Cientistas revelam 'segredo' por trás das pinturas rupestres de povos indígenas da Amazônia (FOTOS)
10:43 13.11.2024 (atualizado: 10:47 13.11.2024)
© Foto / Advances in Rock Art Studies/Hampson et alParte do painel de Las Dantas onde se vê um veado, em pé sobre as patas traseiras, centro esquerdo, além de motivos geométricos e vegetais, impressões de mãos e outras figuras específicas retratadas pelos povos indígenas da Amazônia
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Pesquisadores colombianos e do Reino Unido documentaram dezenas de milhares de imagens de arte rupestre, com a ajuda de anciãos indígenas e especialistas, que revelam registros da vida espiritual da floresta pelas culturas amazônicas, alguns deles de cerca de 11 mil anos.
Com caracteres ocres representando figuras humanas junto a um ecossistema com diferentes animais, plantas e formas geométricas, centenas de milhares de imagens de arte rupestre encontradas em galerias onde hoje é a Serranía De La Lindosa, na Colômbia, foram estudas por uma equipe multidisciplinar de cientistas colombianos e britânicos, revelando os registros históricos de crenças sobrenaturais mantidas pelos povos indígenas da Amazônia.
Para auxiliar no processo de documentação, os arqueólogos envolvidos no estudo buscaram a ajuda de anciãos e especialistas, e descobriram que as pinturas não são apenas um registro do que era observado ao redor de suas comunidades, mas também registros de negociações ritualizadas com os reinos espirituais.
© Foto / Advances in Rock Art Studies/Hampson et alExemplos de táxons animais representados no Cerro Azul: (a) tatu, (b) paca, (c) quati, (d) anfíbio, (e) anta/danta, (f) arraia, (g) felino, (h) tartaruga, (i) veado, (j) crocodilo, (k) macaco, (l) porco-espinho, (m) possível cavalo, (n) serpente com pluma na cabeça e pernas, (o) lagarto, (p) veado, morcego, aranha, aves aquáticas, (q) possível preguiça, (r) canídeo
Exemplos de táxons animais representados no Cerro Azul: (a) tatu, (b) paca, (c) quati, (d) anfíbio, (e) anta/danta, (f) arraia, (g) felino, (h) tartaruga, (i) veado, (j) crocodilo, (k) macaco, (l) porco-espinho, (m) possível cavalo, (n) serpente com pluma na cabeça e pernas, (o) lagarto, (p) veado, morcego, aranha, aves aquáticas, (q) possível preguiça, (r) canídeo
"Trabalhei com arte rupestre e grupos indígenas em todos os continentes — e nunca tivemos a sorte de ter uma correspondência tão direta entre o testemunho indígena e motivos específicos de arte rupestre", disse o arqueólogo Jamie Hampson, da Universidade de Exeter, ao portal Science Alert.
As pinturas, algumas delas com cerca de 11.000 anos, incluem cenas de pessoas se transformando em animais e até mesmo híbridos de plantas com seres humanos representando os espíritos da floresta que protegem a vida selvagem.
© Foto / Advances in Rock Art Studies/Hampson et alFotos dos painéis de arte rupestre surpreendentemente diversos em Cerro Azul: (a) Currunchos, (b) Las Dantas, (c) Demoledores, (d) El Más Largo, (e) Principal, (f) Reserva
Fotos dos painéis de arte rupestre surpreendentemente diversos em Cerro Azul: (a) Currunchos, (b) Las Dantas, (c) Demoledores, (d) El Más Largo, (e) Principal, (f) Reserva
© Foto / Advances in Rock Art Studies/Hampson et al
Em seu artigo publicado na revista especializada Advances in Rock Art Studies, Hampson e seus colegas explicam que os registros demonstram haver uma profunda vivência espiritual por parte desses povos amazônicos, até mesmo as atividades de caça ou "uma caça bem-sucedida exigem negociação com esses espíritos" retratados. Apesar de a visão cosmológica desses povos tradicionais não ser uma novidade para a ciência, essa é a primeira vez que a arte rupestre revela tal entendimento.
Os autores explicam que para preencher a lacuna entre o mundo humano e o não humano, esses indivíduos pintavam o animal de que precisavam em uma parede de pedra com pigmento vermelho, junto com outros símbolos para representar outros pedidos, como fertilidade, por exemplo, em uma espécie de ritual.
© Foto / Advances in Rock Art Studies/Hampson et alTeriantropo cobra-pássaro-humano em Nueva Tolima, onde se observam joelhos exagerados e uma cauda curta
Teriantropo cobra-pássaro-humano em Nueva Tolima, onde se observam joelhos exagerados e uma cauda curta
"[A colaboração com os anciãos indígenas] nos permite não apenas olhar para a arte da perspectiva de um estranho e adivinhar; sabemos por que motivos específicos foram pintados e o que eles significam", diz Hampson, afirmando que a compreensão ritualística sagrada desta arte só pode ser atingida a partir desta análise mais especializada, daí a necessidade de se manterem vivos os registros desses povos.