Analista: Londres 'não precisava' participar de ataques contra houthis, mas seguiu ordens dos EUA
08:39 14.01.2024 (atualizado: 09:29 14.01.2024)
© Foto / X/@CENTCOMCaptura de tela de imagem no X de aviões da Marinha dos EUA participando dos ataques aéreos de 11 de janeiro de 2024 contra alvos houthis no Iêmen, conduzidos pelos EUA e pelo Reino Unido
© Foto / X/@CENTCOM
Nos siga no
Os EUA e o Reino Unido realizaram ataques aéreos contra alvos dos houthis no norte do Iêmen no início desta semana, com o objetivo declarado de dissuadir ataques a navios mercantes que atravessam o mar Vermelho.
Não havia necessidade de o Reino Unido participar dos ataques ao Iêmen, disse o antigo deputado britânico Matthew Gordon-Banks à Sputnik, explicando que Londres participou por ordem dos EUA.
"O Reino Unido não tem ambições geopolíticas no Iêmen e não tem capacidade militar para empreender nada além de ações de ataque limitadas, em paralelo com os EUA. O Reino Unido não precisava participar em ataques aéreos limitados contra os houthis, mas optou por fazê-lo, como um aliado dos Estados Unidos", disse o pesquisador aposentado da Academia de Defesa do Reino Unido, acrescentando que "muitos no Reino Unido, incluindo alguns funcionários do Ministério das Relações Exteriores, estão nervosos com esta ação".
Quatro caças Typhoon da Força Aérea Real lançaram bombas Paveway IV guiadas por GPS/laser contra duas instalações dos houthis durante os ataques, disse anteriormente o Ministério da Defesa do Reino Unido. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, descreveu os ataques como "uma ação limitada, necessária e proporcional em legítima defesa".
Entretanto, Gordon-Banks lembrou que a Itália, a França e a Espanha recusaram participar dos ataques, inclusive até prestar "apoio formal", com Paris afirmando que isso "enfraqueceria a sua capacidade de ser visto como um mediador honesto para a desescalada da situação em Gaza, que é a principal razão para as ações dos houthis".
Embora a ação militar limitada do Reino Unido contra alvos do movimento seja "vista em grande parte como uma necessidade do governo para tentar proteger a navegação no mar Vermelho, o que a ação faz é tornar os navios de guerra e aviões do Reino Unido alvos, uma vez que a administração Biden declarou que estas ações foram 'em apoio a Israel'", segundo o especialista.
O ex-deputado conservador disse estar preocupado com "qualquer movimento que faça alastrar o conflito entre Gaza e Israel por toda a região, agora que a escalada já ocorreu no Iêmen".
Sua opinião foi ecoada pelo ex-embaixador egípcio na Rússia, Ezzat Saad, que traçou paralelos entre os acontecimentos atuais e a intervenção militar dos EUA no Iraque em 2003. Na época, Saad lembrou em entrevista à Sputnik que "foi apenas o Reino Unido que participou com os Estados Unidos."
"É mais ou menos a mesma história se olharmos para o que está acontecendo no mar Vermelho", disse o diretor do Conselho Egípcio para as Relações Exteriores, se referindo especificamente à relutância da maioria dos aliados europeus dos EUA em participar deste bombardeio.
"Todos esses países sabem perfeitamente que o que está acontecendo no mar Vermelho, que os ataques dos houthis é um dos impactos ou resultados da política externa norte-americana na região. O fato é que os EUA conhecem apenas a abordagem militar para qualquer um dos problemas que enfrentamos aqui na região. Sem diplomacia, sem negociações, sem meios pacíficos para resolver os problemas. Apenas a abordagem militar", destacou Saad.
Segundo o diplomata, os países acima mencionados se recusaram a participar dos ataques aos houthis porque sabiam que os Estados Unidos eram "covardes o suficiente para não abordar as causas profundas de tais repercussões na segurança".
A este respeito, Saad destacou as tentativas malsucedidas de Washington de "conter" o conflito israelo-palestino e de "mantê-lo dentro dos territórios ocupados dos palestinos".
"Infelizmente, eles [os EUA] estão fazendo exatamente o oposto. Eles não são capazes de convencer os seus amigos ou aliados israelenses a parar a guerra [em Gaza], mesmo que temporariamente, ou, para ser justo, iniciar qualquer tipo de processo pacífico para pôr fim a isso", concluiu.