Pressão de Macron para armar a Europa mostra urgência, mas também é perigosa, diz mídia
07:04 16.04.2024 (atualizado: 11:20 16.04.2024)
© AP Photo / Olivier MatthysEmmanuel Macron, presidente da França, fala durante coletiva da mídia em cúpula da União Europeia em Bruxelas, Bélgica, 15 de dezembro de 2022
© AP Photo / Olivier Matthys
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Para o líder francês, o bloco europeu deve agir sozinho diante de seus interesses geopolíticos sem precisar se enfiar em parcerias para garantir sua própria segurança.
De acordo com a Bloomberg, o ataque sem precedentes do Irã a Israel no fim de semana (13) foi a prova mais sombria de que o diagnóstico de Emmanuel Macron sobre os desafios de segurança que a União Europeia (UE) enfrenta está correto.
Seu problema, no entanto, é não ter conseguido ainda o apoio dos eleitores franceses diante de sua retórica, ao contrário, Macron tem reunido ao redor de sua imagem a antipatia de alguns aliados, tanto no país como no exterior.
Na última quinta-feira (11), o presidente francês visitou uma fábrica de pólvora em Dordogne, na França, e discursou afirmando que "a Europa está pensando agora na sua própria defesa.[...] Esta foi uma verdadeira revolução nos últimos anos e é uma revolução que foi impulsionada pela França", afirmou.
Oscilando entre pacificador e provocador, Macron tem demonstrado querer tomar a liderança do bloco ante a crise ucraniana, e já na semana passada, sua administração retomou contato telefônico com a Rússia, mas ao não divulgar o conteúdo tratado entre eles gerou confusão e embaraço ante seus aliados, afirmou a mídia.
Ao passo que Macron afirma desejar o fim do conflito ucraniano, recentemente, depois de reunir líderes europeus no Palácio de Versalhes, recusou-se notoriamente a descartar a possibilidade de enviar tropas para o terreno na Ucrânia. Porém, ao invés de angariar apoio e tensionar as relações com a Rússia, em uma tentativa de dissuadir Moscou, fez com que os alemães e outros aliados europeus descartassem publicamente a ideia e assim minar qualquer ambiguidade que tivesse sido semeada.
Ainda segundo a apuração, o baixo recrutamento francês também restringe as aspirações de grandeza militar de Paris. Comparativamente, enquanto a Rússia tem cerca de 1,15 milhão de militares — o que representa quase toda a população da vizinha Estônia — a França tem apenas 200 mil. No ano passado, a sua infantaria recrutou 3.000 homens a menos do que a meta de 16.000.
No mês passado, o ministro da Defesa da França, Sébastien Lecornu, instou a indústria armamentista do país a acelerar a produção de equipamento para a Ucrânia, ameaçando requisitar as empresas que descumprissem o ritmo desejado. Alguns membros da indústria ficaram surpresos com a repreensão pública uma vez que consideram que as suas fábricas já estão funcionando a todo vapor.
Os novos números do orçamento francês podem acabar minando o "esforço de guerra" de Macron. Na semana passada, o governo disse que o seu déficit será maior do que o previsto neste ano, precisando de mais € 10 bilhões (cerca de R$ 55 bilhões) de poupança, além do número já anunciado.
Ainda segundo a Bloomberg, a opinião pública francesa está se virando contra a manutenção do conflito ucraniano — caindo de 82% para 58% segundo dados do IFOP — algo que Macron colocou na vanguarda de sua campanha contra Marine Le Pen. As pesquisas mostraram ainda que a maioria do povo francês se opõe ao envio de tropas argumentado pelo presidente.