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'A gente vende alegria': Brasil deve explorar G20 e COP30 para aumentar influência, dizem analistas

© Foto / Claudio Kbene/PRO presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Sessão de Abertura da Reunião Ministerial do G20, na sede das Nações Unidas, em Nova York
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Sessão de Abertura da Reunião Ministerial do G20, na sede das Nações Unidas, em Nova York - Sputnik Brasil, 1920, 04.10.2024
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Cultura, economia, biodiversidade, diplomacia, poder de atração turística, influência internacional: muitos desses pontos são importantes para a construção do soft power de um país. E as nações sul-americanas os têm de sobra, incluindo o Brasil.
Com a proximidade de grandes eventos, como a cúpula do G20, em novembro, no Rio de Janeiro, e a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em agosto, no Pará, o Brasil conseguirá exercitar mais seu soft power, como fazem as grandes potências?
Para responder a essa e outras perguntas, a Sputnik Brasil conversou com especialistas no assunto. O doutor em ciência política e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Elton Gomes destaca a relevância histórica do soft power como um ativo essencial para o Brasil.
Segundo ele, "o soft power, historicamente, é um dos grandes ativos da diplomacia brasileira". Gomes explica que, apesar de o país não estar entre os líderes em hard power, como recursos militares, "o Brasil é sócio fundador e participante da imensa maioria dos regimes internacionais mais importantes".
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O professor aponta que a tradição brasileira se baseia em uma diplomacia voltada para a cooperação e o prestígio internacional, focando em "cooperação temática setorial". No entanto, ele expressa preocupação com a mudança de tom na política externa nos últimos anos, especialmente sob os governos de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
"O soft power brasileiro tem passado por momentos de redução da sua capacidade em função da área internacional", observa.

Nova retórica × tradição diplomática

As tensões geopolíticas atuais, segundo Gomes, têm afetado a posição do Brasil. Ele enfatiza que o país "procura não se alinhar em questões macro de geopolítica", priorizando a "solução pacífica dos conflitos". Contudo, a nova retórica diplomática estaria gerando certos questionamentos.
O professor cita como exemplo a postura mais favorável à Palestina na guerra com Israel, e a neutralidade "pró-Venezuela" nas últimas eleições venezuelanas. "Isso foge da tradição diplomática brasileira, muito guiada pelo cálculo objetivo", afirma.
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As consequências dessa nova abordagem não são irreversíveis, mas já estão afetando a imagem do Brasil no cenário internacional, na opinião de Gomes. Com questões climáticas e direitos humanos em pauta, ele alerta que "o Brasil ficou em xeque agora com esse número recorde de queimadas".

"Essa fuga do que tem dado certo para o Brasil há décadas, naturalmente, tem consequências."

Concorrências à influência cultural brasileira

Luciene Godoy, internacionalista e professora de relações internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, destaca a relevância desse momento para o exercício do soft power brasileiro. "Esses grandes eventos [G20 e COP30] vão permitir, sim, que o Brasil exercite ainda mais o seu soft power e se projete cada vez mais como uma potência regional relevante", afirma.
De acordo com a professora, o Brasil é a nona maior economia do mundo e possui um Ministério das Relações Exteriores reconhecido internacionalmente. "A gente tem uma cultura muito forte, elementos que fazem com que o nosso país já seja, por natureza, considerado uma potência regional", observa. A partir dessa perspectiva, Godoy enfatiza a importância de aproveitar essas oportunidades, a fim de expandir a influência cultural brasileira no cenário global.
Contudo, o soft power brasileiro enfrenta desafios. Godoy analisa a concorrência crescente de produções culturais de outros países, especialmente da Coreia do Sul e da Turquia, além do histórico sufocamento provocado pelos Estados Unidos.
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"O soft power brasileiro está sendo sufocado não apenas pelos Estados Unidos, mas também por essas novas potências culturais", ressalta. Essa realidade é refletida na maneira como as produções são consumidas no Brasil, onde muitos conteúdos importados, como as novelas coreanas e turcas, não necessariamente refletem a cultura local. "As produções turcas que fazem sucesso aqui refletem um estilo de vida que não é o estilo de vida da população turca", explica.

Falta de tom certo?

A professora observa que o Brasil possui a imagem construída de um país alegre e leve, que cativa o mundo. "Se você perguntar para os nossos vizinhos, não é assim que eles nos enxergam, principalmente do ponto de vista militar", admite. No entanto, a imagem vendida ao exterior é de um país feliz, que promove o carnaval, o futebol e uma rica musicalidade. E isso poderia ser ainda mais explorado. "A gente vende alegria, só vende coisa boa", destaca.

Para Godoy, a chave para o Brasil retomar sua influência cultural global está em acertar o tom. "Essa nossa imagem, que foi construída, é uma imagem que cativou o mundo", conclui.

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