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Harris se sai melhor que Trump em debate, mas 'titubeia' em temas críticos, dizem analistas

© AP Photo / Alex BrandonCombinação de fotos mostra o candidato presidencial republicano, Donald Trump, e a candidata presidencial democrata, Kamala Harris, durante o debate presidencial da ABC News, na Filadélfia. EUA, 10 de setembro de 2024
Combinação de fotos mostra o candidato presidencial republicano, Donald Trump, e a candidata presidencial democrata, Kamala Harris, durante o debate presidencial da ABC News, na Filadélfia. EUA, 10 de setembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 11.09.2024
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Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que a candidata democrata teve um desempenho melhor no debate presidencial, mas seu rival republicano ainda tem boas chances na disputa graças ao "núcleo duro" de seu eleitorado.
Os candidatos à presidência dos EUA Donald Trump e Kamala Harris se enfrentaram na noite de terça-feira (10) no que é apontado como possível único debate entre ambos até o dia da votação, marcada para 5 de novembro.
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam qual candidato se saiu melhor e como o debate pode influenciar o eleitorado norte-americano, sobretudo os eleitores indecisos.
Natália Nóbrega de Mello, professora de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), avalia que o debate não foi decisivo para a eleição, no sentido de promover uma mudança significativa nas pesquisas, indicando um crescimento maior de Harris ou Trump.
Entretanto, ela considera que Harris se saiu um pouco melhor que Trump no debate e conseguiu desestabilizar o adversário.

"Acho que particularmente ela o irritou no momento em que ela fala que os eventos dele são muito cansativos, que as pessoas saem entediadas, vão embora mais cedo. Isso o deixou bastante irritado e falando de uma maneira um pouco mais agressiva, um pouco mais desestabilizada e que a coloca em uma imagem mais presidenciável e ele como uma figura um pouco instável", avalia.

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Ela aponta que Harris trouxe para o debate propostas políticas, sociais e econômicas que tinham como alvo a classe média trabalhadora americana, apresentando as questões de maneira mais concreta.
"E isso é uma coisa que está totalmente ausente na fala dele [Trump]. A fala dele é basicamente do medo, [dizendo que] a economia e a política estão péssimas no governo Biden-Harris, e vai ser pior ainda só com Harris. Ele fala do medo o tempo todo, jogando para o medo na política externa também, [dizendo que] vai ser horrível, que vai ser a Terceira Guerra Mundial, que ela é fraca, que os EUA teriam um líder fraco que ninguém no mundo confia", afirma.
Ela acrescenta que essa retórica de Trump vem acompanhada de afirmações de que com ele será diferente.

"Esse medo dela sendo colocado junto, o tempo todo, com 'Mas eu consigo, eu posso, eu sou um líder de que as pessoas ficam temerosas. A guerra na Ucrânia sequer teria ocorrido [com ele na presidência]. Eu vou reconstruir os EUA, fazer a América grande de novo'. Mas que nunca se coloca claramente em termos de planejamento. Isso eu acho que funciona bem com a base dele, mas eu não sei se isso traz para ele novos votos."

Por sua vez, Thomas Ferdinand Heye, professor do Instituto de Estudos Estratégicos (Inest) da Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita que "Kamala Harris, ao contrário do candidato democrata anterior, o presidente Joe Biden, demostrou claramente que é capaz de conquistar eleitores indecisos e até mesmo recuperar o interesse na eleição entre segmentos do eleitorado que manifestaram sua intenção de sequer se registrar para votar".
Ele acrescenta que apesar de Harris ter tido uma atuação discreta e de pouca relevância durante o seu mandato de vice-presidente, o debate permitiu à democrata apresentar seu perfil e pontos centrais de sua agenda.
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Em contraponto, ele avalia que Trump "repetiu a estratégia antiga" de recorrer a "teorias conspiratórias mirabolantes", o que acabou limitando o republicano aos eleitores que já o apoiam, sem conseguir conquistar uma fatia maior dos eleitores indecisos.

"Ao não conseguir alcançar a fatia do eleitorado indeciso, que em última análise definirá o resultado da eleição, Trump se revela estagnado e com pouca chance de ampliar o número de votos a seu favor", afirma.

O especialista aponta ainda que Trump manteve sua atual estratégia de campanha de tentar "colar em Kamala Harris a equivocada pecha de marxista radical", mas que a tentiva falhou, o que acabou "reforçando a impressão de que Trump não tem nada de novo para apresentar nesta eleição".

Harris se saiu bem, mas 'titubeou' em questões complexas

Para Nathana Garcez Portugal, doutoranda em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, em termos comparativos a candidata democrata se saiu melhor que o republicano, mas não o suficiente "para que fosse declarada uma vitória destoante ou uma diferença suficiente para abalar a candidatura de Trump".
"Ela teve um desenvolvimento consistente, foi muito propositiva, conseguiu dialogar com o público, atacou deficiências importantes do candidato Donald Trump. Mas ela acabou titubeando e fugindo de certos posicionamentos em searas que são mais complexas para o atual governo democrata, como a percepção em relação à economia", destaca.
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Ela afirma que esses pequenos momentos do debate acabaram afetando um pouco negativamente Harris.

"Caso ela tivesse tido outras posturas mais propositivas, teria se saído ainda melhor frente a um Donald Trump que ficou exaltado várias vezes."

Alguns dias antes do debate, analistas apontaram que a campanha de Trump estudava uma abordagem diferente, com o republicano assumindo uma postura mais moderada. Porém Nathana afirma que se essa estratégia foi cogitada, Trump demonstrou que não busca ou não consegue implementar uma versão mais pacífica de si mesmo.
"Ele até teve uma postura em relação à Kamala de buscar ser menos sexista, menos racista, interrompê-la menos ao longo do debate. No entanto, ele teve muitos problemas em tentar colar na Kamala uma postura de comunista radical. Ele buscou falar sobre isso, mas teve muita dificuldade de colocar isso logicamente em uma linha de raciocínio."
Nesse contexto, a especialista afirma que Trump, inevitavelmente, repetiu estratégias já conhecidas de uso de superlativos e de aumentar os fatos "até o ponto de eles praticamente se descolarem da realidade".
"Ele fez isso em diversos momentos. Chegou a falar em determinado momento sobre imigrantes comendo cães e gatos de americanos em certas cidades de Ohio, e isso foi desmentido ao vivo pelos jornalistas que mediavam o debate. Então ele acabou se colocando para o público como um candidato que está mais predisposto a cometer exageros, a cometer mentiras, e isso já é uma lógica conhecida da campanha de Trump", explica.
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Nathana afirma que tanto a postura mais propositiva de Harris quanto a dos mediadores em checar a veracidade das afirmações de Trump acabaram colocando o republicano em uma posição acuada e defensiva a que ele "perceptivelmente não está acostumado". Somado a isso, ela acrescenta que "foi a primeira vez em que Trump se viu colocado na posição de candidato com menos vigor físico".
"Porque antes ele estava disputando com um candidato que era muito cobrado sobre o vigor físico, que era Joe Biden, mas agora ele tem outra candidata enfrentando ele, Kamala Harris, mais jovem, que sabe envolver o público. E eu acho que é a primeira vez que ele se viu em um embate de ideias com alguém que tem mais vigor e coloca ele em uma posição mais defensiva."
Entretanto, ela afirma que isso também não significa que Harris vai conquistar novos votos em razão do debate, já que Trump tem uma parcela bastante fixa do eleitorado, o que coloca a disputa mais em torno dos indecisos.
Abordando a pesquisa divulgada recentemente pelo New York Times, em parceria com a Siena College, na qual 28% dos entrevistados afirmaram falta de informação sobre Harris, Nathana afirma que a democrata foi bem-sucedida em se comunicar com o eleitor e conseguiu se desviar da estratégia do rival de tentar associá-la a Biden.
Porém o fato de Trump ter o apoio de uma grande parcela do eleitorado que não se altera, o seu "núcleo duro", mantém ele no páreo da disputa presidencial e com boas chances de vitória.

"No entanto, para sacramentar essa vitória ele precisa de outros fatores, como conquistar alguns [eleitores] independentes e impedir que a candidata democrata tanto conquiste os independentes quanto movimente a bolha de eleitores democratas."

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