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Apesar de restrições dos EUA a semicondutores, 'atraso' chinês é cada vez menor, diz especialista

© AP Photo / Ng Han GuanSemicondutor desenvolvido na China é exposto durante conferência de tecnologia em meio às sanções norte-americanas. Shangai, 24 de julho de 2023
Semicondutor desenvolvido na China é exposto durante conferência de tecnologia em meio às sanções norte-americanas. Shangai, 24 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 15.02.2024
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Equipamentos considerados essenciais para o avanço tecnológico, os chips ou semicondutores têm provocado uma verdadeira "guerra fria" entre os países do globo. Desde 2020, os Estados Unidos realizam uma série de sanções contra as empresas chinesas, que parecem não terem surtido o efeito esperado. É o que apontam analistas à Sputnik Brasil.
Diante de um desenvolvimento exponencial da indústria de semicondutores, a China saltou da produção do seu primeiro chip só em 2009 para alcançar 27% do mercado global até 2027. O sucesso na corrida de desenvolvimento tecnológico causou temor aos Estados Unidos, que iniciaram uma verdadeira guerra para travar o país no setor: impedir a importação de máquinas avançadas e tecnologias essenciais.
Porém, o correspondente Mauro Ramos, da TVT e do Brasil de Fato na China, disse ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que o efeito tem sido o contrário.
"As pessoas com quem eu tenho conversado do setor, que acompanham o assunto, realmente não parecem muito preocupadas em relação a essas medidas restritivas. As últimas levaram a China a ter menos acesso aos chips mais avançados, mais usados pela indústria de inteligência artificial", explica Ramos.
Segundo o jornalista, o atraso chinês nessa área é cada vez menor, de pouco mais de um ano em relação às tecnologias mais avançadas.

"Eles acreditam que no ano que vem vão conseguir desenvolver, ou chegar perto [do panorama atual de outros países]. Claro que, até lá, a indústria pode continuar a avançar e se distanciar, mas eles não têm tanta preocupação por esse lado. Talvez o maior desafio seja a questão das máquinas para fazer os chips", explica.

Isso por conta do domínio da tecnologia que produz esses importantes equipamentos ser de uma empresa holandesa, com o apoio dos norte-americanos.
"É o que pode levar mais tempo [para driblar], mas também há uma certa confiança de que não será uma tarefa impossível devido ao alto nível de investimento em ciência e tecnologia, especificamente no setor de semicondutores. Inclusive o CEO da maior empresa produtora de máquinas falou que essas medidas empurram a China para avançar mais rapidamente", enfatiza.

O que são os semicondutores?

Encontrados em celulares, tablets e até máquinas agrícolas, cada vez mais presentes no cotidiano, os primeiros semicondutores foram pensados ainda na década de 1960, quando os computadores ocupavam até quatro andares, por conta do uso de grandes válvulas que faziam o movimento de conduzir eletricidade e parar (ou semiconduzir energia). Com o tempo, foram ficando cada vez menores, e a chamada miniaturização dessa tecnologia é o que permite a produção de equipamentos como um smartphone.
"No início da indústria dos semicondutores, a China estava, digamos, no mesmo nível dos Estados Unidos. Depois, houve uma aposta na integração ao mercado mundial e, de certa forma, deixou de investir nesse setor. Basicamente, entendeu que deveria produzir aparelhos. Isso, obviamente, foi revisto por conta da centralidade dos semicondutores e os esforços passaram a ser gigantescos", ressalta Mauro Ramos. Só o Fundo Nacional de Investimento da Indústria de Circuitos Integrados da China alocou mais de R$ 40 bilhões no setor desde 2019, o que fez o país saltar para mais de 600 mil engenheiros só nessa indústria.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, durante coletiva de imprensa na Casa Branca. Washington, D.C., EUA, 24 de abril de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 31.01.2024
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Qual é a relação entre a China e os Estados Unidos?

Rivais no campo dos semicondutores, as sanções dos Estados Unidos contra a China começaram durante o governo do ex-presidente Donald Trump e foram intensificadas na gestão Joe Biden, que chegou a proibir 36 empresas chinesas em 2022 de usarem tecnologias norte-americanas. Com isso, Pequim acusou o país de cometer "terrorismo tecnológico", enquanto Washington justificou a medida como uma necessidade para preservar a segurança nacional.

"Isso é uma coisa que os próprios chineses disseram quando ocorreram as últimas medidas restritivas, no qual afirmaram que os Estados Unidos usam esses conceitos de segurança nacional para seu próprio interesse e que não têm relação, necessariamente, com a segurança, mas apenas interesses econômicos", alegou.

Além disso, o jornalista lembrou que outro argumento usado pelo país é com relação às capacidades avançadas da inteligência artificial, que criam preocupações sobre eventuais sistemas de vigilância, o que poderia criar violações e abusos aos direitos humanos.
"Mas, ironicamente, nos Estados Unidos, tem uma organização que se chama União Americana pelas Liberdades Civis, na qual eles mesmos vêm denunciando como a tecnologia de reconhecimento facial vem violando direitos e contribuindo para aumentar a desigualdade racial, com mais prisões injustas ou erradas, que afetam desproporcionalmente as pessoas negras", diz.

Taiwan: a ilha que concentra 90% da produção de chips de alta tecnologia

Para além das questões geopolíticas que envolvem Taiwan, que mais de 180 países reconhecem como parte da China, Diego Kerber, jornalista do site e canal do Youtube Adrenaline e especialista em semicondutores, afirmou ao podcast Mundioka que a região se tornou importante para todo o mundo, inclusive Pequim, justamente por concentrar 90% da produção dos chips de alta tecnologia.
"Isso era uma das coisas que mantinham o status quo da ilha. A China não ia simplesmente lá e incorporava Taiwan porque ela era muito estratégica para todo mundo, inclusive para ela própria. Eu acho que uma das coisas que pode dar a situação é o processo de pulverização [do domínio dessa tecnologia]", enfatiza. É o caso dos investimentos mundo afora no setor, o que pode reduzir esse "poder de barganha" e mudar "esse balanço".

"Se você pode fabricar o seu próprio chip ou tem empresas próprias e consegue fazer uma tecnologia avançada e não depende mais dos estrangeiros, isso quer dizer que toda vez que os Estados Unidos tentarem usar o mecanismo de bloqueio para criar pressão sobre o governo chinês, ele vai ter menos efeito", acrescentou.

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Quais efeitos a pulverização produtiva dos semicondutores pode causar?

O especialista acredita ainda que a pulverização da cadeia produtiva dos semicondutores pode causar um barateamento do material e, consequentemente, atingir o produtor final. "A tendência é que a gente tenha produtos de alta tecnologia com um custo mais baixo, por conta de ter uma quantidade maior disponível no mercado. É um dos componentes que torna mais caro vários dos nossos eletrônicos", resume.
Apesar disso, o jornalista pontua que o processo é bastante restrito a alguns países do mundo. "É muito difícil de ser realizada, porque ela precisa ser feita com uma mão de obra muito especializada. Você precisa de um conjunto de pessoas que têm o domínio de uma tecnologia, fábricas que são de alto custo, e poucos são os players, poucas são as empresas que fazem as tecnologias que você precisa para construir o semicondutor."
A pandemia, segundo Diego Kerber, mostrou a necessidade de reduzir a concentração dessas indústrias, a exemplo do que ocorreu no Brasil, quando a falta de oferta de semicondutores foi uma das responsáveis pela queda da produção de veículos.
"Essa foi uma das indústrias que notamos ter um gargalo maior do que outras e, para compensar isso, é necessário criar novos meios de produção. Mas não é uma tecnologia que temos no país, muito menos quando falamos em tecnologia de ponta", relata.

Semicondutores na indústria bélica

Já com relação à indústria bélica, o jornalista lembrou que esses materiais também possuem grande importância. Segundo ele, as grandes potências trabalham com os semicondutores para terem mais tecnologia e menos volume [de equipamentos].

"Então desde um caça mais eficiente até o computador que vai calcular a trajetória para disparar um míssil, um radar ou como opera um caça, por exemplo, que precisa de uma grande quantidade de tecnologia embarcada para conseguir entregar performance, faz toda a diferença quando você tem a possibilidade de ter acesso a microchips em quantidade maior, em qualidade maior e com mais performance", finalizou.

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