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Tentativa de golpe na Bolívia escancara influências externas na América Latina, dizem especialistas
Tentativa de golpe na Bolívia escancara influências externas na América Latina, dizem especialistas
Sputnik Brasil
A recente tentativa de golpe contra o presidente da Bolívia, Luiz Arce, reacende questões profundas sobre a estabilidade na América Latina. 27.06.2024, Sputnik Brasil
2024-06-27T21:04-0300
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Analistas entrevistados pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, destacaram que o país tem desafios históricos no que tange manter a governança diante de tantas influências externas, que visam atingir seus objetivos na América Latina.O professor Mário Tito Almeida, doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), aponta a necessidade de uma análise que vá além do contexto imediato e que considere as disputas hegemônicas. "O nível de análise mais internacional, do ponto de vista do sistema internacional, passa necessariamente pela disputa de hegemonia no planeta."Ele explica que a competição entre Estados Unidos e China, que também envolve os interesses do Sul Global e o BRICS, é crucial para compreender o cenário boliviano.O analista ressalta o interesse dos EUA no lítio da Bolívia, vital para indústrias como a de carros elétricos. "Há um interesse estratégico claro na região, não apenas em termos de recursos naturais, mas também como um campo de influência política e econômica", explica.Segundo o professor, a hegemonia norte-americana depende do controle de seus vizinhos, especialmente na América Latina. "Os Estados Unidos precisam ter essa dimensão do controle regional."De acordo com ele, o fator essencial para entender a crise na Bolívia é o interesse pelos recursos naturais. "Pensar essa discussão da Bolívia a partir do interesse pelos recursos naturais, que passa não só pelo lítio, mas também pelo gás, recursos minerais e ambientais", enfatiza.Segundo Almeida, a reação estrangeira se torna mais forte quando governos de esquerda ou progressistas ameaçam os interesses das elites que tradicionalmente dominam o continente. "É uma elite que não percebe que continuar nessa perspectiva significa o atraso do próprio país", acrescenta.Como está a situação da Bolívia hoje?Após a mobilização ilegal do Exército Boliviano que ocupou a Praça Murillo, em La Paz, onde ficam os prédios do governo, Arce convocou a população para se mobilizar contra a tentativa de golpe de Estado.O Exército chegou a invadir parcialmente o palácio governamental, quando o presidente se reuniu com o general Juan José Zúñiga, acusado de liderar a tentativa de golpe. Após a reunião com o presidente, os militares deixaram o prédio do governo.Almeida considera que o presidente agiu de forma emblemática. "Tem uma foto que foi postada, tem um vídeo, onde ele se coloca de frente, claramente, ao general golpista", descreve.Apesar de reconhecer que a resposta poderia ter sido mais enérgica, Almeida elogia a postura de Arce por evitar um banho de sangue e por aprisionar rapidamente o golpista, o que, segundo ele, envia uma mensagem clara sobre a importância de agir com firmeza na defesa da democracia.O professor Guilherme Frizzera, coordenador de relações internacionais da Uninter, afirma que a Bolívia é historicamente o país mais instável em termos de presidência na América do Sul. "A história política da Bolívia é marcada por golpes, contragolpes, momentos até que o país ficou sem um presidente de tantos golpes sucessivos."Portanto, segundo ele, a recente tentativa contra Arce não é um evento isolado, mas parte de um padrão recorrente no país. "Foi mais um caso onde a conjuntura partidária, econômica e principalmente de agentes militares contribuíram para mais um período de instabilidade."Segundo ele, ainda assim, "a Bolívia demonstrou como se deve tratar quem almeja romper com a democracia, prender o agente causador de toda a instabilidade".Ele também cita a Argentina como exemplo de um país que conseguiu limitar o papel das Forças Armadas após a ditadura militar, através de julgamentos de direitos humanos, em contraste com o Brasil, segundo ele, onde a anistia foi a resposta aos crimes cometidos durante o regime.Frizzera enfatiza que a recente estatização da exploração de lítio pelo governo boliviano pode ter sido um fator na tentativa de golpe.Segundo ele, uma instabilidade política pode favorecer aqueles que desejam explorar essas reservas. Ele cita declarações passadas de figuras como Elon Musk sobre intervenções na Bolívia e a importância estratégica do lítio para grandes potências.Reações internacionaisQuanto ao papel da comunidade internacional, Almeida ressalta a importância das manifestações de apoio à democracia. "É essencial que líderes regionais e globais se posicionem contra tentativas golpistas. O silêncio de certos atores internacionais pode ser interpretado como um apoio velado a tais movimentos", alerta, mencionando especificamente o impacto das ações dos Estados Unidos na região.Frizzera destaca a importância da reação rápida da comunidade internacional, que condenou amplamente a tentativa. "Não é mais aceitável que se tome poder à força, seja por conta de princípios e valores democráticos, como também por normas e regras das instituições às quais a Bolívia participa."O governo brasileiro e diversos países ao redor do planeta se manifestaram contrariamente à tentativa de golpe, o que inclui nações latino-americanas e a Rússia.Internamente, segundo Almeida, é importante considerar que há ainda divisões nas Forças Armadas da Bolívia. Dessa forma, "a mudança de comando não garante a estabilidade interna"."Há facções que buscam ultrapassar a regra do jogo democrático, o que representa um desafio significativo para o presidente."
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Analistas entrevistados pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, destacaram que o país tem desafios históricos no que tange manter a governança diante de tantas influências externas, que visam atingir seus objetivos na América Latina.
O professor Mário Tito Almeida, doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), aponta a necessidade de uma análise que vá além do contexto imediato e que considere as disputas hegemônicas. "O nível de análise mais internacional, do ponto de vista do sistema internacional, passa necessariamente pela disputa de hegemonia no planeta."
Ele explica que a competição entre Estados Unidos e China, que também envolve os interesses do Sul Global e o BRICS, é crucial para compreender o cenário boliviano.
O analista ressalta o interesse dos EUA no lítio da Bolívia, vital para indústrias como a de carros elétricos. "Há um interesse estratégico claro na região, não apenas em termos de recursos naturais, mas também como um campo de influência política e econômica", explica.
Segundo o professor, a hegemonia norte-americana depende do controle de seus vizinhos, especialmente na América Latina. "Os Estados Unidos precisam ter essa dimensão do controle regional."
De acordo com ele, o fator essencial para entender a crise na Bolívia é o interesse pelos recursos naturais. "Pensar essa discussão da Bolívia a partir do interesse pelos recursos naturais, que passa não só pelo lítio, mas também pelo gás, recursos minerais e ambientais", enfatiza.
"A América Latina é laboratório de golpes, às vezes muito bem-sucedidos, outros que falham", afirma o professor.
Segundo Almeida, a reação estrangeira se torna mais forte quando governos de esquerda ou progressistas ameaçam os interesses das elites que tradicionalmente dominam o continente. "É uma elite que não percebe que continuar nessa perspectiva significa o atraso do próprio país", acrescenta.
Como está a situação da Bolívia hoje?
Após a mobilização ilegal do Exército Boliviano que ocupou a Praça Murillo, em
La Paz, onde ficam os prédios do governo,
Arce convocou a população para se mobilizar contra a tentativa de golpe de Estado.
O Exército chegou a invadir parcialmente o palácio governamental, quando o presidente se reuniu com o general Juan José Zúñiga, acusado de liderar a tentativa de golpe. Após a reunião com o presidente, os militares deixaram o prédio do governo.
Almeida considera que o presidente agiu de
forma emblemática. "Tem uma foto que foi postada, tem um vídeo,
onde ele se coloca de frente, claramente, ao general golpista", descreve.
Apesar de reconhecer que a resposta poderia ter sido mais enérgica, Almeida elogia a postura de Arce por evitar um banho de sangue e por aprisionar rapidamente o golpista, o que, segundo ele, envia uma mensagem clara sobre a importância de agir com firmeza na defesa da democracia.
O professor Guilherme Frizzera, coordenador de relações internacionais da Uninter, afirma que a Bolívia é historicamente o país mais instável em termos de presidência na América do Sul. "A história política da Bolívia é marcada por golpes, contragolpes, momentos até que o país ficou sem um presidente de tantos golpes sucessivos."
Portanto, segundo ele, a recente tentativa contra Arce não é um evento isolado, mas parte de um padrão recorrente no país. "Foi mais um caso onde a conjuntura partidária, econômica e principalmente de agentes militares contribuíram para mais um período de instabilidade."
Segundo ele, ainda assim, "a Bolívia demonstrou como se deve tratar quem almeja romper com a democracia, prender o agente causador de toda a instabilidade".
Ele também cita a Argentina como exemplo de um país que conseguiu limitar o papel das Forças Armadas após a ditadura militar, através de julgamentos de direitos humanos, em contraste com o Brasil, segundo ele, onde a anistia foi a resposta aos crimes cometidos durante o regime.
Frizzera enfatiza que a recente estatização da exploração de lítio pelo governo boliviano pode ter sido um fator na tentativa de golpe.
"Evidentemente, e há muito tempo, nós já temos por parte da inteligência militar, das Forças Armadas da América do Sul, uma noção muito clara de que se ocorresse alguma guerra, ela se daria por conta de recursos naturais."
Segundo ele, uma instabilidade política pode favorecer aqueles que desejam explorar essas reservas. Ele cita declarações passadas de figuras como Elon Musk sobre intervenções na Bolívia e a importância estratégica do lítio para grandes potências.
Quanto ao papel da comunidade internacional, Almeida ressalta a importância das manifestações de apoio à democracia. "É essencial que líderes regionais e globais se posicionem contra tentativas golpistas. O silêncio de certos atores internacionais pode ser interpretado como um apoio velado a tais movimentos", alerta, mencionando especificamente o impacto das ações dos Estados Unidos na região.
Frizzera destaca a importância da reação rápida da comunidade internacional, que condenou amplamente a tentativa. "Não é mais aceitável que se tome poder à força, seja por conta de princípios e valores democráticos, como também por normas e regras das instituições às quais a Bolívia participa."
O
governo brasileiro e diversos países ao redor do planeta se manifestaram contrariamente à tentativa de golpe, o que inclui
nações latino-americanas e a Rússia.
Internamente, segundo Almeida, é importante considerar que há ainda divisões nas Forças Armadas da Bolívia. Dessa forma, "a mudança de comando não garante a estabilidade interna".
"Há facções que buscam ultrapassar a regra do jogo democrático, o que representa um desafio significativo para o presidente."
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