- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

El Salvador: o que significa a reeleição de Nayib Bukele?

© AP Photo / Marco UgarteO presidente de El Salvador, Nayib Bukele
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele - Sputnik Brasil, 1920, 06.02.2024
Nos siga no
Especiais
No último domingo, El Salvador testemunhou a reeleição de Nayib Bukele, com vitória que não surpreendeu os observadores políticos e que consolidou ainda mais o controle do presidente sobre o país. O líder se autodeclarou vitorioso com 85% dos votos, um "recorde mundial".
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o doutorando em relações internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Victor Cabral, comenta que "a maior surpresa que poderia existir, entre quem acompanha a política na América Latina, seria o percentual de votos e quantidade de deputados que o partido dele conseguiu eleger".
Segundo dados divulgados por Bukele nas redes sociais, seu partido, o Nuevas Ideas, conquistou 58 dos 60 assentos na Assembleia, consolidando seu controle sobre o Legislativo.
Bukele se apresenta como uma figura que representa a democracia e a esperança para El Salvador.
A votação expressiva teve aval da chefe da Missão de Observação Eleitoral (MOE) da Organização dos Estados Americanos (OEA), Isabel Saint Malo, que afirmou que a vantagem registrada por Bukele no pleito não deixa dúvidas sobre sua vitória.
#287 Mundioka  - Sputnik Brasil, 1920, 06.02.2024
Mundioka
El Salvador: como fica o país com a reeleição de Bukele?
Pesquisador do boletim Geocorrente, Cabral afirma que o governo de Bukele tem sido marcado por uma abordagem dura no combate à violência, um dos principais problemas enfrentados pelo país.

Como está a criminalidade em El Salvador?

A estratégia de segurança pública no país caribenho, notavelmente, conseguiu reduzir significativamente os índices de homicídios, passando de 106 para 2,4 assassinatos a cada 100 mil pessoas.
Ainda assim, para Cabral , é preciso se atentar a possíveis violações de direitos humanos. Em sua percepção, a resposta que El Salvador tem nos últimos anos é a violência como sendo a solução para a violência. Isso, segundo ele, tem um potencial de desenvolver "um ciclo interminável".
Um dos pontos críticos é o estado de exceção declarado por Bukele em março de 2022, que concedeu poderes extraordinários ao governo, incluindo detenções baseadas em denúncias anônimas. "Isso permitiu que ele pudesse reformular ainda mais o combate à violência que existia ali."
“Antes era um combate artificial, de fato por conta do acordo, e a partir do estado de exceção em março de 2022, que está em vigor até hoje, El Salvador já prendeu mais de 70 mil pessoas a partir desse estado de exceção", explica.
Apesar disso, Cabral aponta para a dificuldade em uma eventual responsabilização, dada a relativa falta de atenção internacional a El Salvador.

"A gente está falando de um pequeno país na América Central que só aparece no noticiário justamente por conta disso, violência e migração forçada. De resto, não há muito interesse de fato em olhar para esse país, pelo menos no todo", lamenta.

O discurso político do presidente de El Salvador tem gerado intenso debate não apenas em seu país, mas em toda a região latino-americana. Segundo Cabral, Bukele, em seu discurso, se posiciona como uma figura de governança e segurança exemplar, enquanto critica a falta de vontade política em outros países para combater a criminalidade.
"Ele se coloca como um modelo a ser seguido, atacando outros países por não agirem como El Salvador."
No entanto, há uma lacuna na abordagem de Bukele em relação a outras figuras políticas latino-americanas, como o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Bukele fala pouco sobre Lula, o que pode ser interpretado de várias maneiras, mas mostra uma certa distância entre eles", ressalta.
Quando questionado sobre a orientação política de Bukele, o pesquisador ressalta a complexidade do espectro político latino-americano. "Bukele representa uma figura difícil de classificar dentro das tradicionais categorias de esquerda e direita. Hoje, é mais fácil identificar alguém como 'bukelista' do que lhe atribuir uma posição específica no espectro político."
Eleitores fazem fila em uma seção eleitoral durante as eleições gerais na capital San Salvador. El Salvador, 4 de fevereiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 04.02.2024
Panorama internacional
El Salvador inicia eleições presidenciais e legislativas (VÍDEOS)
A professora e pesquisadora em relações internacionais no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e no IBMEC, Marcela Franzoni, destaca a popularidade de Bukele, que desafia as normas em meio a uma crise de democracia e polarização social.
"Ele apresentava níveis de popularidade perto dos 90%, o que chama atenção diante de outros casos, até por exemplo aqui no Brasil e em outros países."
Franzoni também aponta para os desafios estruturais enfrentados pelo sistema partidário tradicional no país, o que pavimentou o caminho para a ascensão de Bukele e seu partido. "El Salvador enfrenta, assim como outros países da América Latina, uma crise do seu sistema partidário tradicional."
Javier Milei, presidente da Argentina, participa do tradicional festival judaico de Hanukkah, em Buenos Aires. Argentina, 12 de dezembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 09.01.2024
Panorama internacional
'Autoritarismo' e medidas impopulares podem fazer de Milei o novo 'Collor', avaliam especialistas
Apesar dos esforços de Bukele para vender suas políticas de segurança como bem-sucedidas, ela adverte para os perigos do enfraquecimento institucional.
Além disso, sobre o segundo mandato de Bukele, ela sugere que o presidente enfrentará outros desafios para avançar além da segurança pública e abordar as questões estruturais do país. "O futuro do segundo mandato dele depende dele avançar para além do campo da segurança pública", afirma.

"Acho que o grande desafio do segundo mandato vai ser olhar para a dimensão econômica e dimensão social. Acho que existe uma 'incongruência', porque por um lado, você precisa avançar na consolidação desses direitos sociais, que são a diminuição da desigualdade, a acentuação ou a possibilidade de dar o acesso das pessoas às políticas públicas", afirma.

Ela conclui afirmando que uma oposição externa ainda maior seja possível nos próximos anos e que será preciso avançar em direitos civis para garantir um equilíbrio em El Salvador.
Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала