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Colin Powell, o homem que enganou o mundo

© AP Photo / Marcy NighswanderColin Powell no Capitólio, em Washington, em um subcomitê de Serviços Armados da Câmara. EUA, 25 de setembro de 1991
Colin Powell no Capitólio, em Washington, em um subcomitê de Serviços Armados da Câmara. EUA, 25 de setembro de 1991 - Sputnik Brasil, 1920, 05.04.2024
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Em 5 de abril de 1937 nascia Colin Powell, uma das figuras mais polêmicas da política externa americana. Tendo servido como secretário de Estado em Washington entre os anos de 2001 e 2005, durante o governo de George W. Bush, Powell protagonizou um escandaloso episódio no CSNU, às vésperas da invasão americana ao Iraque.
Powell e a administração presidencial de George W. Bush foram os principais responsáveis pela encenação que levou os Estados Unidos da América a invadirem o Iraque de Saddam Hussein em 2003. Naquele período, Washington era comandada pelos chamados "neocons" (um acrônimo para neoconservadores), cujos princípios envolviam o flagrante desrespeito pelos valores culturais e políticos de povos não ocidentais e uma gana por "exportar" a democracia pelo mundo através da força.
Bush, vale lembrar, após os atentados terroristas às Torres Gêmeas em 2001, já havia iniciado sua famigerada "guerra contra o terror", que se converteu em uma quase guerra contra o próprio Islã como modo de vida. Partindo de sua posição de policial do mundo, os Estados Unidos usaram e abusaram de seu poderio militar para interferir em diversas regiões ao mesmo tempo, sob o pretexto de combater o terrorismo internacional e proteger o "mundo livre" da ameaça de Osama bin Laden.
Com relação a países como Afeganistão, Irã, Iraque e até mesmo a Coreia do Norte, a administração Bush optou por negar a legitimidade de seus governos, taxando-os pejorativamente de "o eixo do mal", o que significava, na prática, uma licença para a interferência americana em seus assuntos domésticos.
Qualquer que seja, no entanto, o modelo econômico ou social de determinado governo ou regime, a prática internacional vestfaliana dizia que a intervenção estrangeira não é justificável, ainda que o Estado interventor declare intenções benéficas.
Entretanto, no começo de 2003, os Estados Unidos enfrentaram bastante relutância em conseguir a aprovação internacional para a sua desejada intervenção no Iraque, em especial no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU). Washington não estava disposto a reconhecer os limites jurídicos para a defesa de seus interesses nacionais e, mais do que isso, geopolíticos, no Oriente Médio. E para defender esses interesses, nada mais apropriado do que o uso da força.
© AP Photo / Ron EdmondsO então presidente George W Bush, no centro, faz comentários sobre os seus planos para implementar a recomendação da Comissão do 11 de Setembro para criar um diretor nacional de Inteligência. Da esquerda para a direita, o então secretário de Segurança Interna, Tom Ridge, o secretário de Estado, Colin Powell, Bush, o secretário de Defesa, Donald H. Rumsfeld, e o diretor do FBI, Robert Mueller, na Casa Branca em 2004
O então presidente George W Bush, no centro, faz comentários sobre os seus planos para implementar a recomendação da Comissão do 11 de Setembro para criar um diretor nacional de Inteligência. Da esquerda para a direita, o então secretário de Segurança Interna, Tom Ridge, o secretário de Estado, Colin Powell, Bush, o secretário de Defesa, Donald H. Rumsfeld, e o diretor do FBI, Robert Mueller, na Casa Branca em 2004 - Sputnik Brasil, 1920, 05.04.2024
O então presidente George W Bush, no centro, faz comentários sobre os seus planos para implementar a recomendação da Comissão do 11 de Setembro para criar um diretor nacional de Inteligência. Da esquerda para a direita, o então secretário de Segurança Interna, Tom Ridge, o secretário de Estado, Colin Powell, Bush, o secretário de Defesa, Donald H. Rumsfeld, e o diretor do FBI, Robert Mueller, na Casa Branca em 2004
Em 2003, até mesmo aliados como França e Alemanha não podiam concordar com tal iniciativa americana de desestabilizar o Iraque e toda uma região, prevendo a catástrofe que seria uma invasão militar estadunidense ao Iraque. Esperar tal consentimento de países como China e Rússia então era ainda mais ilusório. Em termos das discussões no CSNU, predominou a falta de consenso a respeito da real periculosidade ou não do regime de Saddam Hussein, dado que o Iraque já havia comprovadamente se livrado de suas armas químicas no decorrer dos anos 1990.
Reconhecidamente, portanto, a maior parte das grandes potências da época tinham o interesse comum em evitar um confronto regional desnecessário e prolongado no Oriente Médio, com exceção dos Estados Unidos de Bush. Era de conhecimento que um estado de guerra entre os americanos e o exército de Saddam Hussein traria consequências devastadoras não somente para o Iraque, como também para seus vizinhos, afetando cadeias de suprimento e causando uma crise humanitária sem precedentes no Oriente Médio.
Na ausência de um consenso no âmbito do Conselho de Segurança, por sua vez, os Estados Unidos optaram por cometer um erro fatal: agir como um poder incontrolável, capaz de fazer as suas próprias regras, sem a necessidade de agradar nem a adversários nem a aliados. Colin Powell, como secretário de Estado, contribuiu justamente para a realização desse plano, em que Washington não teria a obrigação de se justificar perante ninguém, fossem quais fossem suas reais intenções.
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Considerações quanto à moralidade de suas ações não eram importantes para a Casa Branca, que se viu em uma posição de ter de implementar seus objetivos por meio da força e desconsiderando a opinião da comunidade internacional.
Os Estados Unidos, que haviam auxiliado o mesmo Saddam Hussein durante os anos 1980 no âmbito da guerra entre Iraque e Irã, agora estavam determinados a derrubar o líder árabe a todo custo, arrogando para si o papel de justiceiro global, acima do bem e do mal. O egoísmo nacional demonstrado por Bush e seus adidos políticos, como Colin Powell, derivava do "excepcionalismo" americano e do completo desprezo pelas normas do direito internacional e das Nações Unidas. O intuito era usar a força de uma maneira irrestrita em busca da derrubada de um regime que os Estados Unidos não mais viam como útil, tudo isso à custa de milhares de vidas inocentes.
No plano econômico, o frenesi da chamada "guerra ao terror" era uma oportunidade de ouro para o Complexo Militar Industrial estadunidense, cujas guerras permanentes (ou "guerras eternas") eram altamente benéficas para a economia dos Estados Unidos e para boa parte de sua elite política. Em fevereiro de 2003, por fim, pouco tempo antes da invasão ao Iraque, o CSNU se tornou palco de um dos maiores escândalos políticos da história.
E esse escândalo foi protagonizado por ninguém mais ninguém menos do que Colin Powell. Ele levou para a Organização das Nações Unidas (ONU) um frasco supostamente contendo antraz, um reagente químico altamente perigoso para o organismo humano, argumentando que Saddam Hussein produzia armas químicas em segredo.
A encenação de Powell não foi capaz de convencer os demais membros do Conselho de Segurança, que pleiteavam uma solução diplomática, e não militar, para lidar com o regime de Saddam Hussein e suas alegadas conexões com o grupo terrorista Al-Qaeda (proibido na Rússia).
© AP Photo / Elise AmendolaColin Powell, Secretário de Estado dos EUA entre 2001 e 2005, apresenta uma amostra falsa de antraz à ONU como prova do desenvolvimento de um programa de armas de destruição em massa no Iraque, em 5 de fevereiro de 2003
Colin Powell, secretario de Estado de EEUU entre 2001 y 2005, presenta ante la ONU una falsa muestra de ántrax como prueba del desarrollo de un programa de armas de destrucción masiva en Irak, 5 de febrero de 2003 - Sputnik Brasil, 1920, 05.04.2024
Colin Powell, Secretário de Estado dos EUA entre 2001 e 2005, apresenta uma amostra falsa de antraz à ONU como prova do desenvolvimento de um programa de armas de destruição em massa no Iraque, em 5 de fevereiro de 2003
No entanto, Colin Powell e George W. Bush estavam decididos a forçar uma intervenção americana no Iraque "goela abaixo" seja de quem fosse, mesmo que terminassem desacreditados perante a comunidade internacional.
Após a invasão, no entanto, as tais armas químicas não foram encontradas, centenas de milhares de vidas foram perdidas, e os Estados Unidos quebraram para sempre a confiança nas normas do direito internacional. Tudo isso se deu com a anuência e com a ativa participação de Colin Powell, o fatídico secretário de Estado de Bush, o homem que enganou o mundo.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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