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China e Rússia apostam em difusão de cultura mirando o mundo multipolar, notam analistas

© AP Photo / Maxim ShipenkovVladimir Putin e Xi Jinping durante apresentação para a abertura da nova fábrica de carros Haval, da Great Wall Motors, em Moscou. Rússia, 5 de junho de 2019
Vladimir Putin e Xi Jinping durante apresentação para a abertura da nova fábrica de carros Haval, da Great Wall Motors, em Moscou. Rússia, 5 de junho de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 23.12.2024
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas afirmam que ambos os países investem em diplomacia cultural e provam que o BRICS vai muito além da economia.
O BRICS reúne 35% do produto interno bruto (PIB) global, mas o grupo não se limita à influência econômica. Nos últimos anos, ele emergiu como um importante catalisador para intercâmbios culturais e diplomáticos.
Nesse quesito despontam Rússia e China, respectivamente, por meio dos institutos Pushkin e Confúcio, que proliferam ao redor do mundo, incluindo o Brasil, promovendo o aprendizado das línguas e culturas russa e chinesa, servindo como plataformas para o diálogo intercultural e a cooperação acadêmica e contribuindo para uma compreensão mútua mais profunda.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas destacam a importância da chamada diplomacia cultural e explicam como Rússia e China, duas potências do BRICS, difundem suas culturas ao redor do mundo.
Henrique Domingues, chefe adjunto do Fórum Internacional dos Municípios BRICS, afirma que o grupo se preocupa com muitas coisas para além da economia, pois a cultura e outros artifícios do soft power também exercem um papel importante na proximidade internacional entre os países.

"Então o BRICS tem que se preocupar com as questões que vão além apenas da agenda econômica […]. As declarações das cúpulas do BRICS, assinadas pelos presidentes dos países [do grupo], também apontam diretrizes para que se desenvolvam as relações entre os países nos mais diversos campos, não apenas no âmbito econômico", afirma.

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Domingues afirma que a difusão da cultura visa dissipar as ideias negativas preconcebidas que o Ocidente espalha sobre países do BRICS, sobretudo Rússia e China. Ele conta que esteve na Rússia em 2017 para organizar o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes e que, assim que as delegações chegaram ao país, seus integrantes ficaram abismados.
"Porque de fato estava todo mundo esperando uma coisa completamente diferente. E quando chegaram lá, acabaram encontrando um país muito bem organizado, um país muito desenvolvido e com as pessoas dispostas a receber e serem cordiais com todos os visitantes que passam por ali", destaca.
Domingues afirma que os EUA investem em um soft power agressivo, muito influente e enraizado, que cerca o cotidiano de países alinhados de elementos ligados à cultura estadunidense, mas acrescenta que a Rússia tem se empenhado no sentido de popularizar a sua cultura e apresentá-la para o resto do planeta, mas, diferentemente dos EUA, faz isso sem imposição.

"Eu acredito que a Rússia não tenha aspirações imperialistas como tem o Ocidente quando impõe ou 'apresenta' a sua cultura em outros países. Eu acredito que a Rússia tem outras aspirações, que é simplesmente apresentar todas as belezas que a cultura russa desenvolveu nos mais de mil anos em que se organiza a sociedade, o povo e a história da nação."

Ele avalia que a China, por outro lado, investe na popularização de sua produção tecnológica, e que muitos produtos chineses estão começando a ser consumidos com mais naturalidade ao redor do mundo.
"Essa é uma das estratégias do soft power chinês. Então eu acredito que esses dois países vêm fazendo a sua lição de casa."
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Em 1978, quando Deng Xiaoping ascendeu ao poder na China, o país era bastante fechado e muito pobre. Porém, nas décadas seguintes, cresceu economicamente e se abriu para o mundo, o que levou à necessidade de fomentar o ensino de mandarim. É o que aponta Ana Qiao Jianzhen, diretora do Confucius Classroom — programa de ensino de línguas e cultura chinesa no Brasil, promovido por meio da parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Normal de Hebei (HNU, na sigla em inglês).

"A China está saindo do país [fechado] para essa ligação com o mundo. Por isso, o mundo também precisa entender a China […] nós criamos muitos cursos de línguas estrangeiras, mas hoje em dia o mundo também precisa entender a língua da China", afirma.

Qiao destaca que, no Brasil, além do Confucius Classroom, há 12 filiais do Instituto Confúcio, mas afirma que há espaço para mais, levando em conta a relação econômica e comercial entre os países. Ela afirma que o Instituto Confúcio não é só um centro de línguas, mas uma ponte para ligar a China e o Brasil.
"Organizamos conferências acadêmicas. Nós recebemos visitas, apresentações, shows e tal. Isso é uma plataforma para ligar a China e o Brasil."
Ela afirma que quando chegou ao Brasil, em 2012, havia pouca difusão da cultura chinesa no país, mas que esse cenário mudou.

"Hoje em dia já podemos encontrar muitos livros sobre a China que foram traduzidos […] esse interesse no Brasil está crescendo muito. Eu tenho toda a confiança nessa geração jovem do Brasil. Elas têm visão larga. Elas têm interesse para saber mais sobre essa civilização asiática."

A Rússia tem papel central para a história da humanidade

Fred Leite Siqueira Campos, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Grupo de Estudos sobre a Rússia (Prorus), enfatiza que a Rússia é um país central para entender a humanidade por conta de sua história milenar, suas riquezas e pela resiliência de seu povo.
Porém, ele afirma que é justamente essa importância que "faz surgir a inveja do mundo ocidental", levando à construção de uma narrativa anti-Rússia, bastante sofisticada, que por vezes é indireta e subliminar. Daí a importância de existirem centros de cultura russa para fazer um contraponto.

"É importante que as pessoas saibam que a humanidade […] deve muito, muito mesmo ao povo russo. A vitória contra a besta nazifascista é fato a se destacar, e a Rússia teve papel central nesse processo. A propósito, ano que vem faz 80 anos da vitória da Grande Guerra pela Pátria", afirma.

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Ele diz que, no Brasil, há interesse em aprender a língua russa "porque existe, apesar de toda propaganda, um número bastante significativo de pessoas que admiram, que estudam a Rússia", e afirma que na universidade onde leciona há um projeto para a criação de um grupo BRICS, dedicado a difundir a cultura dos membros do grupo.
"Aprender a língua, a língua nativa, é muito importante para quem quer entender uma nação, seja ela qual for. Então compreender melhor a Rússia certamente é mais eficiente sabendo estudar, sabendo falar e escrever em russo."
Nesse contexto, ele afirma que canais de redes sociais servem como difusores de cultura, mas frisa que pesa o fato de que os donos dessas plataformas têm nacionalidade e interesses próprios pautados por isso, o que traz a necessidade de investir em plataformas próprias.

"Às vezes eu até brinco com os alunos, tento fazer um contraponto. Digo assim: 'Em vez de procurar no Google, procura no Yandex também' […]. A Rússia e a China têm condições de desenvolver instrumentos de redes sociais seus e divulgar de maneira mais eficiente. A Rússia faz isso com o Telegram. Eu acho isso muito interessante. A China faz isso com o TikTok", avalia o especialista.

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