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Como a inteligência artificial pode impulsionar a economia de países africanos

© AP Photo / Michael DwyerO logotipo OpenAI é visto em um telefone celular na frente de uma tela de computador que exibe a saída do ChatGPT, em Boston. EUA, 21 de março de 2023
O logotipo OpenAI é visto em um telefone celular na frente de uma tela de computador que exibe a saída do ChatGPT, em Boston. EUA, 21 de março de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 17.11.2023
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas destacam que a expansão da inteligência artificial (IA) pode solucionar antigos problemas de países africanos e consolidar o potencial tecnológico do continente.
O uso da inteligência artificial está se expandindo ao redor do mundo. Alguns analistas argumentam que a tecnologia tem potencial para ajudar no desenvolvimento de países, o que leva governos a investir no setor, atraindo empresas de diferentes países.
A África é um dos continentes que pretendem se beneficiar desse processo. Lançada em 2015, pela União Africana, a Agenda 2063 reúne 14 iniciativas para impulsionar o desenvolvimento econômico e social dos países do continente. O investimento em tecnologia é uma das metas da agenda.
Para entender como o investimento em IA pode contribuir para o desenvolvimento de países africanos, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, conversou com Zaika dos Santos, especialista em inteligência artificial e afrofuturismo, e Igor Lucena, economista do Instituto Brasil África (Ibraf) e doutor em relações internacionais.
Zaika diz que, antes de pensar como a inteligência artificial poderia auxiliar o desenvolvimento de países africanos, "é preciso desmistificar o olhar sobre o continente".

"A gente está falando de um continente com cinco famílias linguísticas e com mais de 30% da linguagem mundial. E tecnologias, nesses casos digitais, são linguagens", diz Zaika.

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Ela acrescenta que a tecnologia nasce no continente africano, já que abrange especificamente a matemática. "A matemática nasce na África. Um exemplo que sempre uso na ciência de dados é a Pedra de Roseta como a nossa primeira seriação de linha do tempo. Ela decodificava especificamente os hieróglifos. Entre muitos outros exemplos, a gente também vai ter o fractal africano na dimensão da matemática."
A especialista explica que o avanço tecnológico observado ao redor do mundo hoje já existia há muitos anos, mas começou a ter uma interação mais potente após a década de 1940, com uma ação mais efetiva a partir do início dos anos 1990.
Sobre o uso da tecnologia para impulsionar o desenvolvimento de países africanos, ela destaca que a aplicação da ciência de dados, em diversos campos, beneficia pautas como economia, segurança, saúde, mobilidade, educação, cultura e redução das desigualdades. Porém, ela ressalta que a regulação deve acompanhar esse avanço.
"Há um pensamento global de que todos os países, de todos os continentes, vão ter sua relação específica para regular o uso de IA, porque a gente está falando de uma tecnologia emergente. Como houve regulação específica para o uso da Internet, a gente vai passar agora para uma nova adaptação, uma lei que vai funcionar de maneira diferente, às vezes de maneira similar para cada país, para cada continente."
A especialista, em seguida, cita a Etiópia como exemplo de país avançado no campo tecnológico.

"A Etiópia é um dos países que a gente vai ter como referência tecnológica, e é um país que nunca foi colonizado. O que acontece, às vezes, é que a gente recebe um imagético muito estereotipado, por via da mídia, acerca da imagem da Etiópia. Só que a Etiópia tem um local muito fundamental na história da tecnologia e da revolução tecnológica", explica Zaika.

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Ela acrescenta que a capital da Etiópia, Adis Abeba, foi inclusive usada como inspiração por Hollywood.

"Tem uma coisa também que se conecta a esse imaginário de uma produção real sobre a África. Quando a gente vê ali, por exemplo, no filme fictício, que é Wakanda, dentro de 'Black Panther' [Pantera Negra], que acaba sendo simulada num local de reproduzir a Adis Abeba."

Zaika destaca, ainda, a aplicação do STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) no continente africano como forma de incentivar o conhecimento e a democratização do acesso à tecnologia de maneira emancipatória.
"Eles promovem hackathons [eventos que reúnem programadores] com pesquisadores, intelectuais, cientistas, cientistas de dados tecnológicos que são africanos e que promovem a construção de novas tecnologias emergentes para fazer esse atendimento diretamente para a população."
Segundo Zaika, a pandemia acelerou a evolução da tecnologia, já que forçou a população global a utilizar de maneira mais acelerada e mais efetiva os computadores. Ela afirma que foi nesse ponto que tecnologias como o ChatGPT ganharam visibilidade.
Porém, ela diz não considerar que o ChatGPT seja uma ameaça, como afirmam alguns analistas. Isso porque, segundo ela, a IA generativa pode trazer informações enviesadas.
"As inteligências artificiais tentam reproduzir o pensamento humano. Elas não têm o que a gente tem: o pensamento humano. […] O chat vai fazer uma coleta em bancos de dados. O que ele vai tentar, de fato, entre outras IAs de texto, é catalogar um fluxo muito maior de informação", diz a especialista, acrescentando que é necessário uma pessoa para determinar se a informação coletada pelo ChatGPT é enviesada ou, mesmo, real.

Ainda há desafios a serem enfrentados para a expansão da IA na África

Em entrevista ao podcast Mundioka, Igor Lucena explica que a inteligência artificial pode, de fato, ajudar a solucionar o que afirma ser um dos principais problemas do desenvolvimento da África nos últimos 50 anos.
"A falta de mão de obra, principalmente qualificada, torna essa situação [de desenvolvimento] bem mais difícil. Então, a partir do momento que a gente introduz a IA, vários processos podem ser melhorados. […] Sistemas de cobrança de impostos, atendimentos ao setor público, […] capacidade de ensino em escolas, gerenciamento de órgãos públicos. Isso tudo que no passado precisava de uma quantidade grande de pessoas, de sistemas ou de uma capacidade de conhecimento e técnica, hoje podem ser resolvidos com sistemas de inteligência artificial, fazendo com que, seja num país de primeiro mundo ou em países em desenvolvimento, o mesmo tipo de produto e serviço pode ser ofertado."
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Ele afirma que a expansão da tecnologia tem a capacidade de mudar significativamente como operam empresas e governos nos países africanos de uma maneira que não existia antes dessa nova revolução industrial.

"De fato, estamos assistindo a uma mudança que pode melhorar drasticamente o PIB potencial desses países pelos próximos anos […], levando em consideração que a África vai ser a região do planeta com maior crescimento populacional nos próximos anos."

Porém, na avaliação de Lucena, países africanos ainda terão de enfrentar alguns desafios para a implementação da IA.
"Não é uma situação que é de imediato. Para introduzir sistemas de inteligência artificial, é necessário investir em obras de infraestrutura, desenvolvimento de tecnologias de telecomunicações 5G e um conjunto de ações que, de fato, façam com que os sistemas de IA tenham conhecimento de dados."
Ele acrescenta que, nos próximos anos, "os investimentos diretos de outras nações, principalmente do BRICS para a África, serão fundamentais para que essa realidade, de fato, venha a se concretizar".
Por fim, ele destaca que outro desafio a ser enfrentado por países africanos para implementar a inteligência artificial em vários setores será ampliar o acesso a dados e a sistematização de processos.

"As informações dentro do continente africano são muito mais limitadas do que em outras regiões. Isso significa que vai ser necessário, por parte de governos e empresas, uma sistematização de informações para que os sistemas de inteligência artificial possam funcionar. E esse vai ser um desafio. Ou seja, a entrada no mundo da IA perpassa, necessariamente, uma sistematização de processos que ainda são falhos em grande maioria dos países africanos."

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