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EUA tentam esconder 'diplomacia do dólar' em episódio de interferência eleitoral nas Ilhas Salomão

© AP Photo / Mark SchiefelbeinO primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, revisa a guarda de honra durante uma cerimônia de boas-vindas no Grande Salão do Povo em Pequim, 9 de outubro de 2019
O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, revisa a guarda de honra durante uma cerimônia de boas-vindas no Grande Salão do Povo em Pequim, 9 de outubro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 23.04.2024
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O principal diplomata dos Estados Unidos para as Ilhas Salomão foi obrigado a responder a uma matéria investigativa da Sputnik sobre a suspeita de Washington interferir nas eleições gerais de 17 de abril na região, algo que negou. Já especialista questiona interesse repentino de Washington na nação insular estratégica.
A investigação da Sputnik sobre uma suposta campanha sistemática e financiada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês para retirar do cargo o primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, parece ter causado impacto nas eleições da última semana. O objetivo do governo norte-americano seria punir o político por conta do por seu realinhamento estratégico gradual de Washington para Pequim.
"Nós refutamos veementemente as alegações feitas em meios de propaganda conhecidos que afirmam que a USAID e o governo dos EUA buscaram influenciar a próxima eleição nas Ilhas Salomão", disse a embaixadora dos EUA para as Ilhas Salomão, Papua Nova Guiné e Vanuatu, Ann Marie Yastishock, em uma declaração dias antes do processo eleitoral.
Ao enfatizar que as alegações "categoricamente falsas", Yastishock sugeriu que os esforços da mídia para apontar a suposta interferência eleitoral de Washington, e não a suspeita de interferência em si, era a raiz do problema.
"O comentário da embaixadora dos EUA é extremamente hipócrita", disse a fonte que forneceu à Sputnik informações e documentos sobre a suposta campanha da USAID no país, em uma mensagem privada.
"Ela não negou o apoio da USAID para líderes políticos e comunitários locais das Ilhas Salomão, mas continuou defendendo e glorificando a ajuda, atendendo aos requisitos do país alvo", disse.
A fonte declarou ainda que reportar as supostas atividades nefastas da USAID pode ter forçado os EUA e suas redes locais a "recuar por um tempo", com a votação ocorrendo "relativamente pacificamente".

"À medida que a contagem continua e a posição mais alta de primeiro-ministro ainda não foi decidida, os EUA e suas redes locais podem tentar causar problemas, protestos e tumultos. Tudo depende se os resultados da eleição atenderem às expectativas de todas as partes. As pessoas estão nervosamente esperando pelo resultado das eleições", declarou.

Quase uma semana após a votação, a contagem continua – em parte devido a problemas logísticos de transportar as urnas de comunidades remotas nas cerca de 150 ilhas do país. Nesta terça-feira (23), candidatos do partido do primeiro-ministro Sogavare estavam na liderança, com 23% dos votos contados, seguidos por independentes, com 22%, e o Partido Democrático da oposição, o Partido Unido e o Partido para Avanço Rural ganhando 18,7%, 14,5% e 4,9%, respectivamente.
Os eleitores das Ilhas Salomão elegem seu governo usando um sistema de "o vencedor leva tudo", o que significa que qualquer partido que ganhe uma pluralidade de votos em cada um dos 50 distritos em disputa ganha o assento no Parlamento.
Por essa medida, o partido governista deve levar 13 assentos; os independentes, 10; o Partido Democrático, 8; quanto ao Partido Unido 7 e o Partido Aliança Democrática, cada um teria 4 assentos. Para formar um governo de coalizão, são necessários 26 ou mais assentos, tornando o apoio dos independentes crucial no ciclo eleitoral atual.
O primeiro-ministro chinês Li Keqiang, à esquerda, e o primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, revisam uma guarda de honra durante uma cerimônia de boas-vindas no Grande Salão do Povo em Pequim (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2022
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Sem interferência?

"Embora a embaixadora dos EUA para as Ilhas Salomão tenha todo o direito a sua própria opinião, seria muito difícil para ela explicar, muito menos justificar, a elevação da presença dos EUA ao nível de embaixada se não fosse pela reorientação do primeiro-ministro desta nação insular estratégica em direção a Pequim e longe de Washington", disse à Sputnik o professor Joe Siracusa, cientista político veterano nascido nos EUA e reitor da Global Futures na Curtin University, na Austrália.

"Alguém em Washington pode explicar a elevação da presença diplomática americana em um Estado insular de 700 mil pessoas quando o mesmo governo Biden voltou as costas para Moscou e Pequim nos últimos anos? A diplomacia do dólar está viva e bem", enfatizou Siracusa, apontando para o histórico de mais de 100 anos dos EUA de envolvimento nos assuntos internos de estados estrangeiros.

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Pequeno país, grande impacto estratégico

As Ilhas Salomão podem ser consideradas um país pequeno e pouco povoado, mas têm grande potencial estratégico graças aos seus portos e localização geográfica, diz Siracusa.

"Washington tem pedido às pessoas [na região] para escolher entre Pequim e Washington, e o primeiro-ministro surpreendeu a todos ao escolher Pequim e abriu uma embaixada em Pequim. Um país de 724 mil habitantes insulares não teria dinheiro suficiente para manter uma embaixada. Obviamente, isso é um presente do governo chinês. E, claro, os norte-americanos queriam tranquilizar os australianos de que estavam no controle desse 'problema', e é por isso que eles elevaram sua representação lá, de um consulado para uma embaixada. A ideia de ter uma embaixada dos EUA em uma ilha de 700 mil pessoas me parece absurda", observou.

Com as Ilhas Salomão situadas na linha de uma nova Guerra Fria entre os EUA e a China na região Ásia-Pacífico, ambos os países e a Austrália têm observado as eleições recentes "muito de perto," vendo-a como um "indicador" de atitudes regionais à medida que a competição entre grandes potências esquenta.

Quanto às alegações da embaixadora Yastishock sobre a reportagem da Sputnik sobre a interferência, Siracusa disse que suas alegações parecem "ridículas". "Ela apenas exagerou sua resposta para vocês e, claro, agora, a maioria dos oficiais em Washington é antirrusso e antichinês. E assim eles veem tudo vindo de Moscou e Pequim como sendo anti-americano," concluiu o acadêmico.

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