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Adiamento das eleições em Senegal configura tentativa de golpe? Analistas respondem
Adiamento das eleições em Senegal configura tentativa de golpe? Analistas respondem
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No dia 3 de fevereiro, em discurso à nação, o presidente do Senegal, Macky Sall, anunciou o adiamento das eleições, marcadas para o dia 25 do mesmo mês. Em... 01.03.2024, Sputnik Brasil
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Considerado uma vitrine da democracia no continente africano, o Senegal passa por um momento de instabilidade política, provocado pela iniciativa do atual presidente, Macky Sall, de adiar as eleições do país. A decisão foi aprovada no parlamento e ainda culminou com a expulsão e prisão de três parlamentares da oposição. A "jogada" do atual presidente "não surpreende quem acompanha a política senegalesa", afirma Mamadou All Diallo, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No ano passado, Ousmane Sonko, considerado principal adversário político do atual presidente, foi condenado pela Justiça, acusado de aliciar menores. A ação, de acordo com Franco Alencastro, mestre em relações internacionais pela PUC-Rio e criador do podcast 54 países, já dava indícios de que "a eleição desse ano seria potencialmente turbulenta". Desde a prisão à condenação de Sonko, relembra Alencastro, uma série de protestos foram desencadeados no país. Já em ebulição, a população voltou às ruas após o anúncio do adiamento das eleições. Dessa vez, segundo o analista, aconteceu uma rodada de protestos muito maiores, com confrontos entre manifestantes e polícias, que culminou na morte de pelo menos três pessoas. Golpe ou não?De acordo com Alencastro, citando um relatório da Human Rights Watch, o governo de Macky Sall prendeu, desde os protestos de 2021, "mais de mil ativistas e membros da oposição".Sobre o adiamento das eleições, o analista considera o termo golpe "um pouco forte", uma vez que, segundo ele, "implica uma ruptura muito forte da onda constitucional", ao passo que "estamos em um terreno um pouco cinzento". Um dos pontos listados por Alencastro que determinam não considerar o que está acontecendo no cenário político senegalês como golpe é o fato de Macky Sall ter indicado um sucessor. Entretanto, ele alerta que o quadro "traz muita preocupação".Já Diallo avalia a postura de Macky Sall como um "golpe que não deu certo". Para ele, Macky Sall queria realmente prorrogar o mandato.Na opinião de Diallo, uma vez Macky Sall obtendo sucesso ao prender opositores e contar com a colaboração da Justiça, o presidente teria calculado que a façanha de prolongar o mandato poderia dar certo, mas "não teve essa colaboração", ressalta. Cultura política maduraSe, do ponto de vista da transição de governos, Diallo critica a democracia senegalesa, por outro lado, ele destaca a forte participação pública como um destaque da democracia do país. Alencastro, por sua vez, descreve que Senegal possui um "histórico democrático muito interessante", mas ressalta que isso não pode ser relativizado e afirma que a "elite política" do país cria "subterfúgios para se manter no poder".Em relação às eleições do país, apesar da instabilidade política, Alencastro diz que ficaria surpreso com uma ruptura de maior grau do que a atual, caracterizada, por exemplo, por "fechamento de parlamento, intervenção militar, como a gente já viu em Burkina Faso, ou o cancelamento da eleição".Ainda sobre a situação democrática do país, Diallo considera que "falta um pouco de amadurecimento para a gente [Senegal] se tornar realmente essa vitrine de democracia que temos orgulho".
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Adiamento das eleições em Senegal configura tentativa de golpe? Analistas respondem
20:45 01.03.2024 (atualizado: 20:46 01.03.2024) Especiais
No dia 3 de fevereiro, em discurso à nação, o presidente do Senegal, Macky Sall, anunciou o adiamento das eleições, marcadas para o dia 25 do mesmo mês. Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas analisaram a atitude do atual mandatário e se a decisão pode ser considerada uma tentativa de golpe de Estado.
Considerado uma vitrine da democracia no continente africano,
o Senegal passa por um momento de instabilidade política, provocado pela iniciativa do atual presidente, Macky Sall, de adiar as eleições do país. A decisão foi aprovada no parlamento e ainda culminou com a expulsão e prisão de três parlamentares da oposição.
A "jogada" do atual presidente "não surpreende quem acompanha a política senegalesa", afirma Mamadou All Diallo, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
"Macky Sall sempre, desde que chegou ao poder, tentou permanecer no poder", argumenta o especialista. "Ele queria um terceiro mandato, não foi permitido, não tinha clima para isso e ele achou um jeito de prorrogar o seu próprio mandato, que seria não respeitar o calendário eleitoral", resume.
No ano passado, Ousmane Sonko, considerado principal adversário político do atual presidente, foi condenado pela Justiça, acusado de aliciar menores. A ação, de acordo com Franco Alencastro, mestre em relações internacionais pela PUC-Rio e criador do podcast 54 países, já dava indícios de que "a eleição desse ano seria potencialmente turbulenta".
Desde a prisão à condenação de Sonko, relembra Alencastro, uma série de protestos foram desencadeados no país. Já em ebulição, a população voltou às ruas após o anúncio do adiamento das eleições. Dessa vez, segundo o analista, aconteceu uma rodada de protestos muito maiores, com confrontos entre manifestantes e polícias, que culminou na morte de pelo menos três pessoas.
De acordo com Alencastro, citando um relatório da Human Rights Watch, o governo de Macky Sall prendeu, desde os protestos de 2021, "mais de mil ativistas e membros da oposição".
"A sensação é de um governo que está tendo uma deriva centralizadora, autoritária, e que está crescentemente acuado pela perspectiva de perder as eleições", analisou.
Sobre o adiamento das eleições, o analista considera o termo golpe "um pouco forte", uma vez que, segundo ele, "implica uma ruptura muito forte da onda constitucional", ao passo que "estamos em um terreno um pouco cinzento".
Um dos pontos listados por Alencastro que determinam não considerar o que está acontecendo no cenário político senegalês
como golpe é o fato de Macky Sall ter indicado um sucessor. Entretanto, ele alerta que o quadro "traz muita preocupação".
Já Diallo avalia a postura de Macky Sall como um "
golpe que não deu certo". Para ele, Macky Sall queria realmente prorrogar o mandato.
"Se fizesse as eleições em dezembro, ele garantiria a continuidade por um ano no poder porque com as eleições em dezembro, o vencedor tomaria posse em janeiro ou em fevereiro", conta, especulando que essa pudesse ser a trama pensada pelo atual presidente.
Na opinião de Diallo, uma vez Macky Sall obtendo sucesso ao prender opositores e contar com a colaboração da Justiça, o presidente teria calculado que a façanha de prolongar o mandato poderia dar certo, mas "não teve essa colaboração", ressalta.
"O golpe constitucional falhou nesse sentido. [...] Às vezes você quer fazer um golpe só que você não tem controle total da situação."
Se, do ponto de vista da transição de governos, Diallo critica a democracia senegalesa, por outro lado, ele destaca a forte participação pública como um destaque da
democracia do país.
"As crianças de seis a sete anos já participam. Já tem uma uma verba que elas gerenciam do colégio onde estudam. Elas participam, decidem, votam. A cultura política senegalesa, ela, sim, é bastante madura."
Alencastro, por sua vez, descreve que Senegal possui um "histórico democrático muito interessante", mas ressalta que isso não pode ser relativizado e afirma que a "elite política" do país cria "subterfúgios para se manter no poder".
"O Abdoulaye Wade, antecessor ao Macky Sall, foi eleito para um mandato de sete anos, mas como em 2001 foi feita uma nova Constituição, ele disse que, a partir da eleição seguinte dele, o primeiro mandato dele não contaria. Portanto, ele poderia concorrer a três mandatos".
Em relação às eleições do país, apesar da
instabilidade política, Alencastro diz que ficaria surpreso com uma ruptura de maior grau do que a atual, caracterizada, por exemplo, por "fechamento de parlamento, intervenção militar, como a gente já viu em Burkina Faso, ou o cancelamento da eleição".
Ainda sobre a situação democrática do país, Diallo considera que "falta um pouco de amadurecimento para a gente [Senegal] se tornar realmente essa vitrine de democracia que temos orgulho".