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'A teoria dos jogos': seria a razão capaz de evitar um conflito direto entre Estados Unidos e China?
'A teoria dos jogos': seria a razão capaz de evitar um conflito direto entre Estados Unidos e China?
Sputnik Brasil
A teoria dos jogos trata-se de um ramo da matemática que serve para avaliar determinadas situações estratégicas envolvendo dois jogadores racionais em busca de... 05.03.2024, Sputnik Brasil
2024-03-05T14:47-0300
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Afinal, quando utilizada para observar situações no âmbito das relações internacionais, a teoria dos jogos postula que os Estados também são atores racionais capazes de fazer escolhas baseadas em custo e benefício. Não só isso, eles são de igual modo capazes de compreender as consequências — boas ou ruins — de suas escolhas. Não à toa, essa teoria tem sido aplicada há muito tempo para analisar, compreender e prever o curso das ações de diferentes potências em vários cenários geopolíticos, inclusive quando se trata do atual cenário de confronto global envolvendo os Estados Unidos e a China.Isso porque o embate entre Washington e Pequim vem ganhando cada vez mais corpo durante as últimas décadas, em especial com as administrações de Donald Trump (2017–2021) e agora de Joe Biden. Certamente que Estados Unidos e China são países muito diferentes um do outro em diversos aspectos; uma dessas diferenças está no fato de que o primeiro possui um sistema democrático de escolha de sua liderança política, enquanto o segundo tem sua liderança escolhida pelo partido. Um faz parte da chamada civilização ocidental, enquanto o outro representa uma civilização asiática milenar. Os Estados Unidos contêm um enfoque social voltado para o sucesso do indivíduo, enquanto a China valoriza as conquistas de todo o coletivo. No entanto, apesar das múltiplas diferenças, segundo a teoria dos jogos ambos são atores racionais, capazes de compreender as consequências de suas ações, tanto no curto prazo como no futuro.Ainda assim, verdade é que nos últimos oito anos as tensões entre as duas nações têm aumentado significativamente. Quando Trump assumiu o cargo de presidente americano, em 2017, China e Estados Unidos — muito por culpa do último — se envolveram em guerras comerciais e tarifárias. Já quando Joe Biden assumiu o poder, em 2021, embora a retórica anti-China tenha abrandado, a pressão geopolítica de Washington sobre Pequim não arrefeceu. Com Biden, as guerras comerciais foram substituídas por sanções à tecnologia e à inteligência artificial chinesa. Outras questões delicadas envolveram por exemplo a visita de representantes do Partido Democrata, de Biden (como Nancy Pelosi), a Taiwan, numa clara provocação à Pequim.Ainda na administração Biden, o recente incidente envolvendo um suposto balão de espionagem chinês a sobrevoar parte do território americano serviu para aprofundar a desconfiança de Washington com a China. Por sua vez, este cenário de rusgas entre as duas superpotências do nosso século ocorre num momento em que o mundo já se vê mergulhado em múltiplos conflitos regionais, numa emergente crise climática e num cenário de intensas incertezas econômicas. A guerra do Ocidente contra a Rússia na Ucrânia e as irrefreáveis operações de Israel em Gaza também dividiram o mundo em dois campos, colocando americanos e chineses em lados opostos.Mesmo assim, há momentos em que os Estados Unidos — procurando agir de forma racional — se mostram um pouco mais propensos a cooperar com a China, como demonstrado pelo envio de altos funcionários do governo a Pequim para a discussão de temas importantes da agenda global. Exemplos são o envio à China pela Casa Branca de funcionários como Antony Blinken (atual secretário de Estado americano), Janet Yellen (Secretária do Tesouro) e até o veterano diplomata — hoje falecido — Henry Kissinger. Do lado chines, Xi Jinping e seu governo agem racionalmente, ao cordialmente receberem os enviados americanos para tratativas políticas com o fito de evitar o agravamento das tensões entre os dois países. Afinal, se os chineses agissem de forma fechada e indiferente, isso representaria uma atitude contraditória em relação aos princípios defendidos por Pequim de compromisso com a paz e com a diplomacia. A China, aliás, nunca se recusou ao diálogo franco com os americanos, apesar de compreender o alto grau de ceticismo da Casa Branca para com as políticas chinesas no mundo.Sabemos pelo período da Guerra Fria que, uma vez estabelecida a desconfiança entre as duas partes de um conflito devido à falta de comunicação, as perspectivas de cooperação futuras vão se tornando cada vez mais difíceis, aumentando assim a paranoia de ambos. Se tal cenário se consolidar de vez entre americanos e chineses, as duas nações darão prioridade irrestrita à proteção de seus interesses nacionais acima de qualquer outra coisa, o que só fara agravar a instabilidade internacional. Seja na teoria dos jogos ou na geopolítica real, dada a cristalização do antagonismo entre dois jogadores, ambos correm por tomar decisões egoístas que os beneficiam no curto prazo, mas que se mostram altamente prejudiciais no futuro. Logo, o confronto entre os Estados Unidos e a China — por assim dizer — não trará nenhum tipo de vantagem no médio e no longo prazo seja para Pequim seja para Washington.Ainda mais porque, de um lado, os americanos já se encontram bastante comprometidos com dois grandes conflitos simultâneos, a saber, na Ucrânia e em Gaza. Não obstante, Washington também mantém compromissos de segurança com nações como Japão, Australia e Índia para a contenção da China na Ásia. Essas vultosas despesas militares oriundas de múltiplos engajamentos regionais só aumentam a pressão sobre os Estados Unidos e sobre o bem-estar de seus cidadãos. Em tais circunstâncias, a eventual eclosão de um confronto militar com a China — com um potencial de escalada global — causará um enorme e desmedido stress para as Forças Armadas estadunidenses, colocando em risco sua hegemonia internacional. Em tempo, se os formuladores de políticas em Washington forem realmente racionais, como preconiza a teoria dos jogos, um embate direto com a China poderá sim ser evitado. O difícil é acreditar nessa racionalidade americana em vista de seu continuado apoio financeiro e militar tanto à Ucrânia como a Israel. Afinal, apoiar uma guerra por procuração contra a Rússia no Leste Europeu ou então o prolongamento da catástrofe humanitária em Gaza não são lá bons indicadores de que a razão predomina nos corredores da Casa Branca.As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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'A teoria dos jogos': seria a razão capaz de evitar um conflito direto entre Estados Unidos e China?
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A teoria dos jogos trata-se de um ramo da matemática que serve para avaliar determinadas situações estratégicas envolvendo dois jogadores racionais em busca de obter para si o melhor resultado. Seria possível, portanto, utilizar alguns postulados dessa teoria para prever o futuro do atual confronto global entre China e Estados Unidos?
Afinal, quando utilizada para observar situações no âmbito das relações internacionais, a teoria dos jogos postula que os Estados também são atores racionais capazes de fazer escolhas baseadas em custo e benefício. Não só isso, eles são de igual modo capazes de compreender as consequências — boas ou ruins — de suas escolhas. Não à toa, essa teoria tem sido aplicada há muito tempo para analisar, compreender e prever o curso das ações de diferentes potências em vários cenários geopolíticos, inclusive quando se trata do atual cenário de confronto global envolvendo os Estados Unidos e a China.
Isso porque o embate entre Washington e Pequim vem ganhando cada vez mais corpo durante as últimas décadas, em especial com as administrações de
Donald Trump (2017–2021) e agora de Joe Biden. Certamente que Estados Unidos e China são países muito diferentes um do outro em diversos aspectos; uma dessas diferenças está no fato de que o primeiro possui um sistema democrático de escolha de sua liderança política, enquanto o segundo tem sua liderança escolhida pelo partido. Um faz parte da chamada civilização ocidental, enquanto o outro representa uma civilização asiática milenar. Os Estados Unidos contêm um enfoque social voltado para o sucesso do indivíduo, enquanto a China valoriza as conquistas de todo o coletivo. No entanto, apesar das múltiplas diferenças, segundo a teoria dos jogos ambos são atores racionais, capazes de compreender as consequências de suas ações, tanto no curto prazo como no futuro.
Ainda assim, verdade é que nos últimos oito anos as tensões entre as duas nações têm aumentado significativamente. Quando Trump assumiu o cargo de presidente americano, em 2017, China e Estados Unidos —
muito por culpa do último — se envolveram em guerras comerciais e tarifárias. Já quando Joe Biden assumiu o poder, em 2021, embora a retórica anti-China tenha abrandado,
a pressão geopolítica de Washington sobre Pequim não arrefeceu. Com Biden,
as guerras comerciais foram substituídas por sanções à tecnologia e à inteligência artificial chinesa. Outras questões delicadas envolveram por exemplo a visita de representantes do Partido Democrata, de Biden (como Nancy Pelosi), a Taiwan, numa clara provocação à Pequim.
Ainda na administração Biden, o recente incidente envolvendo um suposto balão de espionagem chinês a sobrevoar parte do território americano serviu para aprofundar a desconfiança de Washington com a China. Por sua vez, este cenário de rusgas entre as duas superpotências do nosso século ocorre num momento em que o mundo já se vê mergulhado em múltiplos conflitos regionais, numa emergente crise climática e num cenário de intensas incertezas econômicas. A guerra do Ocidente contra a Rússia na Ucrânia e as irrefreáveis operações de Israel em Gaza também dividiram o mundo em dois campos, colocando americanos e chineses em lados opostos.
Mesmo assim, há momentos em que os Estados Unidos — procurando agir de forma racional — se mostram
um pouco mais propensos a cooperar com a China, como demonstrado pelo envio de altos funcionários do governo a Pequim para a discussão de temas importantes da agenda global. Exemplos são o envio à China pela Casa Branca de funcionários como Antony Blinken (atual secretário de Estado americano),
Janet Yellen (Secretária do Tesouro) e até o veterano diplomata — hoje falecido — Henry Kissinger. Do lado chines, Xi Jinping e seu governo agem racionalmente, ao cordialmente receberem os enviados americanos para tratativas políticas com o fito de evitar o agravamento das tensões entre os dois países. Afinal, se os chineses agissem de forma fechada e indiferente, isso representaria uma atitude contraditória em relação aos princípios defendidos por Pequim de compromisso com a paz e com a diplomacia.
A China, aliás, nunca se recusou ao diálogo franco com os americanos, apesar de compreender o alto grau de ceticismo da Casa Branca para com as políticas chinesas no mundo.
Sabemos pelo período da Guerra Fria que, uma vez estabelecida a desconfiança entre as duas partes de um conflito devido à falta de comunicação,
as perspectivas de cooperação futuras vão se tornando cada vez mais difíceis, aumentando assim a paranoia de ambos. Se tal cenário se consolidar de vez entre americanos e chineses, as duas nações darão prioridade irrestrita à proteção de seus interesses nacionais acima de qualquer outra coisa, o que só fara agravar a instabilidade internacional. Seja na teoria dos jogos ou na geopolítica real,
dada a cristalização do antagonismo entre dois jogadores, ambos correm por tomar decisões egoístas que os beneficiam no curto prazo, mas que se mostram altamente prejudiciais no futuro. Logo, o confronto entre os Estados Unidos e a China — por assim dizer — não trará nenhum tipo de vantagem no médio e no longo prazo seja para Pequim seja para Washington.
Ainda mais porque, de um lado, os americanos já se encontram bastante comprometidos com dois grandes conflitos simultâneos, a saber, na Ucrânia e em Gaza. Não obstante, Washington também mantém compromissos de segurança com nações como Japão, Australia e Índia para a contenção da China na Ásia. Essas
vultosas despesas militares oriundas de múltiplos engajamentos regionais só aumentam a pressão sobre os Estados Unidos e sobre o bem-estar de seus cidadãos. Em tais circunstâncias, a eventual eclosão de um confronto militar com a China — com um potencial de escalada global — causará um enorme e desmedido stress para as Forças Armadas estadunidenses,
colocando em risco sua hegemonia internacional. Em tempo, se os formuladores de políticas em Washington forem realmente racionais, como preconiza a teoria dos jogos, um embate direto com a China poderá sim ser evitado.
O difícil é acreditar nessa racionalidade americana em vista de seu continuado apoio financeiro e militar tanto à Ucrânia como a Israel. Afinal, apoiar uma guerra por procuração contra a Rússia no Leste Europeu ou então o prolongamento da catástrofe humanitária em Gaza não são lá bons indicadores de que a razão predomina nos corredores da Casa Branca.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.