O que torna o canal do Panamá importante e será que Trump pode realmente se apoderar dele?
07:00 27.12.2024 (atualizado: 07:01 27.12.2024)
© AP Photo / Matias DelacroixUm navio navega sob a ponte das Américas através do сanal do Panamá, na Cidade do Panamá, 13 de junho de 2024.
© AP Photo / Matias Delacroix
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O presidente eleito dos EUA Donald Trump está de olho no canal do Panamá, provocando uma reação do país e fazendo com que os observadores tentem entender se Washington poderia de fato se apoderar da hidrovia. O que torna o canal importante, e será que Trump está falando sério? A Sputnik entrevistou um veterano especialista em geopolítica.
Ultimamente, Trump provou que ainda é um mestre troll com uma série de publicações virais nas redes sociais falando sobre o desejo dos EUA de retomarem o canal do Panamá e a Groenlândia e transformarem o Canadá no 51º estado norte-americano.
Aparentemente, o Panamá não entendeu a "piada", e o presidente José Raúl Mulino foi às redes sociais para enfatizar que "cada metro quadrado" do canal "pertence ao Panamá e continuará pertencendo ao Panamá".
"Isso é o que vamos ver!", retrucou Trump.
Qual é a importância do canal?
Responsável por cerca de 6% de todo o comércio marítimo global e reduzindo 8.000 milhas náuticas ou mais (até 22 dias) nas viagens entre os oceanos Pacífico e Atlântico (em comparação com a via que contorna o sul das Américas), o canal do Panamá tem servido de importante ponto econômico estratégico por mais de um século, tendo passado a maior parte desse tempo sob o controle dos EUA;
Podendo ser atravessado por navios em apenas 8 a 10 horas, o canal de 81,5 km de comprimento e 33 a 150 m de largura rende ao Panamá cerca de US$ 3,5 bilhões (R$ 21,6 bilhões) em taxas de trânsito;
O canal foi inaugurado em 1914, após uma década de construção liderada, supervisionada e financiada pelos Estados Unidos, que custou o equivalente a mais de US$ 15 bilhões (R$ 92,7 bilhões) em valores atuais;
Os EUA obtiveram o controle da zona do canal do Panamá como concessão em 1903, depois de reconhecer a independência do Panamá da Colômbia, e o guardaram zelosamente até 1999, quando foi transferido de volta para o Panamá, de acordo com os termos de um tratado de 1979, firmado em parte graças aos temores dos EUA em relação à crescente influência soviética na América Latina. Os EUA mantiveram o direito de proteger o canal perpetuamente;
O canal causou tanto impacto no transporte marítimo global que levou à criação de sua própria classe de navios, conhecida como Panamax, com capacidade de peso morto de 60.000 a 80.000 toneladas;
Seja em tom de brincadeira ou não, Trump não é o primeiro republicano a criticar o tratado de 1979, tendo Ronald Reagan feito isso durante a campanha em 1976 e 1980, mas abandonando a ideia logo após assumir o cargo.
Será que Trump realmente está falando sério?
Trump "estava apenas fazendo uma piada" e não há nenhuma maneira legal de os EUA realmente restaurarem seu controle sobre o canal do Panamá, disse o veterano especialista em assuntos geopolíticos e política comercial Thomas Pauken II à Sputnik.
Além de destacar a "reação exagerada" à sua piada por parte da mídia e de altos funcionários, a discussão de Trump sobre o canal foi realmente projetada para abordar a denúncia de cobrança excessiva dos transportadores dos EUA, disse Pauken.
Segundo o especialista, as ameaças duras de Trump têm o objetivo de fazer "essas taxas caírem" e verificar se os concorrentes comerciais dos EUA, especialmente a China, estão recebendo algum tratamento preferencial.
"É claro que todos os que têm bom senso, incluindo pessoas que supostamente são diplomatas, funcionários da mídia e até mesmo especialistas em direito, devem saber que Trump não pode assumir o controle do сanal do Panamá se o Panamá se recusar a permitir isso", enfatizou o observador.
O canal pode se tornar um ponto de confronto entre a China e os Estados Unidos, acredita Pauken, mas somente "se Pequim e Washington optarem por iniciar, lançar e desencadear guerras comerciais" em vez de se sentarem e elaborarem um "grande acordo" que ambos os lados considerem justo.