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'O governo não gosta de fazer escolhas', aponta analista sobre reindustrialização brasileira

© Folhapress / JC ImagemLinha de produção do veículo Renegade, produzido pela Jeep, do grupo Fiat Chrysler, em sua fábrica em Goiana (PE)
Linha de produção do veículo Renegade, produzido pela Jeep, do grupo Fiat Chrysler, em sua fábrica em Goiana (PE) - Sputnik Brasil, 1920, 29.05.2024
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas em política industrial avaliaram os recentes desenvolvimentos da economia brasileira, desde a pandemia de COVID-19 ao anúncio do Nova Indústria Brasil, programa de reindustrialização do governo federal.
A crise sanitária causada pelo coronavírus foi um choque para as linhas logísticas globais. Atingindo principalmente a China, o parque fabril do mundo, em poucas semanas todo o planeta se viu com problemas de abastecimento dos mais variados produtos.
De peças automobilísticas e componentes de plástico aos produtos mais essenciais em uma calamidade de saúde, como respiradores e medicamentos, a escassez de certos bens revelou as fragilidades da política de desindustrialização mundial.
De um dia para o outro, a capacidade de produzir bens de consumo se tornou uma questão de soberania para os países. Dessa forma, muitas nações correram para recriar suas bases industriais.
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A industrialização como questão de soberania

Ouvidos pela Sputnik Brasil, especialistas afirmam que mesmo com a experiência da pandemia não é possível determinar quais setores da economia são "essenciais" para a soberania do Brasil. Pelo contrário, diz Renato da Fonseca, sócio-diretor da consultoria InteligEcon, cada empresário ou consumidor puxará a sardinha para o seu lado.

"Tem gente que vai dizer que é essencial produzir cigarro. Se o cara tem o vício de fumar, ele vai dizer que é isso. Outros vão dizer que [essencial] é antibiótico, e assim por diante."

Isso não quer dizer, segundo o analista, que não há vantagens em ter alguns setores em território próprio. Pelo contrário, "é importante ter uma indústria diversificada".
Fonseca lembra a ocasião da pandemia em que o Brasil enfrentou uma escassez de respiradores. Em pouco tempo, contudo, as grandes empresas do setor eletroeletrônico "conseguiram se adaptar com trabalhadores que têm essa capacitação de produzir ou fazer a manutenção de respiradores".

"Foi mais fácil o Brasil se adaptar a uma necessidade de momento do que alguns países que não tinham essas empresas."

Se o Brasil não tivesse instalado no país uma indústria de eletroeletrônicos que faz a manutenção desses respiradores, o país teria passado maiores dificuldades.
"Por mais que o Brasil hoje não seja um dos produtores de respiradores, o trabalhador da manutenção já tem uma expertise mais próxima para fazer um respirador do que o trabalhador que faz celulose", exemplificou. "É diferente, mas você consegue se adaptar."
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Segundo o sócio-diretor da InteligEcon, há dois gêneros de indústrias que trazem flexibilidade para a economia: o setor de bens de capital, isto é, aqueles que são usados para produzir outros artigos; e o de bens de consumo duráveis, como automóveis.
"Máquinas, equipamentos, automóveis, eletroeletrônicos, toda essa parte de tecnologia, de informação, de comunicação", detalha Fonseca.

"São setores que te dão essa vantagem, que são muito inovadores. Eles puxam o crescimento do resto da economia e cada vez mais geram novos produtos."

José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), confirma o destaque ao setor de bens de capital.

"Indústria sem máquinas não é indústria. É artesanato."

O setor de máquinas, explica o especialista, é fundamental para o funcionamento das demais indústrias, como a agrícola, a energética, a rodoviária, a química, a automobilística. "A máquina está em toda a economia."
Ainda assim, nem toda máquina é essencial, destaca.
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"O que vai dizer se [a máquina] é essencial é a essencialidade do produto ou do serviço que ela está produzindo. Uma máquina de ginástica em um hotel não é essencial. Mas a mesma máquina de ginástica em uma clínica de recuperação de cardíacos, dentro de um hospital, é essencial."
No caso da pandemia, Velloso lembra que "em um tempo recorde, em pouco mais de 60 dias, nós já estávamos fabricando componentes para montar respiradores no Brasil".

"Quem fabricou o álcool gel foi a máquina. Quem embalou o álcool gel dentro daquelas garrafinhas foi a máquina. E quem fabricou máscara de tecido também foi a máquina."

Que efeito terá o Nova Indústria Brasil?

Desde a pandemia, explica Fernanda Scolari Vieira, advogada e fundadora da FSV Advogados, o governo federal tem realizado projetos expressivos nas indústrias, "tanto para produtos básicos quanto para maquinários industriais pesados".
É o caso, por exemplo, do PL 2/2024, que estimula a revitalização dos maquinários e equipamentos das indústrias. Ou ainda os investimentos da Hemobrás para se tornar autossuficiente em hemoderivados.
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Mais expressivo, no entanto, é o caso do Nova Indústria Brasil (NIB), programa do governo federal que destina R$ 300 bilhões em investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para áreas de atuação específicas, como "saúde, energia limpa, descarbonização e transformação digital de micro, pequenas e médias indústrias", sublinha Vieira.

"Essas medidas visam fortalecer a economia, bem como garantir a autossuficiência do Brasil em setores estratégicos, reduzindo a dependência externa e promovendo o desenvolvimento sustentável."

O Nova Indústria Brasil tem seis missões:
cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais;
forte complexo econômico e industrial de saúde;
infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentável;
transformação digital da indústria;
bioeconomia, descarbonização, e transição e segurança energéticas;
tecnologias de interesse para a soberania e defesa nacionais.
"Nas seis missões há máquinas e equipamentos", destaca Velloso, ressaltando a participação do setor de bens de capital no parque fabril de toda a economia brasileira.
A divisão do programa do governo em missões reflete a prática atual das políticas industriais ao redor do mundo, destacou Fonseca. "O que é uma missão? É trabalhar em um problema da sociedade."

"A missão te gera um dever de casa, uma obrigação que vai gerar um esforço tecnológico, um esforço produtivo de vários setores."

Nesse sentido, aponta Fonseca, a princípio o programa do governo está sem muito detalhamento. "Tem algumas metas que não trazem o apelo de evidenciar uma direção."
Uma política industrial é necessária para o avanço do país, diz o especialista, "mas não se pode cair no erro do passado de dar subsídios e não ter metas para cobrar resultados".

"É muito difícil, no Brasil, fazer escolhas. O governo não gosta de fazer escolhas […]. É preciso ter foco."

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