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Negociações Mercosul-UE não avançam: especialistas explicam se é hora de um adeus definitivo

© AP Photo / Vadim GhirdaBandeira da União Europeia (UE)
Bandeira da União Europeia (UE) - Sputnik Brasil, 1920, 01.03.2024
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As possibilidades de fechar um acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE) são cada vez menores, a julgar pelas declarações dos próprios líderes. Em conversa com a Sputnik, os analistas Julieta Heduvan e Carlos Luján refletiram sobre as atuais dificuldades da Europa e valorizaram a crescente importância do Sudeste Asiático como mercado.
Durante a sua recente visita à Espanha, o presidente paraguaio Santiago Peña foi contundente sobre o futuro das negociações entre o Mercosul e a UE: "Isso não vai acontecer neste ano". O presidente, que até julho ocupa a presidência pro-tempore do Mercosul, também afirmou que os países sul-americanos estão "mais do que prontos" para avançar, mas "as condições não estão reunidas por parte da UE".
A afirmação do líder paraguaio não foi a única manifestação de pessimismo recente em relação ao acordo. Após uma reunião em Buenos Aires entre a chanceler argentina Diana Mondino e o ministro da Europa e das Relações Exteriores, Stéphane Séjourné, ambos os líderes consideraram o acordo fracassado. O representante francês disse que o seu país mantém divergências "em questões climáticas, ambientais e de saúde" com o que foi proposto e defendeu a ideia de procurar outro tipo de acordos no futuro.
"O que Peña propôs não foi um posicionamento, mas sim o [status] honesto da situação atual. O Paraguai segue firme em suas intenções de chegar a um acordo com a União Europeia, mas todos os indícios mostram que não há cenário favorável para que isso aconteça", afirmou a especialista em relações internacionais argentina, Julieta Heduvan, à Sputnik.
A analista, especializada em política externa paraguaia, destacou que o Brasil "continua sendo o principal interlocutor e negociador" do Mercosul e "provavelmente o país que mais tem a ganhar" com o acordo, mas Assunção, da presidência pro-tempore do bloco, "tomou a decisão de priorizar recursos e esforços para focar em outras negociações que sejam mais atrativas aos seus interesses atuais, e também mais realizáveis".
Também em diálogo com a Sputnik, o cientista político e professor de Relações Internacionais uruguaio, Carlos Luján, disse que "está muito claro que esse acordo não vai acontecer no curto prazo e acredito que nenhum outro acordo deve surgir sobre a agenda de relações exteriores do Mercosul", embora tenha enfatizado que esses tipos de acordos "não são uma questão de um ano para o outro e seu progresso é medido em décadas".
Luján defendeu a importância que teria um acordo entre os blocos, embora tenha sublinhado que "em qualquer negociação, fechar o acordo não pode se tornar uma obsessão", dado que "não há nada pior do que fechar um mau acordo". O problema, frisou, são as alternativas que o Mercosul tem caso decida se retirar das conversações.
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Para o especialista, antes de decidir "abandonar" o diálogo, o Mercosul deveria primeiro analisar "qual é a alternativa e se sair dela traz mais benefícios do que continuar o diálogo".
Heduvan não acredita que as partes decidam se retirar das negociações, mas destacou que "o mais provável é que se passe para um ciclo diferente de negociações, os termos serão repensados, o âmbito será limitado e os esforços vão se concentrar em chegar a um acordo mais aceitável para todos os interlocutores". De qualquer forma, admitiu que "não será cedo nem rápido".
"Enquanto existirem os blocos, a possibilidade de gerar um acordo Mercosul-UE permanecerá aberta, mas não será esta", resumiu.

A situação difícil da Europa

Além das divergências internas no Mercosul, as últimas declarações do presidente paraguaio apontaram os problemas internos da UE como um dos fatores que atrasaram a assinatura do acordo, justamente em um ano em que a organização regional vai passar por novas eleições de autoridades.
"A situação na Europa é muito difícil: vemos isso com os agricultores na França e com os grãos ucranianos entrando na Europa e baixando os preços. É um momento muito desfavorável e difícil de resolver na própria Europa", analisou Luján.
Nesse sentido, o especialista analisou que as posições relativas ao conflito na Ucrânia, à adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e à "autonomia estratégica nesta nova ordem mundial" têm gerado algum "cabo de guerra" no continente europeu, algo que complica as posições dentro da UE.
"Às vezes tem-se a ideia de que a UE é um ator internacional semelhante ao que os EUA, o Brasil ou a China poderiam ser, mas não, há 27 países e não atingem o nível de uma confederação. São confiáveis, mas têm muitas tensões internas que devem ser resolvidas e as estrelas nem sempre estão alinhadas", acrescentou.
Para Heduvan, as diferenças internas não se explicam porque a Europa é "um parceiro menos confiável", mas porque "o mundo é um lugar mais instável e complexo do que antes". "A América do Sul tem a vantagem do afastamento e da irrelevância estratégica, mas o problema é o mesmo para todos", explicou.
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O foco no Sudeste Asiático

Mas enquanto as negociações com a UE estagnam, o bloco sul-americano pode olhar para outros horizontes, como as negociações com os Emirados Árabes Unidos (EAU), Cingapura, Índia ou Indonésia.
"O objetivo desta presidência pro-tempore é promover os acordos mais viáveis, não necessariamente os mais rentáveis. O interesse do Paraguai está agora centrado nos EAU, que estão começando a dar prioridade à região latino-americana como um novo destino para o seu comércio e investimentos. O desafio, como sempre, é garantir que todos os países tenham o mesmo objetivo, mas todos os acordos do Mercosul levam tempo, vimos isso recentemente com o acordo de Singapura. A principal característica do Mercosul é a sua heterogeneidade de interesses e prioridades, e esta é a base para a compreensão de todos os seus processos", disse Heduvan.
Luján destacou que "o mundo virou do Atlântico para o Pacífico" e que o Mercosul pode encontrar parceiros lucrativos no Sudeste Asiático. "Não deixemos de olhar para o Velho Mundo, mas olhemos também para aquele mundo asiático emergente que não é apenas a China", observou.
O cientista político não apenas elogiou o potencial do mercado indonésio, com os seus mais de 270 milhões de habitantes, mas também a importância de Cingapura como plataforma para "testar" o comércio naquela região. Além disso, considerou que o crescimento da influência da Índia no mundo seria também "uma aposta interessante a se explorar".
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