Rússia sai na vantagem em corrida para adaptar tanques à guerra moderna, diz analista
11:08 15.12.2023 (atualizado: 14:20 15.12.2023)
© Sputnik / Yevgeny OdinokovTanques T-14 Armata durante o desfile militar que marca o 77º aniversário da vitória na Grande Guerra pela Pátria

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O conflito na Ucrânia provou que os tanques seguem vitais para campanhas militares modernas, mas precisarão se adaptar para lidar com drones e munições inteligentes. Saiba quais serão as características dos tanques de nova geração e onde o Brasil se encontra nessa corrida pela modernização de veículos blindados.
Nesta semana, a China apresentou a proposta de venda de tanques MBT-3000 VT4 à Colômbia, um dos mais tradicionais aliados dos EUA na América do Sul, reportou o The Eurasian Times. Produzido pela Norinco, o modelo já foi importado por países como Nigéria, Paquistão e Tailândia.
O projeto chinês foi apresentado em contexto de amplo debate sobre a necessidade de modernizar e adaptar tanques e outros veículos blindados às necessidades da guerra moderna.
Ao mesmo tempo que o conflito ucraniano e os embates em Gaza reforçaram a importância de equipamentos militares clássicos, novos armamentos diminuíram o tempo de sobrevivência de tanques no campo de batalha.
O uso massivo de equipamentos de baixo custo e alta eficiência, como drones, munições inteligentes e sistemas de minagem remotos exigirão tanques com novas capacidades de proteção ativa e inovações em blindagem, explicou o especialista do Núcleo Avançado de Avaliação de Conjuntura (NAC) da Escola de Guerra Naval (ESG), Pérsio Glória de Paula.
"Está posto que o atual modelo de blindagem com ênfase na parte frontal, elaborado para duelos entre blindados, já não é o suficiente para as necessidades do campo de batalha moderno", disse Glória de Paula à Sputnik Brasil. "A proteção contra drones, que ainda é uma tecnologia nova, se tornará uma ferramenta essencial."
A necessidade de uma blindagem mais robusta, no entanto, não poderá aumentar a tonelagem dos tanques, o que debilitaria sua velocidade e agilidade. Nesse quesito, os modelos de destaque na atualidade são o T-14 Armata russo e o ZTZ-99 chinês.
© Sputnik / Kirill KallinikovUm tanque Type-96B operado pela tripulação do Exército Popular de Libertação da China (PLA) é visto antes da semifinal do biatlo de tanques nos Jogos Internacionais do Exército de 2022 em Alabino, nos arredores de Moscou, Rússia, 24 de agosto de 2022

Um tanque Type-96B operado pela tripulação do Exército Popular de Libertação da China (PLA) é visto antes da semifinal do biatlo de tanques nos Jogos Internacionais do Exército de 2022 em Alabino, nos arredores de Moscou, Rússia, 24 de agosto de 2022
© Sputnik / Kirill Kallinikov
"O modelo chinês atinge 80 km por hora e pode percorrer até 500 km, o que é uma autonomia considerável para um tanque", disse a professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Danielle Ayres, à Sputnik Brasil. "Já o T-14 Armata, que conta com uma cápsula que fornece proteção adicional à tripulação, atinge 90 km por hora e 500 km de alcance operacional."
As melhorias na blindagem precisarão "garantir maior proteção à tripulação e maior sobrevivência do veículo após o ataque", disse a especialista. Nesse quesito, além do T-14 Armata, o modelo norte-americano M1 Abrams possui características que aumentam a possibilidade de sobrevivência de tripulantes após um ataque.
Além das melhorias na blindagem, serão necessárias modernizações nos mecanismos antidrone disponíveis nos tanques, como sistemas de interferência electro-óptica, ressaltou Glória de Paula.
"Diversos países já empregam esse tipo de sistema, na maioria dos casos voltados para interceptação de projéteis e mísseis antitanque, como os modelos Arena-M, Shtora-1 e Afganit russos ou o Trophy israelense", disse Glória de Paula. "Outros países também desenvolvem seus próprios sistemas de proteção ativa [...] como o KF51 Panther da Alemanha, que terá drones acoplados ao veículo."
A incorporação de novas tecnologias deverá ser acompanhada de inovações logísticas e produtivas, para aumentar a rapidez da manutenção de tanques danificados de sua substituição em tempo hábil, o que também "exige uma significativa capacidade econômica e industrial", ressaltou Glória de Paula.
Países na vanguarda
Segundo o especialista, os países que devem sair na frente nessa corrida pela modernização de tanques são aqueles que contam com tradição na produção de tanques e experiência no campo de batalha.
"Há diversos países no mundo que têm as capacidades técnicas, tecnológicas e industriais para isso, como Rússia, EUA, Alemanha, França, Reino Unido, Coreia do Sul, Israel, China, além de novos atores, como Irã e Índia", disse Glória de Paula. "Mas quando o assunto é experiência em combate, […] a experiência na Ucrânia dá aos russos uma vantagem significativa."
A modernização das cavalarias blindadas com incorporação de novas tecnologias, no entanto, aumenta o já alto custo por unidade de tanques mais modernos. Para Ayres, isso coloca em xeque a capacidade de países como o Brasil arcarem com projetos de modernização abrangente.
"No caso do Brasil, não temos como adquirir esses tanques de forma a manter um grau de autonomia no orçamento", considerou Ayres. "Isso faz com que muitas vezes não tenhamos acesso a tecnologias mais avançadas para a produção desses equipamentos."
Por outro lado, Ayres lembrou que o país produz veículos para sua cavalaria blindada e os fornece ao mercado internacional, em particular para países da América do Sul, África e Oriente Médio.
Recentemente, o Brasil anunciou a aquisição de 98 blindados Centauro II, fabricados por consórcio italiano formado pelas empresas IVECO e Leonardo. O contrato, avaliado em cerca de R$ 5,07 bilhões, prevê parte da montagem dos veículos em território nacional.
CC BY-SA 2.5 / Exército italiano / Blindado Centauro II durante o exercício SIO 2021

Blindado Centauro II durante o exercício SIO 2021
CC BY-SA 2.5 / Exército italiano /
"Isso resolve parte das nossas demandas, mas ainda assim é necessário o desenvolvimento de novas tecnologias e sistemas de proteção ativa, bem como o pleno domínio do ciclo produtivo, como, por exemplo, o de materiais avançados utilizados nas blindagens contemporâneas", disse Glória de Paula.
A produção brasileira de tanques também contrasta com a baixa probabilidade de conflito regional e dificuldade de operar esses veículos em alguns biomas brasileiros.
"Agora, se considerarmos a importância estratégica da Amazônia, que tende a crescer com a crise climática, teremos que reavaliar estratégias e táticas de emprego dos nossos recursos bélicos", alertou Ayres. "Mas resta ver se teremos capacidade econômica para tirar essas novas estratégias e táticas do papel."
A cavalaria blindada brasileira possui atualmente 41.516 unidades de veículos blindados, incluindo 466 tanques e 136 veículos de artilharia com propulsão própria, segundo levantamento para o ano de 2023 realizado pelo site Global Fire Power. As capacidades brasileiras colocam o país em 21º lugar no ranking de países com maior número de veículos blindados, líder na América Latina e à frente de países como Ucrânia, Coreia do Norte e África do Sul.