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Fala de Lula na ONU retrata 'esgotamento' e conclamação a 'uma nova ordem internacional'
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Como de praxe e função do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu a 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta... 24.09.2024, Sputnik Brasil
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À Sputnik Brasil, Williams Gonçalves, professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) assimilou o discurso de abertura proferido pelo chefe de Estado brasileiro como "um discurso pessimista".Segundo ele, com um tom "cansado" e "sombrio", a fala de Lula reflete a necessidade mundial de uma mudança da velha ordem presente nas instâncias da ONU. O analista pontuou: "O discurso do presidente Lula me parece aqueles discursos de balanço final, de prestação de contas."Questionado sobre os rumos da fala do presidente, Gonçalves afirmou que "a verdadeira reforma só virá em tempos de conflito", deixando claro que, sem mudanças significativas, a estrutura atual pode não ser capaz de prevenir novas guerras e conflitos.O professor notou que o discurso de Lula é um lamento pelas oportunidades perdidas de incluir vozes de países em desenvolvimento nas decisões globais.Helena Margarido Moreira, professora de relações internacionais na Universidade Anhembi Morumbi e pesquisadora de política ambiental global, pontuou que "o discurso do Lula na abertura da Assembleia Geral veio como uma tentativa mesmo de o Brasil se colocar, de alguma forma, como porta-voz do Sul Global, considerando que o Brasil também está na presidência do G20, que reúne ali as 20 maiores economias do mundo".Reforma do Conselho de Segurança da ONU, um pleito antigoÀ Sputnik Brasil, Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro "Imperialismo, Estado e relações internacionais", pontuou que o pleito pela reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) não é novo e remonta aos tempos da Sociedade das Nações.Segundo Osório, Lula está correto em pleitear uma vaga. "Inclusive é do tempo de seus primeiros mandatos a articulação com Alemanha, Japão e Índia, chamada de G4" para aumentar o número de assentos permanentes no órgão de cúpula da ONU.A ausência de uma reforma significativa na ONU, que só passou por mudanças em 1961, revela um engessamento que Lula denuncia, ressaltou Osório. Ele reiterou que a proposta de expansão dos assentos permanentes, articulada com países como Alemanha, Japão e Índia, "continua a ser uma demanda relevante". Contudo, especialistas afirmam que "a dinâmica de poder mundial e o controle exercido pelos Estados Unidos dificultam essa mudança".O professor Osório observa que, embora a retórica de Lula tenha "ressoado internacionalmente", a concretização dessas promessas depende não apenas do Brasil, mas de "um esforço coletivo que ainda parece distante".No entanto, essa preocupação constante eleva a posição do Brasil no cenário internacional, mostrando que o país está disposto a liderar debates críticos.Por fim, a discussão sobre inteligência artificial e governança tecnológica, proposta por Lula, sublinha a necessidade de "uma autonomia brasileira no desenvolvimento tecnológico". Em um cenário global marcado por invasões de privacidade e manipulação de dados, Osório destaca que garantir a soberania tecnológica é "crucial para promover os direitos humanos". A insistência de Lula nesse tema indica o reconhecimento do potencial do Brasil para ser um protagonista na discussão sobre tecnologia e direitos.Discurso de Lula na ONUCrítico conhecido do anacronismo da ONU tanto no que diz respeito à sua representatividade em instâncias como o Conselho de Segurança, como no âmbito geral da própria assembleia que não consegue mais lidar com a mediação entre os Estados, o presidente brasileiro mencionou os atuais conflitos quentes ao redor do mundo, citando em especial a Ucrânia e Gaza — para os quais mencionou como antídotos o Plano para Paz de seis pontos de Brasil e China, e a solução de dois Estados, respectivamente.Lula ainda citou os fortes desafios climáticos que o mundo enfrenta em caráter generalizado e justificou na bioeconomia, uma saída viável para alguns desses problemas.Destacando o potencial brasileiro na agenda ambiental, Lula ressaltou que o mundo está atrasado na matéria e que existe muito a ser feito, mas que o ritmo ainda segue lento para a necessidade do mundo.O presidente abordou também os desafios da democracia em diversas searas e territórios. Citando casos como de países africanos e do próprio Brasil, Lula destacou que as instituições precisam estar firmes contra tentativas de "solapar" a democracia, que espalham ódio, preconceito e retrocesso."No mundo globalizado, não faz sentido recorrer a falsos patriotas e isolacionistas. Tampouco há esperança no recurso a experiências ultraliberais que apenas agravam as dificuldades de um continente depauperado. O futuro de nossa região passa, sobretudo, por construir um Estado sustentável, eficiente, inclusivo e que enfrenta todas as formas de discriminação, que não se intimida ante vídeos, corporação ou plataformas digitais que se julguem acima das leis. A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras", afirmou.
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Fala de Lula na ONU retrata 'esgotamento' e conclamação a 'uma nova ordem internacional'
16:04 24.09.2024 (atualizado: 17:28 24.09.2024) Especiais
Como de praxe e função do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu a 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (24), na sede da organização em Nova York.
À Sputnik Brasil, Williams Gonçalves, professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) assimilou o discurso de abertura proferido pelo chefe de Estado brasileiro como "um discurso pessimista".
Segundo ele, com um tom "cansado" e "sombrio", a fala de Lula reflete a necessidade mundial de uma mudança da velha ordem presente nas instâncias da ONU. O analista pontuou: "O discurso do presidente Lula me parece aqueles discursos de balanço final, de prestação de contas."
"Esse tom que eu identifico como negativo, como pessimista, ele também tem aí uma bandeira que é de dizer o seguinte: 'Olha, essa ordem internacional está se esgotando, ela já se esgotou. Nós estamos aqui fazendo um balanço e mostrando que essa ordem, se algum dia funcionou, já não funciona. E que é necessário, portanto, criar uma nova ordem.' Esse modelo se esgotou, e precisamos criar um novo modelo", argumentou.
Questionado sobre os rumos da fala do presidente, Gonçalves afirmou que "a verdadeira reforma só virá em tempos de conflito", deixando claro que, sem mudanças significativas, a estrutura atual pode não ser capaz de prevenir novas guerras e conflitos.
"O mundo mudou, e a ONU, inaugurada com pouco mais de 50 Estados, não dá conta dos problemas contemporâneos", arrematou, dando base para o discurso do chefe de Estado brasileiro.
O professor notou que o discurso de Lula é um lamento pelas oportunidades perdidas de incluir vozes de países em desenvolvimento nas decisões globais.
Helena Margarido Moreira, professora de relações internacionais na Universidade Anhembi Morumbi e pesquisadora de política ambiental global, pontuou que "o discurso do Lula na abertura da Assembleia Geral veio como uma tentativa mesmo de o Brasil se colocar, de alguma forma, como porta-voz do Sul Global, considerando que o Brasil também está na presidência do G20, que reúne ali as 20 maiores economias do mundo".
Reforma do Conselho de Segurança da ONU, um pleito antigo
À Sputnik Brasil, Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro "Imperialismo, Estado e relações internacionais", pontuou que o pleito pela reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) não é novo e remonta aos tempos da Sociedade das Nações.
"É uma bandeira histórica que acompanha a diplomacia nacional, mesmo antes de a ONU existir, presente já na embrionária Sociedade das Nações, nas quais o Brasil se colocava como único representante das Américas no Conselho Executivo e demandava um assento permanente que não veio, ocasionando a saída precoce da organização. Na ONU não é diferente. Mesmo estando ao lado dos vitoriosos da Segunda Guerra Mundial, com esforços importantes e ações determinantes, ficou sem a posição", explicou o internacionalista.
Segundo Osório, Lula está correto em pleitear uma vaga. "Inclusive é do tempo de seus primeiros mandatos a articulação com Alemanha, Japão e Índia, chamada de G4" para aumentar o número de assentos permanentes no órgão de cúpula da ONU.
A ausência de uma reforma significativa na ONU, que só passou por mudanças em 1961, revela um engessamento que Lula denuncia, ressaltou Osório. Ele reiterou que a proposta de expansão dos assentos permanentes, articulada com países como Alemanha, Japão e Índia, "continua a ser uma demanda relevante". Contudo, especialistas afirmam que "a dinâmica de poder mundial e o controle exercido pelos Estados Unidos dificultam essa mudança".
O professor Osório observa que, embora a retórica de Lula tenha "ressoado internacionalmente", a concretização dessas promessas depende não apenas do Brasil, mas de "um esforço coletivo que ainda parece distante".
No entanto, essa preocupação constante eleva a posição do Brasil no cenário internacional, mostrando que o país está disposto a liderar debates críticos.
Por fim, a discussão sobre inteligência artificial e governança tecnológica, proposta por Lula, sublinha a necessidade de "uma autonomia brasileira no desenvolvimento tecnológico". Em um cenário global marcado por invasões de privacidade e manipulação de dados, Osório destaca que garantir a soberania tecnológica é "crucial para promover os direitos humanos". A insistência de Lula nesse tema indica o reconhecimento do potencial do Brasil para ser um protagonista na discussão sobre tecnologia e direitos.
Crítico conhecido do anacronismo da ONU tanto no que diz respeito à sua representatividade em instâncias como o
Conselho de Segurança, como no âmbito geral da própria assembleia que
não consegue mais lidar com a mediação entre os Estados, o presidente brasileiro mencionou os atuais conflitos quentes ao redor do mundo, citando em especial a Ucrânia e Gaza — para os quais mencionou como antídotos o
Plano para Paz de seis pontos de Brasil e China, e a solução de dois Estados, respectivamente.
Lula ainda citou os fortes desafios climáticos que o mundo enfrenta em caráter generalizado e justificou na bioeconomia, uma saída viável para alguns desses problemas.
"Não é mais admissível pensar em soluções para as florestas tropicais sem ouvir os povos indígenas, as comunidades tradicionais e todos aqueles que vivem nelas. Nossa visão de desenvolvimento sustentável está alicerçada no potencial da bioeconomia. O Brasil sediará a COP30 em 2025, convicto de que o multilateralismo é o único caminho para superar a urgência climática", afirmou o presidente.
Destacando o
potencial brasileiro na agenda ambiental, Lula ressaltou que o mundo está atrasado na matéria e que existe muito a ser feito, mas que
o ritmo ainda segue lento para a necessidade do mundo.
O presidente abordou também os
desafios da democracia em diversas searas e territórios. Citando casos como de países africanos e do próprio Brasil, Lula destacou que
as instituições precisam estar firmes contra tentativas de "solapar" a democracia, que espalham ódio, preconceito e retrocesso.
"No mundo globalizado, não faz sentido recorrer a falsos patriotas e isolacionistas. Tampouco há esperança no recurso a experiências ultraliberais que apenas agravam as dificuldades de um continente depauperado. O futuro de nossa região passa, sobretudo, por construir um Estado sustentável, eficiente, inclusivo e que enfrenta todas as formas de discriminação, que não se intimida ante vídeos, corporação ou plataformas digitais que se julguem acima das leis. A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras", afirmou.
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