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Lula na Caricom: 'Queremos, literalmente, pavimentar nosso caminho até o Caribe'
Lula na Caricom: 'Queremos, literalmente, pavimentar nosso caminho até o Caribe'
Sputnik Brasil
O presidente brasileiro foi convidado para a sessão de encerramento da 46ª Conferência de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom), realizada nesta... 28.02.2024, Sputnik Brasil
2024-02-28T17:47-0300
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Quinto maior parceiro comercial e econômico dos 15 países e 5 associados da Caricom, o Brasil participou da cúpula do bloco mais antigo da América Latina. A agenda internacional é a segunda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva hoje. Ele ressaltou a importância do fortalecimento das relações com nações do Sul Global.Durante o discurso, Lula citou como exemplo o que ouviu da primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley: o país conta com 27 voos semanais para o Reino Unido e os Estados Unidos, mas nenhum para o Brasil. Diante disso, o presidente ressaltou que um dos maiores obstáculos para aumentar a integração regional é justamente a falta de conexões, seja por terra, mar ou ar.Os países caribenhos importam mais de 80% dos alimentos que consomem, um dos maiores percentuais do mundo.Além do presidente brasileiro, participam da comitiva que esteve na Guiana os ministros de Portos e Aeroportos (Silvio Costa Filho), Planejamento (Simone Tebet), Integração e do Desenvolvimento Regional (Waldez Góes) e Transportes (Renan Filho).Aportes do Brasil ao Banco de Desenvolvimento do CaribeO petista também declarou que, até o fim deste ano, o governo brasileiro fará aportes ao fundo do Banco de Desenvolvimento do Caribe, do qual o país se tornou membro em 2010, no fim do seu segundo mandato. Segundo Lula, os países da região sofrem com altos níveis de endividamento e possuem condições menos favoráveis de renegociação junto aos organismos internacionais."Guiana, Haiti, Suriname e Trinidad e Tobago são membros da cadeira do Brasil na diretoria executiva do FMI [Fundo Monetário Internacional]. Todos nos beneficiaríamos da reforma das instituições de Bretton Woods para torná-las mais representativas. A arquitetura financeira internacional não dispõe de ferramentas adequadas para responder às demandas de desenvolvimento sustentável e enfrentamento à mudança do clima", acrescenta.Lula ainda citou o panorama do Haiti, país que concentra 61% da população do bloco e que se vê "novamente imerso numa espiral de insegurança e instabilidade". Segundo o presidente brasileiro, foi o primeiro país da América Latina a se tornar independente e abolir a escravidão.'O Brasil voltou a olhar para o seu entorno'Por fim, o discurso do presidente Lula lembrou que o "Brasil voltou a olhar para seu entorno" e que a região possui o desafio de manter a "autonomia" em meio às rivalidades geopolíticas globais.Confira abaixo o discurso completo do presidente Lula:Eu quero dizer, minhas amigas e meus amigos, a alegria de estar novamente entre os companheiros e companheiras da Caricom. Em 2005 tive a honra de participar de uma cúpula como esta, no Suriname. Foi a primeira vez que um chefe de Estado brasileiro se dirigiu aos líderes da Caricom. Em 2010 fui anfitrião da primeira Cúpula Brasil-Caricom.Dela resultou nossa associação ao Banco de Desenvolvimento do Caribe, além de diversas iniciativas de cooperação técnica. Apesar dessa aproximação, não logramos consolidar uma agenda consistente com a região. Sabemos que a Caricom espera muito mais do Brasil.Sabemos dos principais problemas que atingem a região: a insegurança alimentar, que — segundo o Programa Mundial de Alimentos — ameaça metade da população caribenha, e a mudança do clima, que coloca em risco todo o planeta, sobretudo os países insulares.Quero ressaltar que esses dois problemas estão no centro dos debates travados pelo Brasil nos fóruns internacionais. Quero ressaltar também que esses dois problemas têm a mesma raiz: a desigualdade. Portanto, a luta contra a desigualdade no mundo é também a luta das populações caribenhas.Não é possível que em um planeta que produz comida suficiente para alimentar toda a população mundial, cerca de 735 milhões de seres humanos não tenham o que comer.Não é possível que os países ricos, principais responsáveis pela crise climática, continuem descumprindo o compromisso de destinar US$ 100 bilhões [R$ 497,3 bilhões] anuais aos países em desenvolvimento para o enfrentamento da mudança do clima. Não é possível que o mundo gaste por ano US$ 2 trilhões [R$ 9,9 trilhões] e US$ 200 bilhões [R$ 994,7 bilhões] em armas.Guerras provocam destruição, sofrimento e mortes, sobretudo de civis inocentes. O Brasil seguirá lutando pela paz mundial. Uma guerra na distante Ucrânia afeta todo o planeta, porque encarece os preços dos alimentos e dos fertilizantes.Um genocídio na Faixa de Gaza afeta toda a humanidade, porque questiona o nosso próprio senso de humanidade. E confirma uma vez mais a opção preferencial pelos gastos militares, em vez de investimentos no combate à fome na Palestina, na África, na América do Sul ou no Caribe.Minhas companheiras e meus companheiros, ouvi da primeira-ministra Mia Mottley que Barbados tem 27 voos semanais para o Reino Unido e os Estados Unidos e nenhum para o Brasil.Portanto, nosso maior obstáculo é a falta de conexões, seja por terra, por mar ou pelo ar. Uma das rotas de integração e desenvolvimento prioritárias para meu governo é a do Escudo Guianense, que abrange a Guiana, o Suriname e a Venezuela.Queremos, literalmente, pavimentar nosso caminho até o Caribe. Abriremos corredores capazes de suprir as demandas de abastecimento e fortalecer a segurança alimentar da região.É importante lembrar, senhor presidente, que viajaram comigo meus ministros de Integração, de Portos e Aeroportos, Transportes e Planejamento. Eles estão prontos para aprofundar a agenda de integração com a Guiana, o Suriname e os outros países do Caribe.O Brasil pode oferecer gêneros alimentícios a preços competitivos, mas também pode contribuir para ampliar a produtividade agrícola local.Por isso, quero convidar os países da Caricom a se somarem à Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza que será lançada pela presidência brasileira do G20.Queremos promover políticas públicas e mobilizar recursos para essa causa.Meus amigos e minhas amigas, a criação do fundo de perdas e danos, na COP de Dubai, foi uma conquista histórica, mas a luta não terminará enquanto não houver mais fundos para a adaptação e o cumprimento da Agenda 2030 como um todo.Como anfitrião da COP30, o Brasil quer trabalhar com os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS). O IPCC é categórico sobre a urgência de limitar o aumento na temperatura global a um grau e meio.Precisamos unir forças para avançar em nossa "Missão 1.5", acelerando a implementação dos compromissos já assumidos e adotando metas mais ambiciosas em 2025.Com a Guiana e o Suriname, que também são países-membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), queremos convidar outros países da Caricom a seguirem São Vicente e Granadinas e se somarem à declaração "Unidos por nossas Florestas".Os serviços que as florestas prestam ao mundo precisam ser valorizados. O Caribe é vulnerável a eventos extremos, que também se tornaram mais frequentes no Brasil.Tenho a satisfação de anunciar que, por decisão conjunta, o Brasil e a Caricom decidiram fortalecer a gestão integrada de riscos de desastres, por meio do "Mecanismo de Resposta" da Agência Caribenha de Gerenciamento de Emergências em Desastres [CDEMA].Amigas e amigos, o Brasil e a Caricom estão lado a lado também na defesa de uma governança global mais justa.Não é mera coincidência que, nas votações da Assembleia Geral das Nações Unidas [AGNU], a convergência entre nós chegue a 80%. Também compartilhamos do diagnóstico da Iniciativa de Bridgetown.Muitas de suas propostas são bandeiras que o Brasil erguerá na presidência do G20. Refiro-me, em especial, ao pleito pela ampliação dos recursos disponíveis a países em desenvolvimento.Até o final deste ano, faremos um aporte ao fundo concessional do Banco de Desenvolvimento do Caribe. Países caribenhos sofrem com altos níveis de endividamento e têm condições menos favoráveis de renegociação por terem ascendido à condição de países de renda média.Guiana, Haiti, Suriname e Trinidad e Tobago são membros da cadeira do Brasil na diretoria executiva do FMI. Todos nos beneficiaríamos da reforma das instituições de Bretton Woods para torná-las mais representativas.A arquitetura financeira internacional não dispõe de ferramentas adequadas para responder às demandas de desenvolvimento sustentável e enfrentamento à mudança do clima. No Haiti, precisamos agir com rapidez para aliviar o sofrimento de uma população dilacerada pela tragédia.Infelizmente, a comunidade internacional não deu ouvidos quando o Brasil alertou que o esforço de estabilização só seria sustentável com apoio maciço ao desenvolvimento e ao fortalecimento institucional do país. Hoje, o Haiti — primeira nação independente do Caribe e primeiro país a abolir a escravidão no hemisfério ocidental — se vê novamente imerso numa espiral de insegurança e instabilidade.Escutar a voz da região é, portanto, imprescindível. São de suma importância o engajamento caribenho na Missão Multinacional da ONU e o empenho do Grupo de Personalidades Eminentes da Caricom na mediação entre as forças políticas haitianas. A crise securitária só se resolverá com avanço no processo político.Temos uma ligação especial com o Haiti, materializada pelos cerca de 200 mil haitianos que vivem no Brasil. Estamos oferecendo treinamento à Polícia Nacional haitiana e vamos inaugurar um centro de formação profissional para jovens haitianos no sul do país, no valor de US$ 17 milhões [R$ 84,5 milhões].Com mais de 50 anos, a Caricom é um dos mais antigos blocos de integração do mundo em desenvolvimento.O PIB [produto interno bruto] combinado de seus 15 membros é de US$ 120 bilhões [R$ 596,3 bilhões], maior do que o de alguns países sul-americanos. Sua população de 19 milhões de pessoas é um ativo muito valioso.O Brasil voltou a olhar para seu entorno, ciente de que somente juntos lograremos uma inserção internacional robusta.A Caricom se abriu para o Sul, rejeitando a condição de zona de influência de potências alheias à região. Temos o desafio de manter nossa autonomia em meio a rivalidades geopolíticas.Cabe a nós mantermos a região como zona de paz. Abrigamos sociedades multiétnicas, entrelaçadas por culturas vibrantes.Mas também carregamos o trauma da maior migração forçada da história. O Brasil e o Caribe foram os grandes destinos do tráfico humano.Como parte da diáspora africana, compartilhamos da responsabilidade de resgatar e preservar a memória dos flagelos do colonialismo e da escravidão. Nossa relação pode ir muito além do intercâmbio de boas práticas e de atividades de capacitação.Vemos no bloco um parceiro econômico promissor e um interlocutor político estratégico. O Brasil já é o quinto maior fornecedor da Caricom.Nossa corrente de comércio foi de US$ 2,7 bilhões de dólares no ano passado, mas já havia superado US$ 5 bilhões em 2008, o que demonstra seu potencial de crescimento. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos [ApexBrasil] identificou mais de mil oportunidades de inserção de produtos brasileiros nos países da comunidade.Ocorre que bens e serviços não circulam onde não há vias abertas. Belém, Boa Vista e Manaus estão mais próximas de capitais do Caribe do que de outras grandes cidades brasileiras.Meus amigos e minhas amigas, na Cúpula de 2010, falei da nossa vocação — do Brasil e do Caribe — "aproximar para unir e unir para mudar". Essa mensagem segue atual e relevante.Em meus mandatos anteriores, chegamos a ter embaixadas residentes em todos os países da Caricom. Queremos restabelecer nossa presença diplomática em todos os países da Caricom. Estamos reabrindo nossa missão junto a São Vicente e Granadinas.Vamos retomar nosso mecanismo de consultas políticas para aprofundar nosso diálogo e formular uma agenda substantiva para uma segunda Cúpula Brasil-Caricom.O escritor caribenho [Vidiadhar] Naipaul, prêmio Nobel de literatura, disse que "muitas pessoas estão confinadas no nicho que esculpem para si mesmas e se limitam a poucas possibilidades pela estreiteza de sua visão". Por isso, quero convidá-los para, juntos, expandir nossa visão e conquistar um lugar maior no mundo.A Caricom é parceiro fundamental do Brasil e parte indispensável da CELAC [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos], sem a qual o projeto de integração regional permanecerá inacabado.
https://noticiabrasil.net.br/20240228/parceria-brasil-caribe-apos-atingir-comercio-recorde-em-2012-pais-volta-olhares-para-a-regiao-33311240.html
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Quinto maior parceiro comercial e econômico dos 15 países e 5 associados da Caricom, o Brasil participou da cúpula do bloco mais antigo da América Latina. A agenda internacional é a segunda do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva hoje. Ele ressaltou a importância do fortalecimento das
relações com nações do Sul Global.
Durante o discurso, Lula citou como exemplo o que ouviu da primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley: o país conta com
27 voos semanais para o Reino Unido e os Estados Unidos, mas
nenhum para o Brasil. Diante disso, o presidente ressaltou que um dos maiores obstáculos para aumentar a integração regional é justamente a
falta de conexões, seja por terra, mar ou ar.
"Uma das rotas de integração e desenvolvimento prioritárias para o meu governo é a do Escudo Guianense, que abrange a Guiana, o Suriname e a Venezuela. Queremos, literalmente, pavimentar nosso caminho até o Caribe. Abriremos corredores capazes de suprir as demandas de abastecimento e fortalecer a segurança alimentar da região", enfatizou.
Os países caribenhos importam mais de 80% dos alimentos que consomem, um dos maiores percentuais do mundo.
"O Brasil pode oferecer gêneros alimentícios a preços competitivos. Mas também pode contribuir para ampliar a
produtividade agrícola local. Por isso quero convidar os países da Caricom a se somarem à Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza que será lançada pela presidência brasileira do G20. Queremos promover políticas públicas e mobilizar recursos para essa causa", disse Lula.
Além do presidente brasileiro, participam da comitiva que esteve na Guiana os ministros de Portos e Aeroportos (Silvio Costa Filho), Planejamento (Simone Tebet), Integração e do Desenvolvimento Regional (Waldez Góes) e Transportes (Renan Filho).
Aportes do Brasil ao Banco de Desenvolvimento do Caribe
O petista também declarou que, até o fim deste ano, o
governo brasileiro fará aportes ao fundo do Banco de Desenvolvimento do Caribe, do qual o país se tornou membro em 2010, no fim do seu segundo mandato. Segundo Lula, os
países da região sofrem com altos níveis de endividamento e possuem condições menos favoráveis de renegociação junto aos organismos internacionais.
"Guiana, Haiti, Suriname e Trinidad e Tobago são membros da cadeira do Brasil na diretoria executiva do FMI [Fundo Monetário Internacional]. Todos nos beneficiaríamos da reforma das instituições de Bretton Woods para torná-las mais representativas. A arquitetura financeira internacional não dispõe de ferramentas adequadas para responder às demandas de desenvolvimento sustentável e enfrentamento à mudança do clima", acrescenta.
Lula ainda citou o
panorama do Haiti,
país que concentra 61% da população do bloco e que se vê "novamente imerso numa espiral de insegurança e instabilidade". Segundo o presidente brasileiro, foi o primeiro país da América Latina a se tornar independente e abolir a escravidão.
"São de suma importância o engajamento caribenho na Missão Multinacional da ONU [Organização das Nações Unidas] e o empenho do Grupo de Personalidades Eminentes da Caricom na mediação entre as forças políticas haitianas. A crise securitária só se resolverá com avanço no processo político. Temos uma ligação especial com o Haiti, materializada pelos cerca de 200 mil haitianos que vivem no Brasil. Estamos oferecendo treinamento à Polícia Nacional haitiana e vamos inaugurar um centro de formação profissional para jovens haitianos no sul do país, no valor de 17 milhões de dólares [R$ 84,4 milhões]", diz.
'O Brasil voltou a olhar para o seu entorno'
Por fim, o discurso do presidente Lula lembrou que o "Brasil voltou a olhar para seu entorno" e que a região possui o desafio de manter a "autonomia" em meio às rivalidades geopolíticas globais.
"Cabe a nós manter a região como zona de paz. Abrigamos sociedades multiétnicas, entrelaçadas por culturas vibrantes. Mas também carregamos o trauma da maior migração forçada da história. O Brasil e o Caribe foram os grandes destinos do tráfico humano. Como parte da diáspora africana, compartilhamos da responsabilidade de resgatar e preservar a memória dos flagelos do colonialismo e da escravidão. Nossa relação pode ir muito além do intercâmbio de boas práticas e de atividades de capacitação. Vemos no bloco um parceiro econômico promissor e um interlocutor político estratégico", defende.
Confira abaixo o discurso completo do presidente Lula:
Eu quero dizer, minhas amigas e meus amigos, a alegria de estar novamente entre os companheiros e companheiras da Caricom. Em 2005 tive a honra de participar de uma cúpula como esta, no Suriname. Foi a primeira vez que um chefe de Estado brasileiro se dirigiu aos líderes da Caricom. Em 2010 fui anfitrião da primeira Cúpula Brasil-Caricom.
Dela resultou nossa associação ao Banco de Desenvolvimento do Caribe, além de diversas iniciativas de cooperação técnica. Apesar dessa aproximação, não logramos consolidar uma agenda consistente com a região. Sabemos que a Caricom espera muito mais do Brasil.
Sabemos dos principais problemas que atingem a região: a insegurança alimentar, que — segundo o Programa Mundial de Alimentos — ameaça metade da população caribenha, e a mudança do clima, que coloca em risco todo o planeta, sobretudo os países insulares.
Quero ressaltar que esses dois problemas estão no centro dos debates travados pelo Brasil nos fóruns internacionais. Quero ressaltar também que esses dois problemas têm a mesma raiz: a desigualdade. Portanto, a luta contra a desigualdade no mundo é também a luta das populações caribenhas.
Não é possível que em um planeta que produz comida suficiente para alimentar toda a população mundial, cerca de 735 milhões de seres humanos não tenham o que comer.
Não é possível que os países ricos, principais responsáveis pela crise climática, continuem descumprindo o compromisso de destinar US$ 100 bilhões [R$ 497,3 bilhões] anuais aos países em desenvolvimento para o enfrentamento da mudança do clima. Não é possível que o mundo gaste por ano US$ 2 trilhões [R$ 9,9 trilhões] e US$ 200 bilhões [R$ 994,7 bilhões] em armas.
Guerras provocam destruição, sofrimento e mortes, sobretudo de civis inocentes. O Brasil seguirá lutando pela paz mundial. Uma guerra na distante Ucrânia afeta todo o planeta, porque encarece os preços dos alimentos e dos fertilizantes.
Um genocídio na Faixa de Gaza afeta toda a humanidade, porque questiona o nosso próprio senso de humanidade. E confirma uma vez mais a opção preferencial pelos gastos militares, em vez de investimentos no combate à fome na Palestina, na África, na América do Sul ou no Caribe.
Minhas companheiras e meus companheiros, ouvi da primeira-ministra Mia Mottley que Barbados tem 27 voos semanais para o Reino Unido e os Estados Unidos e nenhum para o Brasil.
Portanto, nosso maior obstáculo é a falta de conexões, seja por terra, por mar ou pelo ar. Uma das rotas de integração e desenvolvimento prioritárias para meu governo é a do Escudo Guianense, que abrange a Guiana, o Suriname e a Venezuela.
Queremos, literalmente, pavimentar nosso caminho até o Caribe. Abriremos corredores capazes de suprir as demandas de abastecimento e fortalecer a segurança alimentar da região.
É importante lembrar, senhor presidente, que viajaram comigo meus ministros de Integração, de Portos e Aeroportos, Transportes e Planejamento. Eles estão prontos para aprofundar a agenda de integração com a Guiana, o Suriname e os outros países do Caribe.
O Brasil pode oferecer gêneros alimentícios a preços competitivos, mas também pode contribuir para ampliar a produtividade agrícola local.
Por isso, quero convidar os países da Caricom a se somarem à Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza que será lançada pela presidência brasileira do G20.
Queremos promover políticas públicas e mobilizar recursos para essa causa.
Meus amigos e minhas amigas, a criação do fundo de perdas e danos, na COP de Dubai, foi uma conquista histórica, mas a luta não terminará enquanto não houver mais fundos para a adaptação e o cumprimento da Agenda 2030 como um todo.
Como anfitrião da COP30, o Brasil quer trabalhar com os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS). O IPCC é categórico sobre a urgência de limitar o aumento na temperatura global a um grau e meio.
Precisamos unir forças para avançar em nossa "Missão 1.5", acelerando a implementação dos compromissos já assumidos e adotando metas mais ambiciosas em 2025.
Com a Guiana e o Suriname, que também são países-membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), queremos convidar outros países da Caricom a seguirem São Vicente e Granadinas e se somarem à declaração "Unidos por nossas Florestas".
Os serviços que as florestas prestam ao mundo precisam ser valorizados. O Caribe é vulnerável a eventos extremos, que também se tornaram mais frequentes no Brasil.
Tenho a satisfação de anunciar que, por decisão conjunta, o Brasil e a Caricom decidiram fortalecer a gestão integrada de riscos de desastres, por meio do "Mecanismo de Resposta" da Agência Caribenha de Gerenciamento de Emergências em Desastres [CDEMA].
Amigas e amigos, o Brasil e a Caricom estão lado a lado também na defesa de uma governança global mais justa.
Não é mera coincidência que, nas votações da Assembleia Geral das Nações Unidas [AGNU], a convergência entre nós chegue a 80%. Também compartilhamos do diagnóstico da Iniciativa de Bridgetown.
Muitas de suas propostas são bandeiras que o Brasil erguerá na presidência do G20. Refiro-me, em especial, ao pleito pela ampliação dos recursos disponíveis a países em desenvolvimento.
Até o final deste ano, faremos um aporte ao fundo concessional do Banco de Desenvolvimento do Caribe. Países caribenhos sofrem com altos níveis de endividamento e têm condições menos favoráveis de renegociação por terem ascendido à condição de países de renda média.
Guiana, Haiti, Suriname e Trinidad e Tobago são membros da cadeira do Brasil na diretoria executiva do FMI. Todos nos beneficiaríamos da reforma das instituições de Bretton Woods para torná-las mais representativas.
A arquitetura financeira internacional não dispõe de ferramentas adequadas para responder às demandas de desenvolvimento sustentável e enfrentamento à mudança do clima. No Haiti, precisamos agir com rapidez para aliviar o sofrimento de uma população dilacerada pela tragédia.
Infelizmente, a comunidade internacional não deu ouvidos quando o Brasil alertou que o esforço de estabilização só seria sustentável com apoio maciço ao desenvolvimento e ao fortalecimento institucional do país. Hoje, o Haiti — primeira nação independente do Caribe e primeiro país a abolir a escravidão no hemisfério ocidental — se vê novamente imerso numa espiral de insegurança e instabilidade.
Escutar a voz da região é, portanto, imprescindível. São de suma importância o engajamento caribenho na Missão Multinacional da ONU e o empenho do Grupo de Personalidades Eminentes da Caricom na mediação entre as forças políticas haitianas. A crise securitária só se resolverá com avanço no processo político.
Temos uma ligação especial com o Haiti, materializada pelos cerca de 200 mil haitianos que vivem no Brasil. Estamos oferecendo treinamento à Polícia Nacional haitiana e vamos inaugurar um centro de formação profissional para jovens haitianos no sul do país, no valor de US$ 17 milhões [R$ 84,5 milhões].
Com mais de 50 anos, a Caricom é um dos mais antigos blocos de integração do mundo em desenvolvimento.
O PIB [produto interno bruto] combinado de seus 15 membros é de US$ 120 bilhões [R$ 596,3 bilhões], maior do que o de alguns países sul-americanos. Sua população de 19 milhões de pessoas é um ativo muito valioso.
O Brasil voltou a olhar para seu entorno, ciente de que somente juntos lograremos uma inserção internacional robusta.
A Caricom se abriu para o Sul, rejeitando a condição de zona de influência de potências alheias à região. Temos o desafio de manter nossa autonomia em meio a rivalidades geopolíticas.
Cabe a nós mantermos a região como zona de paz. Abrigamos sociedades multiétnicas, entrelaçadas por culturas vibrantes.
Mas também carregamos o trauma da maior migração forçada da história. O Brasil e o Caribe foram os grandes destinos do tráfico humano.
Como parte da diáspora africana, compartilhamos da responsabilidade de resgatar e preservar a memória dos flagelos do colonialismo e da escravidão. Nossa relação pode ir muito além do intercâmbio de boas práticas e de atividades de capacitação.
Vemos no bloco um parceiro econômico promissor e um interlocutor político estratégico. O Brasil já é o quinto maior fornecedor da Caricom.
Nossa corrente de comércio foi de US$ 2,7 bilhões de dólares no ano passado, mas já havia superado US$ 5 bilhões em 2008, o que demonstra seu potencial de crescimento. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos [ApexBrasil] identificou mais de mil oportunidades de inserção de produtos brasileiros nos países da comunidade.
Ocorre que bens e serviços não circulam onde não há vias abertas. Belém, Boa Vista e Manaus estão mais próximas de capitais do Caribe do que de outras grandes cidades brasileiras.
Meus amigos e minhas amigas, na Cúpula de 2010, falei da nossa vocação — do Brasil e do Caribe — "aproximar para unir e unir para mudar". Essa mensagem segue atual e relevante.
Em meus mandatos anteriores, chegamos a ter embaixadas residentes em todos os países da Caricom. Queremos restabelecer nossa presença diplomática em todos os países da Caricom. Estamos reabrindo nossa missão junto a São Vicente e Granadinas.
Vamos retomar nosso mecanismo de consultas políticas para aprofundar nosso diálogo e formular uma agenda substantiva para uma segunda Cúpula Brasil-Caricom.
O escritor caribenho [Vidiadhar] Naipaul, prêmio Nobel de literatura, disse que "muitas pessoas estão confinadas no nicho que esculpem para si mesmas e se limitam a poucas possibilidades pela estreiteza de sua visão". Por isso, quero convidá-los para, juntos, expandir nossa visão e conquistar um lugar maior no mundo.
A Caricom é parceiro fundamental do Brasil e parte indispensável da CELAC [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos], sem a qual o projeto de integração regional permanecerá inacabado.