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Fome na África: para analista, potências ocidentais têm interesse na 'instabilidade' do continente
Fome na África: para analista, potências ocidentais têm interesse na 'instabilidade' do continente
Sputnik Brasil
Enquanto países como os EUA falam em insignificância do volume, a Rússia realiza desde o fim de julho a doação de 200 mil toneladas de grãos para ajudar a... 08.12.2023, Sputnik Brasil
2023-12-08T15:41-0300
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Das 828 milhões de pessoas que passam fome no mundo, quase 280 milhões vivem na África, conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar de concentrar 65% das terras propícias para a agricultura no mundo que ainda não foram exploradas, a expectativa para a região é ainda pior até 2030: o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave pode chegar a 310 milhões até o fim desta década.Nesse cenário, apesar de não resolver o problema, a doação internacional de alimentos é cada vez mais importante para amenizar os efeitos da fome no continente. É o caso da Rússia, que no fim de julho, durante uma cúpula com países africanos, anunciou a doação de 200 mil toneladas de grãos para seis nações em meio ao temor de uma nova disparada nos preços dos alimentos, o que ajudaria a aumentar ainda mais a falta de acesso à comida.Qual o motivo de tanta fome na África?Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o escritor, jurista e analista internacional Paulo Gamba disse que há interesse das grandes potências ocidentais em manter um ambiente instável na África, o que consequentemente também aumenta a fome na região.Conforme o especialista, conflitos armados e guerras civis que até hoje abalam países inteiros é outra causa para a fome no continente. Com isso, a população se desloca para áreas urbanas, consideradas mais seguras. "Infelizmente, nessas regiões não há terra suficiente para a produção da agricultura, e […] os países passam a usar toda a sua economia para o esforço de guerra. Curiosamente, os locais onde aconteciam os conflitos eram precisamente onde estão os solos mais aráveis", explica.Diante disso, não há produção interna de alimentos que seja suficiente para toda a população dos países, que precisam importar itens básicos mais caros e menos acessíveis. Sem agricultura, não há como combater a fome e a miséria, pontua o especialista, que dá como exemplo a República Democrática do Congo.Onde se passa fome na África?Dados da agência de saúde da ONU mostraram ainda que pelo menos 48 milhões de africanos enfrentam níveis agudos de insegurança alimentar, quando a falta de comida ameaça a vida das pessoas. Os países mais atingidos são Djibouti, Etiópia, Quênia, Somália, Sudão do Sul, Sudão e Uganda, muitos envolvidos em conflitos que há décadas ameaçam a estabilidade interna.Fim do acordo de grãos levou à doação de alimentosMediado pela Turquia e pela ONU, o acordo de grãos entre Rússia e Ucrânia foi encerrado em julho diante do não cumprimento ocidental das condições russas pedidas para o acerto, como a reconexão do Rosselkhozbank (Banco Agrícola da Rússia) ao sistema SWIFT, onde acontecem as principais transações financeiras globais. A negociação permitia a passagem desses produtos para os demais países do globo.Mesmo com o fim do pacto, a Rússia decidiu se comprometer a fornecer 200 mil toneladas de alimentos a seis países da África com intensa insegurança alimentar: Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia. Só na África Oriental, cerca de 80% dos grãos usados para alimentar a população vêm da Rússia e da Ucrânia.A mestre em relações internacionais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisadora de política externa russa Giovana Dias Branco acrescentou ao podcast Mundioka que a doação também é uma forma de a Rússia "se aproximar do continente africano", ao mesmo tempo que é uma forma sutil de "cutucar os países ocidentais que, ao longo de sua história, esqueceram um pouco" a região, que já não atende aos anseios exploratórios como durante a colonização.Para além disso, a especialista enfatizou que a maior parte dos grãos do acordo ucraniano sequer eram direcionados à África, mas iam para a Europa e para "alguns países do Oriente Médio que não eram necessariamente os mais fragilizados em termos de fome".Na última semana, o primeiro navio com os grãos chegaram à Somália. Ao todo, foram 25 mil toneladas de trigo para ajuda humanitária, em resposta às inundações que afetaram o país. O ministro do Interior do país, Ahmed Fiqi, recebeu a embarcação junto com o embaixador russo Mikhail Golovanov. O governo somaliano deu as boas-vindas à ajuda russa e expressou gratidão pelo apoio.
https://noticiabrasil.net.br/20231202/ajuda-humanitaria-como-a-russia-cumpre-seu-dever-perante-a-africa-31811587.html
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Fome na África: para analista, potências ocidentais têm interesse na 'instabilidade' do continente
15:41 08.12.2023 (atualizado: 16:33 08.12.2023) Especiais
Enquanto países como os EUA falam em insignificância do volume, a Rússia realiza desde o fim de julho a doação de 200 mil toneladas de grãos para ajudar a combater a fome em seis países do continente africano. Para o especialista, a iniciativa é uma forma de Moscou "cutucar também os países ocidentais" que deixaram de dar importância à região.
Das 828 milhões de pessoas que passam fome no mundo, quase 280 milhões vivem na África, conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar de concentrar 65% das terras propícias para a agricultura no mundo que ainda não foram exploradas, a expectativa para a região é ainda pior até 2030: o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave pode chegar a 310 milhões até o fim desta década.
Nesse cenário, apesar de não resolver o problema, a doação internacional de alimentos é cada vez mais importante para amenizar os efeitos da fome no continente. É o caso da Rússia, que no fim de julho, durante uma cúpula com países africanos, anunciou a doação de 200 mil toneladas de grãos para seis nações em meio ao temor de uma nova disparada nos preços dos alimentos, o que ajudaria a aumentar ainda mais a falta de acesso à comida.
Qual o motivo de tanta fome na África?
Em entrevista ao
podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o escritor, jurista e analista internacional Paulo Gamba disse que há interesse das grandes potências ocidentais em manter um
ambiente instável na África, o que consequentemente também aumenta a fome na região.
"Interessa a determinados países de olho nos recursos do continente uma instabilidade que vai fazer com que os Estados não tenham controle absoluto em seu território e, assim, permitam vendas ilegais de commodities mais baratas para enriquecer essas nações", acrescenta.
Conforme o especialista, conflitos armados e guerras civis que até hoje abalam países inteiros é outra causa para a fome no continente. Com isso, a população se desloca para áreas urbanas, consideradas mais seguras. "Infelizmente, nessas regiões não há terra suficiente para a produção da agricultura, e […] os países passam a usar toda a sua economia para o esforço de guerra. Curiosamente, os locais onde aconteciam os conflitos eram precisamente onde estão os solos mais aráveis", explica.
2 de dezembro 2023, 13:42
Diante disso,
não há produção interna de alimentos que seja suficiente para toda a população dos países, que precisam importar itens básicos
mais caros e menos acessíveis. Sem agricultura, não há
como combater a fome e a miséria, pontua o especialista, que dá como exemplo a República Democrática do Congo.
"Há uma zona chamada Mujimai, que fica em uma região que a terra é muito fértil e arável. Entretanto, qualquer escavação que se faz a uma profundidade superior a dois metros encontra minerais estratégicos, como o coltan. Isso propiciou que os agricultores esquecessem da atividade e passassem a explorar os minérios, que vão para as indústrias do Ocidente para a produção de tecnologias modernas", enfatiza.
Onde se passa fome na África?
Dados da agência de saúde da ONU mostraram ainda que pelo
menos 48 milhões de africanos enfrentam níveis agudos de insegurança alimentar, quando a falta de comida ameaça a vida das pessoas. Os países mais atingidos são Djibouti, Etiópia, Quênia, Somália, Sudão do Sul, Sudão e Uganda, muitos envolvidos em conflitos que há décadas
ameaçam a estabilidade interna.
"Os conflitos não estão necessariamente nas zonas urbanas, onde estão concentrados o poder político. As zonas rurais são efetivamente o local onde estão concentrados grupos rebeldes, além de minas [espalhadas por diversos países]. E isso dificulta porque a agricultura familiar de fato é um elemento fundamental para combater a fome, e ela não vai conseguir atuar nessas regiões", disse.
Fim do acordo de grãos levou à doação de alimentos
Mediado pela Turquia e pela ONU, o acordo de grãos entre
Rússia e Ucrânia foi encerrado em julho diante do não cumprimento ocidental das condições russas pedidas para o acerto, como a reconexão do Rosselkhozbank (Banco Agrícola da Rússia) ao sistema SWIFT, onde acontecem as principais transações financeiras globais. A negociação permitia a passagem desses produtos para os demais países do globo.
1 de dezembro 2023, 10:04
Mesmo com o fim do pacto, a Rússia decidiu se comprometer a fornecer 200 mil toneladas de alimentos a seis países da África com intensa insegurança alimentar: Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia. Só na África Oriental, cerca de 80% dos grãos usados para alimentar a população vêm da Rússia e da Ucrânia.
A mestre em relações internacionais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisadora de política externa russa Giovana Dias Branco acrescentou ao podcast Mundioka que a doação também é uma forma de a Rússia "se aproximar do continente africano", ao mesmo tempo que é uma forma sutil de "cutucar os países ocidentais que, ao longo de sua história, esqueceram um pouco" a região, que já não atende aos anseios exploratórios como durante a colonização.
Para além disso, a especialista enfatizou que a maior parte dos grãos do acordo ucraniano sequer eram direcionados à África, mas iam para a Europa e para "alguns países do Oriente Médio que não eram necessariamente os mais fragilizados em termos de fome".
"Se os países ocidentais, principalmente a Europa e os Estados Unidos, não fazem determinadas ações globais como a ajuda humanitária à África, a Rússia se coloca nessa posição […]. E como não é mais possível explorar o continente como antes, o Ocidente vê agora pouca utilidade em olhar para a região", destacou.
Na última semana, o primeiro navio com os grãos chegaram à Somália. Ao todo,
foram 25 mil toneladas de trigo para ajuda humanitária, em resposta às
inundações que afetaram o país. O ministro do Interior do país, Ahmed Fiqi, recebeu a embarcação junto com o embaixador russo Mikhail Golovanov. O governo somaliano
deu as boas-vindas à ajuda russa e expressou gratidão pelo apoio.