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É provável que Trump rife a Ucrânia e promova a acomodação geopolítica com a Rússia, aponta analista

© AP Photo / Julia Demaree NikhinsonDonald Trump gesticula durante a 60ª posse presidencial na Rotunda do Capitólio, em Washington DC. EUA, 20 de janeiro de 2025
Donald Trump gesticula durante a 60ª posse presidencial na Rotunda do Capitólio, em Washington DC. EUA, 20 de janeiro de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 20.01.2025
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Em entrevista o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o que esperar do novo mandato de Trump em questões nevrálgicas como a relação entre EUA e China e o conflito ucraniano, e se a mira do republicano pode, eventualmente, se voltar para o Brasil.
Donald Trump tomou posse nesta segunda-feira (20) para o seu segundo mandato como presidente dos EUA. Sua chegada à Casa Branca ocorre em meio a uma série de incertezas geradas pelas declarações polêmicas que disparou antes mesmo de vencer as eleições presidenciais.
Trump já falou em anexar o Canadá, publicou um mapa com o território do Canadá anexado aos EUA, ameaçou comprar a Groenlândia, ainda que a Dinamarca não queira vender, defendeu aumentar a contribuição dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de 2% para 5% e ameaçou taxar os países do BRICS em 100%, caso não desistam de uma moeda alternativa ao dólar para transações entre seus integrantes.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam quais ameaças disparadas por Trump correm o risco de serem concretizadas e se ele pode, eventualmente, voltar a sua mira para o Brasil.
Thiago Rodrigues, professor de relações internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest/UFF), afirma que a retórica de Trump sempre traz consigo uma ideia de que os EUA são uma grande vítima de vários complôs ou articulações globais, que vão desde tentativas de destruição da indústria americana pelos chineses até questões geopolíticas que ameaçariam os EUA, como questões no Ártico, na Rússia e na Europa.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está realizando uma reunião operacional com os membros permanentes do Conselho de Segurança da Rússia por meio de videoconferência, 20 de janeiro de 2025. - Sputnik Brasil, 1920, 20.01.2025
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"Essa retórica vitimista é sempre preocupante porque ela procura mobilizar a sociedade de um país, quando ela é colocada sempre como uma preparação, na verdade, para o que seria uma defesa a contra-ataques externos. Mas como esses ataques são muitas vezes construídos, não são reais, essa retórica prepara a sociedade para o ataque. Ou seja, prepara para mobilizações de cunho agressivo no exterior", explica.

Ele acrescenta que, em paralelo, Trump se fortalece por um apoio interno além do tradicional, que inclui um conjunto de magnatas do chamado "novo capitalismo", como Mark Zuckerberg e Elon Musk, que, segundo ele, de forma muito oportunista se aproximaram dele e pegaram carona em seu discurso.
Rodrigues afirma que atualmente a China cumpre o papel de "inimigo crível" para a população americana, por ser um grande país, com grandes recursos tecnológicos e um Estado forte.
"É muito mais visível, muito mais pautável para um cidadão médio entender outro país poderoso como inimigo do que, por exemplo, uma rede terrorista, que é algo muito mais fluido, algo sem materialidade. Então isso é mais fácil de vender e, ao mesmo tempo, tem uma batalha comercial imensa colocada com os chineses que é difícil saber até que ponto ela é real, porque há enormes interesses do capitalismo americano na economia chinesa", afirma.
Bandeiras da Finlândia, EUA, Rússia e OTAN em Helsinque nas vésperas da cúpula russo-norte-americana e da visita do presidente russo Boris Yeltsin à Finlândia, 20-22 de março de 1997 - Sputnik Brasil, 1920, 20.01.2025
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Há uma expectativa de um encontro em breve entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin. A Suíça já ofereceu seu território para o encontro. Questionado sobre o que esperar de Trump em relação ao conflito ucraniano, Rodrigues frisa que o ucraniano Vladimir Zelensky deve ter sido "a primeira pessoa a ter entrado em pânico" após ser anunciada a vitória de Trump no pleito presidencial americano.

"Porque a aproximação de Trump com Putin no primeiro mandato foi grande e me parece que faz parte dos cálculos geopolíticos de Washington sob [a gestão] Trump uma política de acomodação e apaziguamento com a Rússia. Assim foi na época da Crimeia e como tudo indica que vai ser assim também na Rússia", afirma.

Ele acrescenta que isso é o que Trump sinalizou ao afirmar que vai acabar com o conflito ucraniano em apenas 24 horas.
"Quando Trump diz que vai resolver rapidamente a questão da guerra na Ucrânia, essa resolução rápida [...] parece que é uma sinalização do tipo: 'Olha, Putin, você consolida o que o você já conquistou agora. O Zelensky e os ucranianos vão ter que se conformar com o que eles têm e a gente acaba essa guerra agora, a gente faz algum tipo de compensação para a Ucrânia'", diz o analista.
Segundo ele, é provável que Trump exija alguma garantia de que a Ucrânia não seja incorporada, de fato, ao sistema europeu da OTAN e à União Europeia (UE).

"Eu acho que, para falar no português bem claro, a Ucrânia vai ser rifada pelo Trump. [...] Acho que interessa mais ao Trump uma Rússia (não aliada, seria muito forte dizer isso), mas uma Rússia com que [...] se pode acertar grandes questões geopolíticas, do que insistir nessa diretriz que vinha sendo dos EUA sob [a gestão] Biden de apoiar o Zelensky e de apoiar uma expansão que interessava, por exemplo, a Alemanha, uma expansão do sistema europeu à fronteira com a Rússia."

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Roberto Goulart Menezes, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), considera que a China será a questão central no primeiro ano do novo mandato de Trump. Ele destaca que o país asiático alcançou um superávit comercial em 2024 de quase US$ 1 trilhão (cerca de R$ 6 trilhões).

"A China já detém quase um terço da produção industrial do planeta, isso é praticamente inédito, esses números são inéditos para o comércio mundial. E nós sabemos que isso dá a dimensão do tamanho do desafio dos EUA com o Trump para lidar com a China", afirma.

Ele lembra que as políticas que Trump adotou para conter Pequim em seu primeiro mandato foram mantidas na gestão Biden, e diz que "o governo Trump, é claro, tende a mantê-las e fazer ajustes no sentido de aumentar a pressão contra a China".
O especialista afirma ainda que a América Latina "não será poupada" da "política externa agressiva" de Trump, e é esperado um aumento de pressão, principalmente sobre Cuba e Venezuela.
"Nós temos aí tudo para esperar um aumento da pressão contra o governo de [Nicolás] Maduro na Venezuela, que tomou posse no último dia 10 de janeiro para o seu terceiro mandato, também isolado na região, isolado internacionalmente. Então isso aumenta as dificuldades do governo Maduro."
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Ademais, ele aponta que a mira de Trump pode, sim, se voltar ao Brasil, apesar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmarem que o Brasil se relacionará bem com a gestão Trump assim como se relacionou bem com a gestão de George W. Bush (2001-2009).

"Tudo leva a crer que o Brasil também vai ter dificuldades com Trump, porque Trump vai adotar medidas comerciais indiscriminadas, [e isso] vai afetar o Brasil", afirma.

Sobre a questão do financiamento ucraniano, Menezes destaca que os EUA já colocaram mais de US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1,2 trilhão) de dólares na Ucrânia e que Biden implicou os EUA no conflito, o que a gestão Trump considera que é algo que pode ser revisto.
"Eu acho que a política de Trump em relação à Rússia, se a gente lê pela Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, tanto a de 2017 quanto a de 2022, nenhuma das duas colocam a Rússia como alvo central."
Já em relação ao Brasil, Menezes afirma que é provável que Trump cancele o apoio de US$ 500 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) prometido por Biden ao Fundo Amazônia.

"E em relação à Amazônia, hoje o que preocuparia ou preocupa o Brasil é uma possível ação militar da Venezuela contra a Guiana, que poderia levar a uma entrada dos EUA [em um eventual conflito], e os EUA a fincarem uma base militar [na Amazônia]", afirma o especialista.

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