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O quão vulneráveis são os cabos submarinos de Internet?

© flickr.com / Divulgação / Marinha dos Estados Unidos / Adam WintersConstrutor instalando armadura de aço ao redor do cabo do fundo do mar em 100 pés de profundidade no Pacific Missile Range Facility (PMRF) Barking Sands, Kauai. Havaí, 14 de agosto de 2013
Construtor instalando armadura de aço ao redor do cabo do fundo do mar em 100 pés de profundidade no Pacific Missile Range Facility (PMRF) Barking Sands, Kauai. Havaí, 14 de agosto de 2013 - Sputnik Brasil, 1920, 10.04.2024
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No mês passado, quatro cabos de Internet submarinos amanheceram danificados na costa do Iêmen, prejudicando cerca de 25% de toda comunicação on-line entre a Europa e a Ásia. Ainda que não se saiba como eles foram danificados, a suspeita recaiu sobre os houthis, que efetuam um bloqueio marítimo na região.
Afinal, não há nenhum tipo de proteção para essa infraestrutura tão essencial nos dias de hoje? O quão vulneráveis esses cabos estão? Quais ameaças eles enfrentam?
Essas questões e mais foram abordadas no Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.

A infraestrutura da Internet

Ao contrário do que muitos podem pensar, a enorme maioria da infraestrutura da Internet atual é feita por cabos submarinos, e não conexões via satélite.
Algumas pessoas têm essa visão por conta do que sabem "da infraestrutura de TV, das infraestruturas de rádio que temos, de telecomunicações à longa distância", diz Claudio Miceli, professor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
Segundo Guilherme Carvalho, pesquisador na área de defesa e segurança internacional, "hoje em torno de 98% ou 99% da comunicação mundial [de Internet] é efetivada por meio desses cabos, que hoje giram na casa de 480 a 500 cabos ao redor do mundo".
Depositados no fundo do oceano, frequentemente esses cabos são alvos de danos, apontam os especialistas, mesmo que tenham "um metro de diâmetro", diagnostica Miceli. Foi o caso, diz o professor da UFRJ, de relatos de tubarões atacando cabos na América do Norte.
Ainda assim, em sua grande maioria, os danos são causados por atividades humanas. "Temos em média em torno de 100 incidentes por ano envolvendo a infraestrutura submarina", diz Carvalho.
"Eles se tratam, muitas vezes, de incidentes envolvendo pesca de arrasta, por causa das redes que acabam puxando os cabos submarinos e ocasionando algum tipo de rompimento ou dano."
Apesar desses incidentes, que afetam cerca de 20% da disponibilidade de cabos ao redor do mundo, pouco se nota e se noticia sobre quedas nas telecomunicações. O motivo disso, diz Carvalho, é a redundância do sistema, que traz à infraestrutura a capacidade de ter rotas alternativas no caso de falhas técnicas.
O presidente da França, Emmanuel Macron (à esquerda), cumprimenta a primeira-dama brasileira, Rosângela Lula da Silva, depois de presenteá-la com a Legião de Honra, condecoração francesa, enquanto o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, observa. Palácio do Planalto, Brasília, Brasil, 28 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 09.04.2024
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Mesmo assim, sistema é 'frágil'

Até hoje, apontam os analistas, não há nenhum caso registrado de ataque intencional, seja patrocinado por um Estado ou feito por organizações terroristas a esses cabos, apenas acidentes.
No entanto, a quantidade desses incidentes, e agora com a suspeita de um ataque deliberado pelo Ansar Allah, movimento xiita que governa o Iêmen também conhecido como houthis, revela a fragilidade do nosso sistema mundial de telecomunicações.

"A gente diz que é um mundo globalizado e interconectado, mas a gente tem a fragilidade desse nosso sistema toda vez que temos uma crise", afirma Miceli.

Dessa forma, manter-se conectado exige uma "estratégica pública e de interesse", disse o professor. "Principalmente no caso do Brasil, como o país do BRICS, onde um dos nossos grandes parceiros comerciais é a China, como manter uma rota pela China?"
No caso do dano aos quatro cabos no Oriente Médio, não houve muita repercussão à conexão brasileira, uma vez que não há muito tráfego naquela direção — o que é bastante diferente no nosso caso com a China e os Estados Unidos.
O primeiro tem sua importância comercial com o Brasil. Já o segundo é lar da maior parte dos conteúdos consumidos no Brasil, como redes sociais e plataformas de vídeo e mensageiros instantâneos.

"Imagina o seguinte: do nada você perder todo o acesso que tem aos sites de vendas chineses. Para muitos negócios aqui no Brasil, isso seria você perder acesso à mercadoria que vai vender."

Há ainda um inimigo mais prejudicial e silencioso do que o corte nas comunicações, alertou Carvalho: o roubo de informações. Não são só informações comerciais e comunicação entre indivíduos que correm por esses cabos, mas também "informações militares".
Ainda que nenhum governo do mundo admita que está espionando as informações que correm pelos cabos, suas atitudes apontam para uma preocupação geral com ferramentas de telecomunicação que não são próprias.
"Os Estados Unidos vetaram a comercialização do seu país de aparelhos telefônicos das marcas Huawei e ZTE", enquanto a China proibiu seus funcionários públicos de usar telefones da Apple.

"Isso pode acontecer com infraestrutura normalizada, através dos sensores, através do monitoramento. Isso pode acontecer mesmo sem que tanto entes privados quanto o governo tenham noção do que está ocorrendo."

Países devem ter estratégia nacional para infraestrutura de Internet

Atualmente, explicitam os analistas, muitos dos cabos são de propriedade privada de algumas grandes empresas, como o Google, a Meta e outras do setor, enquanto outra parcela é propriedade dos Estados. É um grande "esforço global para garantir que todo mundo se fale, porque isso é interessante para todo mundo", diz Miceli.
Contudo, é interessante que as nações tenham uma "estratégia nacional" de telecomunicações, seja por motivos de Defesa, seja para não sofrerem em caso de acidentes com os cabos submarinos.
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Dois grandes expoentes disso são a China e a Rússia, destaca Miceli. São Estados que, por exemplo, não sofreriam caso houvesse uma pane geral. "São países, como falei, que têm uma infraestrutura de telecomunicações interna."

"São redes internas que se comunicam com a Internet. Eles não estão na Internet diretamente."

Da mesma forma, diz o professor da UFRJ, os Estados Unidos possuem "uma infraestrutura de comunicação que, no evento de uma crise, pode ser tomada pelo Estado porque eles entendem telecomunicações como áreas de Defesa".

Qual a estratégia de telecomunicações do Brasil?

Diferentemente dos países citados, o Brasil não compartilha o mesmo pensamento. "Somos muito descentralizados em como trabalhamos", disse Miceli. Uma das maiores dificuldades, diz, é mapear a nossa infraestrutura de telecomunicações.

"É como você não ter o mapa de gás da sua cidade."

"Temos como um dos maiores consumidores de Internet do mundo uma infraestrutura de telecomunicação invejável. Entretanto, é necessário hoje uma gestão mais eficiente dos nossos recursos e limitadores."
É preciso, diz Miceli, "uma gestão da Embratel que permitisse entender quais são os nossos ativos de telecomunicações dentro do território nacional […], ter mapas de comunicação e uma infraestrutura mínima em momentos de crise".
Esse papel, aponta o professor, poderia caber aos Correios ou às Forças Armadas, dois braços do Estado brasileiro que são capazes de chegar aos quatro cantos do país.

"O Brasil ficaria coberto para situações de desastres ou um eventual conflito armado, podendo, como aconteceu com a Rússia, até mesmo fechar a comunicação com o resto do mundo e manter uma infraestrutura que permitisse rapidamente uma reorganização estatal."

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