'Hamas está ganhando em Gaza': militar dos EUA explica por que cessar-fogo é 'derrota' para Israel
09:40 24.11.2023 (atualizado: 10:56 24.11.2023)
© AP Photo / Forças de Defesa de IsraelForças de Defesa de Israel durante ataque a prédio em operação por terra das brigadas armadas. Faixa de Gaza, 14 de novembro de 2023
© AP Photo / Forças de Defesa de Israel
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O cessar-fogo recentemente anunciado é uma bênção tanto para os palestinos como para os israelenses - uma chance de troca de prisioneiros, de distribuição de ajuda humanitária e para as emoções de ambos os lados do conflito acalmarem, escreve o ex-oficial de inteligência dos Estados Unidos Scott Ritter na Sputnik.
Enquanto o cessar-fogo, negociado entre Israel e o Hamas pelo Catar, foi mutuamente acordado entre as duas partes, que ninguém se deixe enganar que isto não é mais do que uma vitória para o Hamas. Israel tinha tomado uma posição muito agressiva de que, dado o seu objetivo declarado de destruir o Hamas como organização, não concordaria com um cessar-fogo sob quaisquer condições.
"O Hamas, por outro lado, tinha conseguido alcançar um dos seus principais objetivos ao iniciar a atual "rodada de combates" contra Israel para libertação de prisioneiros palestinos, em particular mulheres e crianças, detidos por Israel. Visto desta perspectiva, o cessar-fogo representa uma vitória importante para o Hamas e uma derrota humilhante para Israel", aponta Ritter.
Uma das principais razões por trás da derrota israelense em 7 de outubro foi o fato de que o governo de Israel estava convencido de que o Hamas nunca atacaria, independentemente do que os analistas de inteligência encarregados de monitorar a atividade do Hamas em Gaza estavam dizendo.
O ataque de 7 de outubro do Hamas não foi uma operação independente, mas parte de um plano estratégico que possui três objetivos principais: colocar de volta a questão de um Estado palestino no foco do discurso internacional, liberar os milhares de prisioneiros palestinos mantidos por Israel, e obrigar Israel a cessar e desistir de sua profanação da Mesquita Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado do Islã.
"O ataque de 7 de outubro tinha como alvo humilhar Israel ao ponto de irracionalidade, para garantir que qualquer resposta israelense seria ditada pela necessidade emocional de vingança, em oposição a uma resposta racional destinada a anular os objetivos do Hamas. Ao infligir uma derrota humilhante a Israel, que destruiu tanto o mito da invencibilidade israelense (em relação às Forças de Defesa de Israel) quanto a infalibilidade (em relação à inteligência israelense) e, ao tomar centenas de israelenses como reféns antes de se retirarem para o seu esconderijo subterrâneo em Gaza, o Hamas atraiu Israel para uma armadilha para a qual o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, previsivelmente correu", ressalta Ritter.
De acordo com ele, a principal razão da derrota de Israel até hoje é o próprio Israel. Depois de morder a isca e cair na armadilha do Hamas, Israel passou a executar a sua Doutrina Dahiya contra a população palestina de Gaza, realizando ataques indiscriminados contra estruturas civis, em flagrante desrespeito pela lei da guerra.
Estima-se que 13 mil civis palestinos foram mortos por esses ataques, incluindo mais de 5 mil crianças. Muitos milhares de outras vítimas permanecem enterradas sob os escombros de suas habitações destruídas.
Por fim, o especialista aponta que o Hamas está fazendo mais do que sobreviver - está ganhando. Tendo combatido as Forças de Defesa de Israel até um impasse no campo de batalha, o Hamas viu cada um de seus objetivos estratégicos neste conflito se concretizarem. O mundo está articulando ativamente a necessidade absoluta de uma solução de dois Estados como pré-requisito para uma paz duradoura na região. Palestinos mantidos prisioneiros por Israel estão sendo trocados pelos israelenses feitos refém pelo Hamas. E o mundo islâmico está unido na condenação da profanação por Israel da Mesquita de Al-Aqsa.