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Analista: plano alemão de ataque à Ponte da Crimeia é 'quase uma declaração de guerra'

© AP PhotoChamas e fumaça sobem da Ponte da Crimeia, que conecta o restante da Rússia à península da Crimeia, após explosão, em 8 de outubro de 2022
Chamas e fumaça sobem da Ponte da Crimeia, que conecta o restante da Rússia à península da Crimeia, após explosão, em 8 de outubro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 01.03.2024
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O comandante Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comentou à Sputnik Brasil o recente escândalo provocado pelo vazamento de uma gravação de uma conversa entre oficiais alemães sobre planos de ataque à Ponte da Crimeia com mísseis Taurus.
Ele expressou preocupação com as possíveis ramificações do plano alemão, o que levantaria questões sobre o conhecimento do governo. Vale ressaltar que o Ministério da Defesa germânico se recusou a comentar o caso.

"Ou o governo sabia de tudo e está envolvido até o pescoço, ou ele não sabia de nada e é uma conspiração."

Caso se trate de uma dissidência dentro do Exército alemão, o especialista entende que os militares envolvidos deverão passar por conselhos de Justiça e cortes marciais. No entanto, "se o governo tiver ciência disso, é mais grave ainda e quase uma declaração de guerra da Alemanha".
Além disso, ele avalia que a reação russa pode determinar o desenrolar dos fatos. "O fato realmente é grave, é uma intenção de agressão de um país contra outro. Essa situação pode sair do controle, se não for bem administrada, se as respectivas chancelarias não jogarem água nessa fogueira."
"Se a Rússia encarar isso como uma provocação bastante séria, eu não sei quais são as medidas que o governo russo pode adotar."
Grande navio anfíbio da Marinha da Rússia perto da Ponte da Crimeia, foto publicada em 17 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 01.03.2024
Operação militar especial russa
Editora-chefe da Sputnik: áudio comprova que Bundeswehr discutiu ataque à Ponte da Crimeia

Guerra híbrida já ocorre antes da operação militar russa

Farinazzo também ressalta o contexto mais amplo do conflito na região. Segundo ele, a guerra híbrida em andamento, com participação de países ocidentais, já existe há tempos — citando eventos como a Revolução Laranja e o Euromaidan, por exemplo.

"A guerra híbrida já existe faz tempo, e as próprias sanções fazem parte. Eu acho que todas essas medidas só estão prolongando mais o sofrimento do povo ucraniano, porque no terreno vemos que a situação das Forças Armadas da Ucrânia está cada vez mais difícil", disse, citando que foi constatado que militares americanos já morreram no conflito.

O comandante também apontou para a fragilidade na segurança das comunicações militares: "A revelação desses áudios mostra que os alemães têm uma falha muito grande no seu sigilo de comunicações, [e] que os sistemas de escuta da Rússia funcionam muito bem."

"O Ocidente, os altos oficiais da OTAN já entenderam que a Ucrânia não tem condições de vencer essa guerra. O ataque contra a ponte seria um 'grande abalo moral' para a Rússia, não tenho dúvida disso, mas não acho que vai interromper o fluxo das operações, que a Rússia pode manter, através de barcos ou com a linha férrea, para abastecer a Crimeia."

Por fim, ele enfatiza a importância das decisões políticas que serão tomadas nos próximos dias e semanas, especialmente em relação ao apoio internacional à Ucrânia. "Há um certo passo atrás de diversos países da Europa em apoiar a Ucrânia."

"Isso pode ser comprovado pelo fato de que o presidente francês, Emmanuel Macron, deu uma declaração desastrada e ninguém se alinhou com ele. Todo mundo negou o que ele disse, no sentido de enviar tropas para a Ucrânia."

Farinazzo conclui que se a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos recusar na totalidade a ajuda militar a Kiev, será "o fim da linha para a Ucrânia".

Silêncio do governo alemão

Farinazzo entende que a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, tem feito seu papel diplomático, enquanto o governo alemão, em silêncio, estaria admitindo a culpa ou buscando tempo. "Não podemos descartar a possibilidade de os backchannels [interlocutores não públicos] russos e alemães estarem conversando no sentido de ajeitar as coisas."

"[Olaf] Scholz [chanceler alemão] já se pronunciou contra [o uso de mísseis], a maior parte dos políticos é contra. Agora, se existe uma rebeldia nas Forças Armadas alemãs, já está mais do que na hora de o Poder Executivo fazer valer sua autoridade", opina.

O especialista militar explica que os mísseis Taurus — utilizados no ataque considerado terrorista pela Rússia — têm alcance maior que o Storm Shadow e o Scalp, devido a um motor mais eficiente. "O Storm Shadow e o Scalp têm motor turbojet e o Taurus tem um motor turbofan. Especula-se que a ogiva destrutiva do Taurus seria mais efetiva."

"Mas a grande preocupação da Rússia é justamente o alcance — o Taurus pode chegar a uns 500 quilômetros de alcance, ou seja, os ucranianos poderiam em tese atingir localidades no oeste da Rússia para além da fronteira entre os dois países."

A participação alemã no plano

Nesta sexta-feira (1º), foi divulgada uma conversa entre representantes do alto escalão da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha) em que se discutia um ataque à Ponte da Crimeia.
Militares da Alemanha planejam ataque à ponte da Crimeia e são flagrados em áudio - Sputnik Brasil, 1920, 01.03.2024
Operação militar especial russa
Leia a transcrição da conversa de militares alemães sobre plano de ataque à Ponte da Crimeia
Quatro representantes, incluindo o chefe do departamento de operações e exercícios da Força Aérea, participaram da conversa, ocorrida em 19 de fevereiro de 2024.
O brigadeiro-general Frank Graefe, chefe do departamento de operações e exercícios do Comando da Força Aérea em Berlim, o inspetor da Força Aérea Ingo Gerhartz e dois funcionários do centro de operações aéreas do Comando Espacial da Bundeswehr discutiram o envio de equipamento militar à Ucrânia e um consequente ataque à Ponte da Crimeia.
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