'Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Bruno De Conti, a manutenção do domínio do dólar impõe limitações estruturais ao desempenho econômico de países em desenvolvimento. Para que os EUA mantenham o "privilégio exorbitante" do dólar, os países periféricos precisam arcar com um "fardo compulsório".Segundo ele, a política monetária de países como o Brasil é obrigada a investir todos os seus recursos no controle da volatilidade cambial, impedindo não só a ação em outras áreas, mas também a realização de planejamento de longo prazo."O domínio do dólar faz com que a nossa política econômica fique extremamente dependente do que acontece no centro [do sistema capitalista]", disse De Conti. "Qualquer declaração de um presidente dos EUA no Twitter pode atingir o nosso câmbio, nossa taxa de juros e oferta de crédito doméstica. Isso é inaceitável."Para mitigar essa desvantagem estrutural, os países do BRICS criaram iniciativas como o Arranjo Contingente de Reservas, que deixa à disposição dos países do grupo recursos financeiros para uso em momentos de crise."O acordo de reserva reduz o risco cambial e diminui a probabilidade de enfrentarmos crises como aquelas típicas dos anos 80, quando os países sofriam pela falta de divisas", disse De Conti.Durante a década de 1980, países latino-americanos que mantinham suas dívidas externas indexadas ao dólar norte-americano foram duramente prejudicados após a decisão de Washington de elevar sua taxa de juros.Atualmente, o acordo de reservas possui capital estimado em US$ 100 bilhões (R$ 488 bilhões), que pode ser acessado pelos países do BRICS de forma proporcional à sua contribuição."As reservas do BRICS são importantes, mas não resolvem o problema de forma definitiva", considerou o professor da Unicamp. "O que precisamos é tomar uma série de medidas para gradualmente sair da 'armadilha do dólar'. As reservas ou mesmo uma eventual moeda do BRICS seriam passos importantes nesse sentido."Moeda comumOs desafios para a criação de uma moeda de transação comum ao BRICS, que prescinda do dólar norte-americano, são grandes. Além das pressões político-diplomáticas dos EUA para que o projeto não vá para frente, ainda existem dificuldades técnicas a serem superadas."Lembro que essa moeda não seria usada nem por nós, pessoas físicas, nem por empresas", esclareceu De Conti. "Nós continuaríamos usando as nossas moedas nacionais. Mas seria criado um sistema de compensação multilateral comum ao BRICS."De acordo com a professora na O.P. Jindal Global University, na Índia, e pesquisadora sênior do Center for China and Globalization Karin Vazquez, há vontade política por parte dos membros do BRICS para desenvolver esse sistema de pagamentos comum.A entrada de seis novos membros no BRICS — Argentina, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã — pode favorecer esse ambicioso projeto de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.Por outro lado, a dificuldade de criar um sistema de transações capaz de abarcar todos os países do BRICS pode ser facilitada pela preexistência de uma rede de acordos bilaterais entre os membros, considerou a especialista.Segundo ela, a criação de um sistema de pagamentos alternativo ao dólar "é um dos grandes temas que une o BRICS", já que a diminuição do papel do dólar "é uma necessidade premente" no contexto atual.Durante a Cúpula dos Chefes de Estado do BRICS realizada em Joanesburgo, na África do Sul, em agosto, os países criaram um grupo de trabalho entre ministros da Economia e representantes de bancos centrais para elaborar propostas para a criação de um sistema de pagamentos alternativo. As propostas deverão ser apresentadas aos chefes de Estado na próxima cúpula do BRICS, a ser realizada em Kazan, na Rússia.
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Maior inimigo da hegemonia do dólar são os próprios EUA, diz analista
14:46 16.11.2023 (atualizado: 17:04 16.11.2023) Especiais
A política externa dos EUA está minando a confiança de países emergentes no dólar, acelerando a busca por alternativas. A Sputnik Brasil conversou com especialistas brasileiros e russos para saber como o BRICS expandido pode se livrar da armadilha do dólar.
Dados publicados pelo Ministério para Desenvolvimento Econômico da Rússia apontam que 95% do comércio entre China e Rússia já é feito sem o uso do dólar. A participação do rublo e da moeda chinesa, o yuan, nas transações comerciais russas como um todo já se aproxima dos 70%.
"Nosso comércio está se reestruturando. Se olharmos para os indicadores comerciais do país como um todo, 68% do nosso comércio é realizado em rublos e yuan, enquanto 95% do nosso comércio com a China é liquidado em rublos e yuan. A questão dos meios de pagamentos foi resolvida", afirmou o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Maksim Reshetnikov.
O desafio de replicar o sucesso da experiência sino-russa nos demais países do BRICS, agora ampliado, foi debatido por especialistas de Brasil, Índia e Rússia nesta quinta-feira (16), durante a VII Escola Internacional do BRICS, em Moscou.
De acordo com o professor da Universidade Estatal de São Petersburgo e diretor do Centro de Estudos Iberoamericanos, Victor Jeifets, cerca de 60% das reservas em moeda estrangeira dos países do BRICS seguem alocadas em dólar.
"O principal inimigo do domínio do dólar não é o BRICS, mas a política externa dos EUA, que usam o seu privilégio de ter a moeda dominante como uma arma", disse Jeifets à Sputnik Brasil. "Quando os EUA congelam as reservas internacionais de um país, como fizeram com a Rússia, os demais se perguntam se amanhã isso não acontecerá com eles."
No caso do Brasil, 80,42% das reservas seguem com a moeda norte-americana, apesar do crescimento do uso do yuan chinês, de acordo com o
relatório mais recente do Banco Central sobre o assunto.
"O
espectro das sanções econômicas também preocupa diversos países, não só aqueles que já são atingidos por elas", considerou Jeifets. "Por isso, os países estão gradualmente adotando moedas nacionais em seu comércio ou debatendo a criação de sistemas de pagamentos alternativos, como no caso do BRICS."
Para o
professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Bruno De Conti, a manutenção do domínio do dólar impõe limitações estruturais ao desempenho econômico de países em desenvolvimento.
Para que os EUA mantenham o "privilégio exorbitante" do dólar, os países periféricos precisam arcar com um "fardo compulsório".
"O domínio do dólar impõe um fardo compulsório aos países periféricos: impõe um constante acúmulo de reservas e a necessidade de lidar com a instabilidade nas taxas de câmbio e de juros", disse De Conti à Sputnik Brasil. "Isso diminui de forma significativa o espaço para formular políticas públicas."
Segundo ele, a política monetária de países como o Brasil é obrigada a investir todos os seus recursos no controle da volatilidade cambial, impedindo não só a ação em outras áreas, mas também a realização de planejamento de longo prazo.
"O domínio do dólar faz com que a nossa política econômica fique extremamente dependente do que acontece no centro [do sistema capitalista]", disse De Conti. "Qualquer declaração de um presidente dos EUA no Twitter pode atingir o nosso câmbio, nossa taxa de juros e oferta de crédito doméstica. Isso é inaceitável."
Para mitigar essa desvantagem estrutural, os países do BRICS criaram iniciativas como o Arranjo Contingente de Reservas, que deixa à disposição dos países do grupo recursos financeiros para uso em momentos de crise.
"O acordo de reserva reduz o risco cambial e diminui a probabilidade de enfrentarmos crises como aquelas típicas dos anos 80, quando os países sofriam pela falta de divisas", disse De Conti.
Durante a década de 1980, países latino-americanos que mantinham suas dívidas externas indexadas ao dólar norte-americano foram duramente prejudicados após a decisão de Washington de elevar sua taxa de juros.
Atualmente, o acordo de reservas possui capital estimado em US$ 100 bilhões (R$ 488 bilhões), que pode ser acessado pelos países do BRICS de forma proporcional à sua contribuição.
"As reservas do BRICS são importantes, mas não resolvem o problema de forma definitiva", considerou o professor da Unicamp. "O que precisamos é tomar uma série de medidas para gradualmente sair da 'armadilha do dólar'. As reservas ou mesmo uma eventual moeda do BRICS seriam passos importantes nesse sentido."
Os desafios para a criação de uma moeda de transação comum ao BRICS, que prescinda do dólar norte-americano, são grandes. Além das pressões político-diplomáticas dos EUA para que o projeto não vá para frente, ainda existem dificuldades técnicas a serem superadas.
"Lembro que essa moeda não seria usada nem por nós, pessoas físicas, nem por empresas", esclareceu De Conti. "Nós continuaríamos usando as nossas moedas nacionais. Mas seria criado um sistema de compensação multilateral comum ao BRICS."
De acordo com a professora na O.P. Jindal Global University, na Índia, e pesquisadora sênior do Center for China and Globalization Karin Vazquez, há vontade política por parte dos membros do BRICS para desenvolver esse sistema de pagamentos comum.
"Por exemplo, a Rússia teria interesse em função das sanções econômicas, a China, para estimular a internacionalização do yuan, enquanto o Brasil busca garantir acesso a novos mercados, redução de custos operacionais e facilitação de financiamento", disse Vazquez à Sputnik Brasil.
A
entrada de seis novos membros no BRICS — Argentina, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã — pode favorecer esse ambicioso projeto de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
"Politicamente, a expansão do BRICS facilitaria a criação de um sistema de pagamentos, já que são países interessados em fazer transações sem o dólar", disse Vazquez. "O desafio será operacional", acrescentou.
Por outro lado, a dificuldade de criar um sistema de transações capaz de abarcar todos os países do BRICS pode ser facilitada pela preexistência de uma
rede de acordos bilaterais entre os membros, considerou a especialista.
Segundo ela, a criação de um sistema de pagamentos alternativo ao dólar "é um dos grandes temas que une o BRICS", já que a diminuição do papel do dólar "é uma necessidade premente" no contexto atual.
Durante a Cúpula dos Chefes de Estado do BRICS realizada em Joanesburgo, na África do Sul, em agosto, os países criaram um grupo de trabalho entre ministros da Economia e representantes de bancos centrais para elaborar propostas para a criação de um sistema de pagamentos alternativo. As propostas deverão ser apresentadas aos chefes de Estado na próxima cúpula do BRICS, a ser realizada em Kazan, na Rússia.