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Análise: Venezuela é o único país capaz de conter choque do petróleo frente à crise no Oriente Médio

© AP Photo / Fernando LlanoPoço de petróleo na Venezuela (foto de arquivo)
Poço de petróleo na Venezuela (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 09.10.2024
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À Sputnik Brasil, analistas apontam que se não fossem as sanções ocidentais que contribuem para deteriorar a estrutura de produção do país, a Venezuela poderia blindar o mundo de uma crise nos preços do petróleo desencadeada por um eventual fechamento do estreito de Ormuz por conta dos conflitos na região.
A escalada de violência no Oriente Médio envolvendo Israel, Palestina, Líbano e Irã colocou em risco a navegação por meio do estreito de Ormuz, canal que conecta o golfo Pérsico ao oceano Índico. O estreito é considerado a artéria do fornecimento global de petróleo, sendo rota diária de cerca de 20 milhões de barris.
Analistas apontam que os conflitos vigentes podem levar ao fechamento do estreito pelo Irã, que controla estrategicamente a passagem. Um eventual fechamento do estreito de Ormuz tem potencial para gerar um choque global na oferta de petróleo.
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam qual seria a alternativa global para o consumo de petróleo, caso o estreito seja fechado e se a Venezuela, único país latino-americano na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), poderia se tornar uma opção para a exportação da commodity.
Juliane Furno, professora de economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), enfatiza que a Venezuela é o primeiro país no mundo em termos de reservas petrolíferas comprovadas, embora não seja a maior produtora por problemas de estrutura de extração e pelos embargos que sofre dos EUA e de parte da União Europeia (UE).
No entanto, ela avalia que, em termos de possibilidades, "a Venezuela é o único país que pode contrabalancear uma crise no Oriente Médio e manter o nível de oferta global próximo ao atual".
"Isso vai exigir, no entanto, um ajuste final na estratégia imperialista de sufocar a revolução bolivariana através de embargos e sanções. Meu chute é que isso vai ocorrer, já que existe um grande paradoxo entre quem sanciona e quem é sancionado. Às vezes acontece de que o país que sanciona sofre tanto quanto o país sancionado, tanto em matéria de impacto econômico quanto em custo político", explica.
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Ela ressalta que um eventual fechamento do estreito de Ormuz, somado à manutenção do embargo ao petróleo venezuelano, "significarão um choque nos preços dos derivados", que teria forte impacto nos EUA em pleno período de eleição presidencial.
"Os EUA, mesmo que sejam produtores de petróleo e também produzam gás de xisto, também são importadores. Dessa forma, a escalada dos preços e os problemas de oferta impactarão na aceleração da inflação e no risco do desabastecimento. Nenhum governo quer isso, porque mina a sua popularidade, sobretudo em tempos de eleições. Além do mais, os sócios minoritários do imperialismo estadunidense na Europa Ocidental tendem a sofrer do mesmo impacto, tal como foi quando houve as sanções contra o gás russo. Isso cria muita tensão entre as principais potências capitalistas."
Nesse contexto, ela afirma que quem ganha é a Venezuela, "que não precisou fazer concessão alguma para retomar sua capacidade de exportação".

"E quem perde são os EUA, que deixam explícito que suas medidas antidemocráticas e antidireitos humanos [as sanções] nada têm de defesa demagógica de 'democracia', mas tão somente uma jogada de isolamento e criminalização da experiência da Venezuela."

O professor Troner Assenheimer de Souza, coordenador do curso de engenharia de petróleo da Universidade Federal Fluminense (UFF), avalia que, em caso de fechamento do canal, o impacto seria imediato.
"Países como EUA, Canadá e Brasil poderiam tentar aumentar a produção, mas isso levaria tempo. Além disso, crises assim tendem a acelerar o interesse por fontes renováveis e maior eficiência energética", afirma.
Souza pontua que a Venezuela "tem grandes reservas de petróleo e, teoricamente, poderia ser uma alternativa". No entanto, ele frisa que Caracas não poderia atender à demanda imediata que seria gerada em caso de fechamento do estreito de Ormuz. Isso porque a produção do país está muito limitada por questões internas e sanções impostas pelos EUA e por alguns países europeus.
"Para realmente contribuir, seria necessário grande esforço de recuperação de sua infraestrutura que está deteriorada, algo que não parece viável no curto prazo."
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Ele acrescenta que se o Irã decidir entrar profundamente no conflito, "é provável que o mercado sinta uma escassez de oferta, o que levaria a uma alta considerável dos preços".
"Isso afetaria economias em todo o mundo, criando pressão inflacionária e incertezas, pois 80% do petróleo produzido pelo Irã é consumido pela China, o que levaria a China a buscar outros países produtores", destaca.

Como o Brasil poderia ser afetado?

Furno avalia que em uma eventual crise gerada pelo fechamento do estreito de Ormuz, o Brasil tende a ser menos afetado, embora possa sofrer impactos por conta da atual política de preços da Petrobras.

"Muito embora [a política de preços] não seja mais a de paridade com os preços de importação, ela segue tendo no preço internacional um dos seus elementos de composição. Então, para nós, os combustíveis ficarão mais elevados, o que impactará na inflação. E se a visão do Banco Central seguir a mesma, isso significará a continuidade deletéria de elevações na taxa básica de juros."

Por outro lado, ela aponta que o Brasil não é importador líquido de combustíveis e pode, inclusive, ampliar a produção e a parcela exportada, o que significa que há tendência de elevação das receitas da Petrobras, o que "poderia até ser usado como um colchão emergencial para amortecer a escalada dos preços".
Souza também destaca que, no recorte do Brasil, uma eventual crise gerada pelo fechamento do estreito de Ormuz teria como principal impacto o aumento da inflação, do preço da energia e dos transportes, mas que, ao mesmo tempo, o Brasil também poderia se beneficiar financeiramente com a alta no mercado internacional.

"Contudo, para aproveitar isso, seria necessário aumento na produção e exportação, o que depende de fatores internos. Mais um ponto que pode contribuir na busca por fontes renováveis, o que aceleraria termos outras fontes energéticas, contribuindo ainda mais para a descarbonização. Em resumo, pode ser uma oportunidade para outras matrizes energéticas", afirma.

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