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G20 à brasileira: quais pautas o país deve trazer à mesa para a presidência do grupo em 2024?

© AP Photo / Evelyn HocksteinO presidente dos EUA, Joe Biden, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Cúpula do G20. Nova Deli, 9 de setembro de 2023
O presidente dos EUA, Joe Biden, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi,  e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Cúpula do G20. Nova Deli, 9 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 18.12.2023
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O Brasil assumiu oficialmente a presidência do G20 para o ano de 2024 pela primeira vez em sua história. O evento promete ser um dos principais marcos do terceiro mandato do presidente Lula à frente do país.
Compete ressaltar que, há tempos, o G20 se tornou o mais fundamental fórum global para a abordagem de questões econômicas e financeiras do mundo. Todos os anos, por sua vez, um país-membro assume a presidência do grupo, liderando as discussões sobre uma série de problemas urgentes. Em 2022, a Índia assumiu o papel de presidente do G20, traçando um caminho para o desenvolvimento sustentável, a resiliência climática e um mundo mais equitativo na sequência da pandemia da COVID-19. Com o bastão da presidência agora entregue ao Brasil em 2024, é imperativo examinar a transição dos objetivos da liderança indiana para a liderança brasileira.
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O Brasil, aliás, conhecido como uma nação culturalmente futebolística, está tratando a presidência rotativa do G20 como uma espécie de "Copa do Mundo" diplomática, por assim dizer. Afinal, a reunião do G20 em Nova Deli já havia destacado que o grupo se estabeleceu definitivamente como um dos principais órgãos de governação global do planeta, situação com a qual os países do G7 — o núcleo duro do Ocidente — precisarão lidar como a realidade deste novo século XXI.
O Brasil, por sua vez, pretende usar sua liderança para combater a disparidade existente entre as nações desenvolvidas e em desenvolvimento no plano internacional, assim como a disparidade social existente — em maior ou menor grau — no âmbito de praticamente todos os Estados-membros do G20. Tal condição exige abordar a desigualdade de renda, de cuidados de saúde, do acesso à educação e do acesso à alimentação de qualidade para uma grande parcela da população mundial.
Ora, a fim de instigar mudanças significativas entre os Estados, primeiramente é necessário dar atenção à redução das desigualdades domésticas dos países, fator bastante repetido pela diplomacia brasileira. Esse tipo de abordagem "de baixo para cima" — adotada pelo Brasil para a resolução de problemas graves enfrentados por milhões de pessoas em todo o mundo — parece ser, de fato, o único caminho viável para a promoção do desenvolvimento sustentável global.
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Não obstante, como líder do G20 em 2024, o Brasil também continuará a abordar os principais problemas associados ao neoliberalismo promovido pelo Ocidente. O neoliberalismo, aliás, como vertente do pensamento econômico nascido na Europa em meados do século XIX, enfatiza uma intervenção governamental limitada na sociedade, a desregulamentação, a privatização e o capitalismo de livre mercado, preferencialmente sem quaisquer restrições.
Embora essa vertente de pensamento tenha sido adotada a nível mundial e em larga escala, sobretudo durante a década de 1990 como parte do chamado Consenso de Washington, isso acabou por exacerbar a desigualdade entre as nações, mesmo dentro das nações, dada a concentração desproporcional de riqueza em algumas poucas mãos e o não atendimento de necessidades básicas de grandes parcelas da população mundial, que terminaram marginalizadas.
Sob a presidência da Índia do G20 em 2023, uma grande preocupação era justamente a inadequação das políticas econômicas neoliberais na abordagem dessas questões. Sendo um país com um longo histórico de desigualdade e disparidade sociais, o Brasil deve pressionar por um sistema econômico global mais equitativo em 2024, aproveitando sua liderança rotativa do G20 para levantar as deficiências do neoliberalismo no tocante à promoção de uma condição mais justa para aqueles menos favorecidos.
O Brasil, além do mais, deve enfatizar também a necessidade de mudanças substanciais no sistema financeiro global, que testemunhou vários distúrbios recentes, incluindo a crise financeira de 2008, a pandemia de COVID-19, o aumento no preço dos combustíveis em 2022, entre outros. Vale lembrar que a necessidade de reformas que visem à criação de um sistema financeiro mais estável e resiliente tem sido uma questão recorrente nas discussões do G20, o que já não é de agora. Tais reformas envolvem medidas para melhorar a regulamentação dos fluxos de capital entre os Estados, assim como a proteção contra futuros choques econômicos globais para os países mais vulneráveis do sistema.
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Para além disso, é notório que o século XXI testemunhou o surgimento de vários outros desafios internacionais importantes, incluindo alterações climáticas, pandemias, questões referentes à segurança alimentar — apenas para citar alguns. A presidência brasileira do G20, portanto, deverá reconhecer a necessidade de medidas proativas para enfrentar justamente esses desafios hoje em curso no mundo. Dado que essas crises ameaçam o bem-estar da população em todos os cantos do planeta, há uma necessidade premente de ação global que só os esforços do G20 podem empreender de maneira eficiente. Afinal, muitas das instituições de governança do pós-guerra capitaneadas pelo Ocidente, a exemplo de organizações internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), não se mostraram capazes de solucionar esses problemas espinhosos.
Para além disso, o Banco Mundial e o FMI também se mostraram incapazes de se adaptarem às novas realidades contemporâneas, dada a distribuição desigual de poder político em sua estrutura e, especialmente, por sua natureza altamente eurocêntrica. Sob a presidência do Brasil, portanto, um dos focos de discussão na Cúpula do G20 em 2024 tocará exatamente na reforma e na modernização urgente dessas instituições para torná-las mais representativas das necessidades e realidades geopolíticas no século XXI. A busca deve ser por uma governança global que se mostre mais inclusiva, equitativa, justa e eficaz, de modo a enfrentar todos os desafios já mencionados anteriormente, mas também para dar maior voz aos países em desenvolvimento e ao próprio Sul Global, do qual o Brasil faz parte.

Se for bem-sucedida na condução dessas importantes discussões no âmbito do G20 em 2024, a presidência brasileira promete marcar seu lugar na história do grupo. Mais do que isso, representará também uma vitória diplomática relevante para a política externa de Lula em seu terceiro mandato à frente do país.

As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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