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Produção dos caças Gripen no Brasil seguirá após entrada da Suécia na OTAN? Analistas debatem

© Foto / Saab ABPrimeiro voo do caça Gripen E/Br, da Força Aérea Brasileira (FAB), na Suécia
Primeiro voo do caça Gripen E/Br, da Força Aérea Brasileira (FAB), na Suécia - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
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Embraer comemora um ano da inauguração da produção de caças supersônicos Gripen no Brasil, em parceria com a empresa sueca Saab. Saiba como andam a entrega dos caças e o treinamento de pilotos e se a entrada da Suécia na OTAN pode emperrar o projeto.
Neste mês, a fabricante de aeronaves brasileira Embraer comemora o primeiro aniversário da sua linha de produção de caças Gripen E, na unidade da empresa em Gavião Peixoto (SP). A linha de produção é resultado do projeto firmado entre Brasil e Suécia para renovação da frota de caças supersônicos da Força Aérea Brasileira.
Em suas redes sociais, a empresa sueca Saab divulgou imagem do primeiro caça Gripen sendo montado no Brasil, lembrando que a linha de montagem da Embraer "é a única do Gripen E fora da Suécia e a primeira a produzir caças supersônicos na América Latina".
© Palácio do Planalto / Ricardo StuckertPresidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (o quinto da esquerda para a direita), durante cerimônia de inauguração da linha de produção do caça Gripen e visita à linha de produção, São Paulo, 9 de maio de 2023
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (o quinto da esquerda para a direita), durante cerimônia de inauguração da linha de produção do caça Gripen e visita à linha de produção, São Paulo, 9 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (o quinto da esquerda para a direita), durante cerimônia de inauguração da linha de produção do caça Gripen e visita à linha de produção, São Paulo, 9 de maio de 2023
A linha de montagem será responsável pela fabricação de pelo menos 15 unidades do caça para a Força Aérea Brasileira e, no futuro, poderá atender a novas demandas nacionais e estrangeiras, destacou a Saab.
A parceria entre a sueca Saab e a brasileira Embraer é fruto do projeto FX-2 de modernização da frota de aeronaves militares supersônicas capitaneado pela Força Aérea Brasileira (FAB). Após quase dez anos de debates e licitação, em 2013 foi selado acordo para a compra de 36 unidades, a um preço à época estimado em US$ 5 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões).
Até o momento, a Força Aérea Brasileira já recebeu da Suécia sete unidades do caça, denominados F-39E, locados na base de Anápolis, em Goiás. As unidades produzidas no Brasil pela Embraer têm a entrega estimada para 2025.
"O Gripen é um avião supersônico, que garante à Força Aérea Brasileira a capacidade de estar rapidamente em qualquer ponto do território de um país com dimensões continentais, como o Brasil", disse o apresentador do canal Aero por trás da Aviação, Fernando de Borthole, à Sputnik Brasil. "A base de Anápolis é estratégica porque está no centro do país, a menos de uma hora de voo de qualquer ponto do território nacional para um caça supersônico."
Segundo ele, o projeto é bastante positivo para a Embraer, "que pode utilizar o conhecimento sobre fabricação de caças em outros projetos, tanto civis, quanto militares". Para o piloto formado em aviação civil Borthole, os diferenciais do projeto são a troca de tecnologia e finalização dos caças em território brasileiro.
"O programa garante intensa troca de tecnologia entre a Saab e a Embraer, o que é essencial para o Brasil", disse Borthole à Sputnik Brasil. "Não tínhamos o interesse em simplesmente comprar um avião ou o modelo de um caça: temos demanda por troca de tecnologia e capacitação de pessoal brasileiro para a produção do caça."
© Foto / SaabA indústria de defesa sueca Saab concluiu a montagem da primeira seção de uma fuselagem traseira do caça F-39E Gripen no Brasil
A indústria de defesa sueca SAAB concluiu a montagem da primeira seção de uma fuselagem traseira do caça F-39E Gripen no Brasil - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
A indústria de defesa sueca Saab concluiu a montagem da primeira seção de uma fuselagem traseira do caça F-39E Gripen no Brasil
Essa não é a primeira vez que o Brasil trabalha nesses moldes: os hoje aposentados caças ANX foram fruto de um projeto de cooperação tecnológica com a Itália. Segundo Borthole, a demanda por troca tecnológica inviabilizou a compra brasileira de caças norte-americanos como o F-16 ou F-18.
"Os norte-americanos não têm costume de transferir tecnologia. Washington mantém uma lista de aliados com quem podem partilhar", disse o professor da UFSC e consultor na Intelligence Consultancy and Training, Gustavo Fornari Dall'Agnol, à Sputnik Brasil. "Os aliados prioritários são Israel e Reino Unido, seguidos pelos aliados da OTAN. Portanto, o Brasil dificilmente teria acesso a tecnologias essenciais norte-americanas para produção de caças."

Gripen à brasileira

A troca de tecnologia garante a integração de tecnologia e sistemas brasileiros ao Gripen sueco, gerando um produto único para a Força Aérea Brasileira. O uso de tecnologia nacional garante a segurança e soberania brasileira sobre a operação desses caças em caso de conflito interestatal, explica Borthole.
"O Gripen que está sendo produzido no Brasil não é o mesmo que opera na Suécia. Ele já tem tecnologia brasileira na parte de sistema e de painéis, por exemplo", disse Borthole. "A casca do avião, sua aerodinâmica e motor são suecos, mas o mais importante do ponto de vista de soberania são os sistemas, radares, armamentos e a garantia de não detecção do avião por radares inimigos. E esses elementos serão providos pelo Brasil."
A incorporação de tecnologia brasileira também garante a participação de empresas e engenheiros nacionais no processo de produção dos caças, gerando não só emprego e renda, mas ainda fixando quadros altamente qualificados no Brasil.
© Foto / SaabA indústria de defesa sueca Saab concluiu a montagem da primeira seção de uma fuselagem traseira do caça F-39E Gripen no Brasil
A indústria de defesa sueca SAAB concluiu a montagem da primeira seção de uma fuselagem traseira do caça F-39E Gripen no Brasil - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
A indústria de defesa sueca Saab concluiu a montagem da primeira seção de uma fuselagem traseira do caça F-39E Gripen no Brasil
"Os engenheiros brasileiros são muito bem cotados no mercado internacional. Precisamos valorizá-los para manter esses quadros aqui dentro, e a única forma de fazer isso é promovendo esse tipo de programa de aviação", considerou Borthole.

Vantagem sueca

Segundo ele, a Saab sai ganhando ao acessar tecnologia brasileira e aprender com o processo de integração da produção do Gripen à estrutura da Embraer. A empresa sueca também ganha uma janela para o mercado consumidor latino-americano, com potencial de expansão de vendas para Colômbia e Peru, conforme reportou o portal UOL.

"A Saab tem realmente muito a ganhar em termos de mercado consumidor, uma vez que suas vendas na Europa são dificultadas pelo espaço que outros caças têm no mercado, como o norte-americano F-35 e o Eurofighter Typhoon", ponderou o professor Dall'Agnol.

A avaliação dos especialistas é que, apesar dos atrasos no cronograma e contingenciamentos de recursos por parte da FAB, o projeto dos caças Gripen é bem avaliado entre os engenheiros e militares brasileiros.
© Foto / Sargento Bianca / Força Aérea BrasileiraF-39E Gripen sobrevoando o Rio de Janeiro (RJ) em 19 de abril de 2021
F-39E Gripen sobrevoando o Rio de Janeiro (RJ) em 19 de abril de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
F-39E Gripen sobrevoando o Rio de Janeiro (RJ) em 19 de abril de 2021
"Para futuros projetos com a Saab, porém, teremos um novo elemento a considerar: a entrada da Suécia na OTAN", lembrou Dall'Agnol. "Afinal, dentro de uma aliança tudo muda e a Suécia precisará priorizar a aliança em termos de exportação e transferência de tecnologia."
No entanto, ambos os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil não acreditam que o atual projeto entre a Saab e a Embraer será afetado pela decisão sueca de entrar na OTAN. Para Borthole, "a entrada na OTAN não deve impactar o contrato atual com o Brasil, que é antigo e já está em pleno processo de implementação".

Demanda brasileira

Apesar de o Brasil ser um país avesso a conflitos interestatais, a Força Aérea Brasileira argumenta que a modernização de sua frota de caças hipersônicos é imperativa para garantir a soberania territorial do país.
"O Brasil precisa dessas aeronaves e está muito defasado na área de caças hipersônicos", disse Borthole. "Temos, claro, o cargueiro multimissão KC-390 e o Super Tucano, que realiza patrulha de fronteiras. Mas, em termos de caças, o que temos em operação hoje é o F-5, que é um avião muito antigo."
O especialista ainda lembrou que os caças podem cumprir missões de caráter civil e humanitário, inclusive em cenários de desastres naturais. Os Gripen também poderão ser utilizados para realizar patrulhas, prestar apoio e escoltar outras aeronaves, como o cargueiro KC-390.
© Foto / Sargento Müller Marin / Força Aérea BrasileiraKC-390 (à direita) e Gripen F-39E em 19 de julho de 2023
KC-390 (à direita) e Gripen F-39E em 19 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
KC-390 (à direita) e Gripen F-39E em 19 de julho de 2023
"No final das contas, as Forças Armadas têm como objetivo defender a população, seja em caso de conflito bélico, seja em desastres naturais. Mas, para isso, precisam de estrutura", argumentou Borthole.
O treinamento de pilotos para a operação dos caças Gripen no Brasil também já está em andamento. Os primeiros pilotos foram treinados na Suécia, em aeronaves biposto, e serão instrutores de seus pares no Brasil.
© ©Divulgação SAABMajor aviador Cristiano de Oliveira Peres, piloto de provas da Força Aérea Brasileira (FAB), se prepara para realizar, na Suécia, primeiro voo de um piloto brasileiro no novo caça F-39 Gripen E
Major aviador Cristiano de Oliveira Peres, piloto de provas da Força Aérea Brasileira (FAB), se prepara para realizar, na Suécia, primeiro voo de um piloto brasileiro no novo caça F-39 Gripen E - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
Major aviador Cristiano de Oliveira Peres, piloto de provas da Força Aérea Brasileira (FAB), se prepara para realizar, na Suécia, primeiro voo de um piloto brasileiro no novo caça F-39 Gripen E
"Os pilotos já têm acesso a simuladores de voos para treinamento, até que modelos biposto cheguem ao Brasil para a instrução em voo", revelou Borthole. "A FAB também tem a infraestrutura necessária para operar os caças, como bases com pistas de tamanho adequado e hangares."

Defesa antiaérea

Uma vez modernizada a frota de caças brasileiros, as Forças Armadas precisarão dar um passo adiante e considerar o desenvolvimento de sistemas de defesa antiaérea, alertou Dall'Agnol. Segundo ele, os investimentos de países emergentes como Índia, Turquia e Argentina, em capacidades aéreas impõe um desafio para o Brasil.
"Mesmo com uma frota de caças novas, seguiremos defasados em relação à defesa antiaérea", considerou o consultor. "Apesar de os Gripen serem capazes de engajar em combate ar-ar, a melhor estratégia é a defesa antiaérea com baterias em solo."
Segundo ele, as Forças Armadas poderão acessar recursos através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do possível aumento dos gastos de defesa para atingir 2% do PIB nacional. "Claro que ainda demandaria a otimização dos gastos de defesa, que atualmente são 80% despendidos em pessoal e somente 10% em investimentos", considerou Dall'Agnol.
© AP Photo / Andre PennerJosé Múcio Monteiro, ministro da Defesa, conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 9 de maio de 2023
José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 9 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 17.05.2024
José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 9 de maio de 2023
"Precisamos de reformas internas para garantir o financiamento não só do projeto dos Gripen, mas também do programa aeroespacial e de defesa antiaérea. Se não, continuaremos muito vulneráveis", concluiu o especialista.
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