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França e Reino Unido sugerem reviver aliança da 1ª Guerra Mundial por 'medo' do retorno de Trump

© AFP 2023 / Ludovic MarinEmmanuel Macron, presidente francês, durante cerimônia militar em Paris. França, 19 de fevereiro de 2024
Emmanuel Macron, presidente francês, durante cerimônia militar em Paris. França, 19 de fevereiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 09.04.2024
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Escrito no 120º aniversário da Entente Cordiale, um acordo histórico assinado entre o então Império Britânico e a França em 1904, o ministro de Relações Exteriores britânico David Cameron e seu homólogo francês Stephane Sejourne pediram pela revitalização da aliança em um artigo.
Além disso, os ministros defenderam a mobilização da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para evitar a vitória da Rússia em meio à operação militar especial na Ucrânia, cujo regime de Vladimir Zelensky enfrenta contínuas dificuldades. Para Cameron e Sejourne, os dois fundadores do antigo bloco militar possuem "responsabilidade de levar a aliança a lidar com os desafios que enfrenta".

"Devemos fazer ainda mais para garantir que derrotemos a Rússia. O mundo está observando, e nos julgará se falharmos", escreveram em um artigo publicado pelo The Telegraph.

Com relação ao artigo, o professor de política e história do Instituto Católico da Vendée (ICES, na sigla em francês) e especialista em assuntos internacionais John Laughland enfatizou à Sputnik que o Reino Unido e a França são "duas das principais potências militares da Europa" e desfrutam de um "nível bastante elevado" de cooperação militar bilateral.
Apesar de Londres e Paris "terem de fato fortalecido essa cooperação nos últimos anos", como Cameron e Sejourne escreveram, o especialista não vê "quaisquer novas iniciativas substanciais" no artigo, que ele descartou apenas como propaganda.
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Enquanto a Entente Cordiale conseguiu se manter na Primeira Guerra Mundial em grande parte devido à contribuição do Império Russo, Laughland sugeriu que esse novo eixo britânico-francês inevitavelmente se apoiaria nos Estados Unidos, "porque tudo o que eles dizem sobre a Entente britânica-francesa está no contexto da OTAN".
"A guerra atual é uma guerra da OTAN. Eles estão se apoiando nos americanos", observou.
Para o professor de política e história, a França e o Reino Unido podem ser motivados pelo medo do retorno de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.

"Acredito que as potências europeias, incluindo a França e o Reino Unido, estão tentando antecipar esse resultado porque, corretamente ou não, temem que Trump queira fazer as pazes com a Ucrânia, fazer as pazes com a Rússia", refletiu o acadêmico. "Mas, novamente, considero isso apenas uma jogada política de gestos, esse artigo e essa comemoração."

Aliança revivida parcialmente e ataque à Líbia

Laughland também lembrou uma tentativa anterior de Cameron de reviver parcialmente a Entente Cordiale em 2010, quando era primeiro-ministro britânico e assinou acordos de defesa militar com a França. Um dos resultados do acordo foi "o ataque à Líbia em 2011 que, pelo que entendemos, foi uma iniciativa franco-britânica".

"Foi uma iniciativa francesa que os britânicos imediatamente apoiaram. E o ataque à Líbia em 2011 que, é claro, os norte-americanos também apoiaram e depois se tornou um ataque da OTAN, foi uma guerra absolutamente catastrófica. Mostrou mais uma vez que a OTAN é uma aliança agressiva. Digo mais uma vez porque, é claro, a OTAN havia atacado a Iugoslávia em 1999. Então, infelizmente, é um precedente muito ruim o acordo de 2010", comentou.

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Enquanto isso, Mikael Valtersson, ex-oficial das Forças Armadas suecas e chefe de gabinete do partido político Democratas da Suécia, argumentou que o verdadeiro motivo da conversa sobre reviver a Entente Cordiale é o desejo do Reino Unido e da França de "assumir um papel maior na política internacional", aliado ao reconhecimento de que eles não são "suficientemente grandes para fazê-lo sozinhos".

"Tanto o Reino Unido quanto a França também estão unidos em sua abordagem quase fanática e linha-dura em relação à Rússia. Como dizem no artigo, a Rússia deve perder e a Ucrânia deve ganhar", acrescentou.

Segundo Valtersson, a abordagem linha-dura em relação à Rússia pode ser a razão pela qual a Alemanha não foi incluída no artigo.

"A diferença é que o líder francês, o presidente Emmanuel Macron, na França, pertence ao campo antirrusso beligerante, enquanto o líder alemão, o chanceler [Olaf] Scholz, pertence a um grupo mais moderado. Esses fatos tornam uma nova Entente [Cordiale] muito frágil. Macron pode ser substituído como presidente francês por um sucessor mais nacionalista e pragmático. Então, a chamada aliança com o Reino Unido terá acabado", explicou.

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Além disso, o especialista vê que há preocupações do Reino Unido e da França de que o poderio econômico alemão daria a Berlim "muito influência" na provável aliança, sem mencionar os receios de Londres e Paris sobre um possível retorno de Trump à Casa Branca ainda este ano, observou.

"Essa conversa sobre uma Entente Cordiale revivida pode ser uma tentativa do Reino Unido e da França de assumir ou, pelo menos, de se preparar para assumir a liderança do campo antirrusso beligerante no Ocidente. [Poderia haver] preparações caso os EUA abandonem a Ucrânia. Mas como eu disse antes, é uma aliança fraca, já que grande parte da população francesa não está a bordo", finalizou.

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