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Forças Armadas: rádio por software coloca Brasil em seleto grupo de 15 países que dominam tecnologia

© Cb Estevam / CCOMSEx / Flickr / ExércitoMilitar do Exército usa radiocomunicador durante operação Sagitta Primus III, em 18 de agosto de 2020
Militar do Exército usa radiocomunicador durante operação Sagitta Primus III, em 18 de agosto de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 09.01.2024
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Em desenvolvimento desde agosto de 2012, Marinha, Exército e Aeronáutica se uniram a várias empresas brasileiras para a criação de uma tecnologia que traz mais modernidade e segurança às comunicações em campo das Forças Armadas. Além de rádios veiculares e portáteis, foram criados equipamentos que podem ser transportados por mochila.
Uma parceria entre a iniciativa privada e o Ministério da Defesa coloca o Brasil entre o seleto grupo de 15 países — como Estados Unidos, Alemanha, China, Rússia e França — que detém uma tecnologia avançada para as comunicações. É o Projeto Rádio Definido por Software de Defesa (RDS-Defesa), que no fim do ano passado entregou ao Exército 16 protótipos que serão testados em viaturas. Os equipamentos foram recebidos pelo centro tecnológico da corporação, que já realiza testes funcionais de desempenho para verificar o atendimento aos requisitos do programa.
A tecnologia ajuda a manter as comunicações em tempo real entre os militares, sem interferências externas, além de evitar que conversas sejam violadas durante operações.
"Também impulsiona a base industrial de defesa, fortalece os laços entre as organizações militares e instituições de ciência e tecnologia, e cria condições para o início da pesquisa em rádios cognitivos", acrescentou o Exército. Esse último é conhecido como o "rádio que aprende", por inserir uma inteligência nos sistemas de telecomunicações que organiza e mantém uma infraestrutura sem fio com mínima interferência humana.

Qual o poder de guerra do Brasil?

Para o especialista em assuntos militares Pedro Paulo Rezende, o projeto é indispensável para garantir a segurança da comunicação nas Forças Armadas através da tecnologia nacional.

"Trabalha alternando várias frequências durante a transmissão de voz, e é realmente um avanço necessário para o Exército Brasileiro, que emprega equipamentos norte-americanos na maioria das suas viaturas. Vai ser um avanço [o RDS-Defesa] extremamente importante", disse à Sputnik Brasil.

Conforme Rezende, há necessidade de complementar o rádio definido por software por um sistema de transmissão de dados em tempo real, que já é pesquisado pela Força Aérea Brasileira (FAB).
"Será utilizado nos novos caças que a FAB está incorporando a sua frota [F-39 Gripen]. Um avião de alerta antecipado equipado com radar pode manter um piloto informado em tempo real durante toda a missão graças a esse sistema, que é o Link-BR2. Os dois projetos [incluindo o RDS-Defesa] são da AEL Sistemas, empresa de Porto Alegre", acrescenta o especialista.
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Quais são as tecnologias militares?

A viabilidade dos novos rádios definidos através de um software de defesa é só mais uma das grandes inovações trazidas pelas tecnologias militares. O engenheiro mecânico e ex-diretor técnico de projetos de viaturas militares Odilon Lobo de Andrade Neto ressaltou à Sputnik Brasil a importância de parcerias entre empresas privadas e as Forças Armadas para acelerar avanços no setor.

"Essa é uma forma mais racional e inteligente de realizar essas coisas, que é envolver uma quantidade de empresas e universidades, fazer com que isso consiga gerar algo utilizável. Seja na área cibernética ou em toda a área de emprego militar, que é bastante extensa. Isso é uma maneira criativa para desenvolvimento de tecnologia e conhecimento", resumiu.

Porém o especialista reforçou que priorizar a tecnologia nacional não é um caminho fácil, principalmente por Exército, Aeronáutica e Marinha possuírem muitas necessidades urgentes. "O militar que está na ponta vai precisar de algo que lhe atenda de imediato, mas nem sempre iniciar um processo [de desenvolvimento de um equipamento] é rápido, o que torna muitas das soluções buscar tecnologias de fora, que já estão prontas", explicou.
Outro empecilho, apontou Andrade Neto, é que o desenvolvimento na área militar só acontece a partir de grandes investimentos. Porém em países como o Brasil, que possuem tantas necessidades urgentes em áreas como saúde, educação e infraestrutura, a disponibilidade de recursos é menor. "Então normalmente não é feito [o uso de tecnologia própria], embora a possibilidade de desenvolvimento de conhecimento seja bastante razoável e haja material humano para isso. Agora, transformar isso em material utilizável requer necessidade de investimento muito maior. Um país como o nosso sempre tem que dividir com outras alternativas".
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Já o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), coronel Armando Lemos, acredita também que a criação de produtos no país contribui para a soberania nacional e a efetividade das Forças Armadas. "Em situação de conflito, isso garante a continuidade do fornecimento de equipamentos. Há grande dificuldade na transferência de tecnologias militares por outros países, por ser algo estratégico", acrescenta.
Além disso, parcerias com o setor privado ajudam a gerar empregos qualificados ao movimentar as empresas. "Existe outro aspecto, que é a retenção de talentos, porque quando há serviço, quando há pesquisa e aplicação de recursos em desenvolvimento, existe incentivo para que técnicos, engenheiros e outros profissionais possam se engajar em projetos dentro do país, e não serem cooptados por outros países para trabalharem fora", finaliza.

Qual é o gasto militar do Brasil?

Historicamente, o Brasil possui uma média de gastos com defesa militar que corresponde a 1,4% do produto interno bruto (PIB), índice inferior ao padrão mundial de 2,3%.
Para este ano, o Congresso Nacional aprovou um orçamento de R$ 126,1 bilhões, um incremento de R$ 3,5 bilhões com relação a 2023, apesar de manter o mesmo percentual em relação ao PIB.
O especialista em assuntos militares Pedro Paulo Rezende lembrou que a maior parte dos recursos para as Forças Armadas "são sacrificados" pelas despesas de pessoal, que no ano passado ultrapassaram 78%. "E a maior parte desse montante vai para os inativos. Além disso, tem uma despesa grande com manutenção, como das viaturas, prédios, quartéis. Com isso, sobra muito pouco para desenvolvimento científico e investimentos", resumiu.
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