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Entenda como a ruptura política no Mercosul pode aproximar Brasil e Colômbia

© AP Photo / Eraldo PeresBandeira da Colômbia marca o assento do presidente colombiano, Gustavo Petro, durante a Cúpula da Amazônia, em Belém. Pará, Brasil
Bandeira da Colômbia marca o assento do presidente colombiano, Gustavo Petro, durante a Cúpula da Amazônia, em Belém. Pará, Brasil - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2024
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Em meio a um contexto de divisão política crescente no Mercosul, o Brasil encontra-se cada vez mais isolado no Cone Sul, buscando novas alianças entre os vizinhos da região.
A Argentina, sob a presidência de Javier Milei, se distancia. Paraguai e Uruguai também demonstram alinhamentos políticos discrepantes, ainda que de maneira mais discreta.
Dessa forma, para pesquisadores consultados pela Sputnik Brasil, o governo brasileiro, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, tem direcionado sua atenção para a Colômbia.
A recente proximidade comercial e política entre os países foi evidenciada no encontro entre empresários dos dois países no Fórum Empresarial Colômbia-Brasil, acompanhado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Para o professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Sillas de Souza Cezar, a mudança não é tanto uma tentativa do Brasil de se afastar do Mercosul, mas sim uma resposta à reticência dos presidentes dos países-membros do bloco em relação a Lula.
Javier Milei, presidente da Argentina, deixa o Museu do Holocausto após participar de evento que marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto em Buenos Aires. Argentina, 26 de janeiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 16.04.2024
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De acordo com ele, os líderes Milei, Lacalle Pou (Uruguai) e Santiago Peña (Paraguai) mostram desinteresse em alinhamentos ideológicos, seja de forma explícita ou discreta. Assim, o Brasil vê na Colômbia de Gustavo Petro uma oportunidade de estabelecer parcerias políticas e econômicas mutuamente benéficas.
A aproximação sugere também uma possível entrada do país no Mercosul, paralela às adesões anteriores da Venezuela (atualmente suspensa) e da Bolívia. "Por seu tamanho, certamente a Colômbia traria ganhos ao Mercosul. Entretanto há diversos fatores que podem desencorajar essa entrada."

"Devemos considerar acordos bilaterais do país com outros parceiros, inclusive Estados Unidos, que em algum grau compensariam sua ausência no bloco do sul. Há também problemas internos que impediriam a integração, como a persistente influência de guerrilheiros e traficantes armados na Amazônia colombiana."

Historicamente, no entanto, Cezar questiona a ideia de que este é o principal período de aproximação entre os países, lembrando de episódios nos anos 1950 e 1990, quando Brasil e Colômbia buscaram interesses comuns na agricultura, na cultura e no combate ao narcotráfico.

"Talvez a aproximação mais lembrada seja a dos anos 1990, quando os governos dos dois países uniram forças para combater seus problemas internos com o narcotráfico. A Colômbia, inclusive, foi mais bem-sucedida nesse esforço."

O cientista político e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Jefferson Nascimento observa que há uma fragmentação e uma polarização crescentes dentro dos países e entre eles. "A integração latino-americana como um todo passa por um momento bastante difícil se compararmos [o período de hoje] ao momento em que Lula teve seus primeiros mandatos."
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião restrita com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, na Casa de Nariño. Bogotá, 17 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 24.04.2024
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A tensão reflete-se no impasse atual do Mercosul, com as posições divergentes de Montevidéu e Assunção, além de uma priorização de Buenos Aires das relações com Washington. "Milei já deixou claro que priorizará relações com os EUA em detrimento dos vizinhos do sul. O Paraguai, mesmo na presidência temporária do Mercosul, também não parece um grande entusiasta [da integração]."
Entre os pontos de convergência de Brasil e Colômbia, segundo ele, há questões ambientais e de segurança nas fronteiras. Ambos os países têm interesse em promover uma transição energética para fontes mais limpas, ainda que existam divergências sobre o ritmo dessa transição.

"Petro, por exemplo, é contrário a que se aprovem novas licenças para a exploração de petróleo e gás. Já Lula tem uma posição dúbia, às vezes se mostrando favorável, por exemplo, à exploração de petróleo na Margem Equatorial", detalha.

Nascimento ressalta que, em um contexto de inserção periférica e dependência de commodities, a América do Sul só poderá alcançar o desenvolvimento e ter voz nas disputas internacionais por meio da coordenação e integração entre os países. "São questões que não podem ser resolvidas de forma individualizada pelos países. É preciso uma coordenação."
Em meio a tal conjuntura, o pesquisador avalia que o Brasil emerge como um país que tenta manter a coesão do bloco, para além de questões comerciais. "O estreitamento das relações entre Colômbia e Brasil é importante no sentido de tentar mediar os conflitos políticos internos na Venezuela", exemplifica.
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Quais são os países que fazem parte do Mercosul?

O Mercosul é formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Venezuela também compõe o bloco, mas está suspensa dos seus direitos e deveres. Além disso, há os "Estados associados" — como a Bolívia, que está em processo de adesão ao Mercosul, previsto para ser consolidado em julho.
Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Colômbia também são Estados associados.
Nascimento entende que a entrada da Colômbia no Mercosul é improvável no momento, devido à necessidade de consenso entre os membros.
Para Cezar, devido a uma aproximação na história recente de Bogotá com a direita, uma eventual adesão sempre foi questionada, ainda que tal ideia possa sofrer alterações. "Os governos da Colômbia foram mais inclinados à direita, algo historicamente malvisto na tradicional e predominante visão ideológica do Mercosul. Mas isso tem mudado", observa.
Nascimento destaca um acordo de complementação econômica, o de número 58 (ACE 58), assinado em 2005 como uma oportunidade para ampliar as relações econômicas entre o Mercosul e outros países da região, incluindo a Colômbia, que é o terceiro maior país em população do continente.
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