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'A máscara caiu': Ocidente escancara protecionismo econômico para combater China, diz analista

© Sputnik / Ramil SitdikovVeículo chinês em exposição em feira automobilística em Moscou, Rússia, 19 de dezembro de 2023
Veículo chinês em exposição em feira automobilística em Moscou, Rússia, 19 de dezembro de 2023  - Sputnik Brasil, 1920, 30.08.2024
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Canadá segue EUA e impõe tarifas de até 100% contra veículos elétricos produzidos na China. Ao adotar o protecionismo econômico para conter o crescimento chinês, Ocidente revela falácia de seu discurso em favor do livre comércio, acredita analista ouvido pela Sputnik Brasil.
Nesta semana, o Canadá anunciou a imposição de tarifas de até 100% contra veículos elétricos produzidos na China, além de tarifas de 25% nas importações de alumínio. A medida foi classificada por Pequim de "protecionismo clássico" e abre mais um front na guerra comercial declarada pelo Ocidente contra o país asiático.
A medida canadense espelha a de seus vizinhos e aliados EUA, que quadruplicaram as tarifas impostas contra veículos elétricos chineses em maio deste ano, também atingindo a marca dos 100%. Os EUA ainda restringiram as importações de semicondutores, componentes para painéis de energia solar, baterias de lítio-íon e demais bens considerados estratégicos.
© Fred DufourBandeiras canadenses e chinesas tiradas antes de uma reunião com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente da China, Xi Jinping, no Diaoyutai State Guesthouse em Pequim (foto de arquivo)
Bandeiras canadenses e chinesas tiradas antes de uma reunião com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente da China, Xi Jinping, no Diaoyutai State Guesthouse em Pequim (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 30.08.2024
Bandeiras canadenses e chinesas tiradas antes de uma reunião com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente da China, Xi Jinping, no Diaoyutai State Guesthouse em Pequim (foto de arquivo)
O Ministério do Comércio da China reagiu ao anúncio canadense, declarando que a medida vai contra as regras internacionais de comércio e afeta a "estabilidade das cadeias de suprimentos globais", conforme reportou a Reuters.

"O lado canadense afirma apoiar o livre comércio e o sistema de comércio multilateral com base nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), mas viola flagrantemente as regras desta organização, segue cegamente determinados países e anuncia que adotará medidas tarifárias unilaterais, o que é protecionismo comercial típico", disse o porta-voz do ministério chinês.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, se uniu ao coro, declarando que a competitividade dos veículos elétricos chineses é fruto de "de inovação tecnológica persistente, cadeias industriais e de suprimentos bem estabelecidas e adesão total à concorrência de mercado".
"Os subsídios não geram competitividade industrial, enquanto o protecionismo protege apenas o atraso. O desenvolvimento futuro será sacrificado", disse o porta-voz da chancelaria chinesa.
Uma das empresas que será mais afetada no curto prazo pelas tarifas canadenses é a norte-americana Tesla, que exportou mais de 35 mil unidades de veículos elétricos produzidos em Xangai para o Canadá em 2023, de acordo com o portal Automative News.
© AP Photo / David ZalubowskiFoto mostra os sedãs Tesla 2018 modelo S em exibição do lado de fora de um showroom da Tesla em Littleton, Colorado, 8 de julho de 2018
Foto mostra os sedãs Tesla 2018 modelo S em exibição do lado de fora de um showroom da Tesla em Littleton, Colorado, 8 de julho de 2018 - Sputnik Brasil, 1920, 30.08.2024
Foto mostra os sedãs Tesla 2018 modelo S em exibição do lado de fora de um showroom da Tesla em Littleton, Colorado, 8 de julho de 2018
Nesta quinta-feira (29), a Tesla solicitou ao governo canadense que reconsidere as tarifas impostas, reportou a Reuters. As tarifas impostas contra a China pela União Europeia, por exemplo, garantem tratamento especial a ocidental Tesla. Enquanto empresas chinesas são alvo de tarifas que variam entre 17 e 36%, a Tesla arca com somente 9%, cenário que poderá se repetir no caso canadense.
Outras líderes chinesas de mercado, como a BYD, ainda não exportam quantidades significativas para o Canadá. Atualmente, os veículos elétricos chineses têm como principais mercados países do Sul Global, particularmente na região do Sudeste Asiático.

Adeus ao liberalismo comercial?

A decisão canadense reflete a tendência de recrudescimento das relações geopolíticas globais, que refletem nos fluxos comerciais, acredita o professor de economia do Mackenzie, Milton Pignatari. Para o especialista, a atual proliferação de conflitos internacionais leva a uma cisão entre lados beligerantes opostos, que exercem sua rivalidade também na esfera comercial.

"No exemplo do Canadá, por questões políticas, geográficas e ideológicas, certamente é muito melhor manter um bom relacionamento com os EUA [do que com a China]", disse Pignatari à Sputnik Brasil. "Isso nos leva a acreditar que no atual momento econômico, existe sim uma alteração nos processos de liberalização comercial em curso, não em grande escala, mas sinalizando algumas tendências que podem vir a se confirmar futuramente, principalmente com o eventual desfecho dos conflitos."

A reemergência do protecionismo global e a consolidação das guerras comerciais poderão levar a uma estagnação da produção de riqueza e gerar uma crise econômica internacional, alerta o economista.
© Luciano Carcara/BYDVeículos da BYD apresentados durante evento de lançamento da pedra fundamental do complexo industrial da montadora em Camaçari (BA), em 10 de outubro de 2023
Veículos da BYD apresentados durante evento de lançamento da pedra fundamental do complexo industrial da montadora em Camaçari (BA), em 10 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 30.08.2024
Veículos da BYD apresentados durante evento de lançamento da pedra fundamental do complexo industrial da montadora em Camaçari (BA), em 10 de outubro de 2023
"Seguindo de maneira didática as regras de mercado, se tivermos menos oferta do que procura, certamente haverá um aumento dos preços. Com aumento dos preços, os países terão menos reservas, o que compromete a acumulação de riquezas. Isso fará que os investimentos tenham de ser repensados. Ao diminuir investimentos, sempre existe uma forte tendência a ocorrer uma diminuição da produtividade", explicou Pignatari.
O esforço de países ocidentais desenvolvidos em frear o crescimento chinês através da imposição de tarifas também poderá ter efeitos nocivos em suas próprias economias, diminuindo o acesso não só a bens industriais essenciais, mas também produtos alimentícios como arroz e milho. "Ou seja, frear o crescimento chinês poderia refletir em frear também outras diversas economias", acredita Pignatari.
© AP Photo / Andres Martinez CasaresO presidente chinês Xi Jinping (D) e o presidente do Vietnã, To Lam, apertam as mãos após uma cerimônia de assinaturas no Grande Salão do Povo em Pequim, 19 de agosto de 2024
O presidente chinês Xi Jinping (D) e o presidente do Vietnã, To Lam, apertam as mãos após uma cerimônia de assinaturas no Grande Salão do Povo em Pequim, 19 de agosto de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 30.08.2024
O presidente chinês Xi Jinping (D) e o presidente do Vietnã, To Lam, apertam as mãos após uma cerimônia de assinaturas no Grande Salão do Povo em Pequim, 19 de agosto de 2024
Por outro lado, a China se prepara para o impacto das medidas ocidentais e já desvia suas exportações para mercados do Sul Global, menos propensos a adotar tarifas comerciais de cunho geopolítico, disse o mestre em história pela USP, residente em Pequim e especialista em assuntos relacionados a China, Marco Fernandes.
"Desde o final de 2022, a China passou a exportar mais para os países do Sul Global do que para países desenvolvidos, o que é, na minha opinião, mais um movimento tectônico da economia global", disse Fernandes à Sputnik Brasil. "Essa tendência se consolidou em 2023 e se encontra em plena aceleração, o que muda completamente o jogo."
A capacidade ocidental de frear o crescimento econômico da China através da imposição de tarifas comerciais também esbarra na pujança do mercado doméstico chinês, capaz de manter a demanda por produtos industriais produzidos internamente.
"A China tem outra carta na manga, que é o seu mercado interno. Podemos considerar que o país atualmente conta com uma classe média de cerca de 400 milhões de pessoas. O objetivo do governo é expandir esse número para 700 milhões em 2035, isto é, praticamente dobrar a capacidade", revelou Fernandes.
Segundo ele, essa estratégia econômica chinesa é denominada "circulação dual" e implica a diminuição da dependência de exportações para apostar no crescimento do consumo doméstico. "A China já previa problemas de ordem geopolítica e formulou esse conceito, que atende a demandas internas pelo aumento da prosperidade", diz o analista.
© AP Photo / Ng Han GuanTrabalhador chinês de uma das maiores empresas de petróleo da China, a Sinopec, manuseia mangueiras após entregar gasolina em um posto em Pequim, China
Trabalhador chinês de uma das maiores empresas de petróleo da China, a Sinopec, manuseia mangueiras após entregar gasolina em um posto em Pequim, China - Sputnik Brasil, 1920, 30.08.2024
Trabalhador chinês de uma das maiores empresas de petróleo da China, a Sinopec, manuseia mangueiras após entregar gasolina em um posto em Pequim, China
Por outro lado, o analista nota que o protecionismo dos países desenvolvidos não é uma novidade e sempre foi acionado para proteger setores econômicos menos competitivos de EUA e Europa, como o setor agrícola.
"O Brasil é alvo de protecionismo europeu a décadas, basta atentarmos para as negociações do acordo Mercosul-União Europeia, que nunca foi concluído", lembrou Fernandes. "O discurso liberal do livre comércio capitaneado pelos países desenvolvidos, enquanto mantinham a hegemonia absoluta do mercado mundial, era hipócrita e voltado para convencer as classes dominantes do Sul Global a abrirem seus mercados internos. Agora vemos que a máscara caiu."
A liberalização dos mercados do Sul Global levou a processos deletérios, como a desindustrialização de países-chave como África do Sul e Brasil, "que era uma potência industrial décadas atrás, e hoje se resume a ser uma grande fazenda ou uma grande mina". Neste novo momento geopolítico, o Brasil também poderá se reposicionar e fazer novas escolhas para reforçar o seu parque industrial doméstico, concluiu o analista.
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