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Apetite de Trump pode colocar Amazônia em xeque? Como o Brasil pode se defender?

© Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência BrasilA ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, durante seminário que discute estratégias para a Amazônia Azul. Brasília (DF), 25 de setembro de 2023
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, durante seminário que discute estratégias para a Amazônia Azul. Brasília (DF), 25 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 28.01.2025
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A política expansionista do presidente dos EUA, Donald Trump, já colocou em pauta a intervenção americana na Groelândia e no canal do Panamá. Com um apetite que desestabiliza a geopolítica mundial, o republicano vai colocar a Amazônia como alvo?
Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Guilherme Sandoval, professor de direito constitucional da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) com pós-doutorado em geopolítica, cultura e direito pela Universidade da Força Aérea (Unifa), explicou a possibilidade de a Amazônia sofrer ameaças do líder americano.
Caso a floresta entrasse na lista do republicano, o Brasil teria forças militares para defendê-la?

Qual a chance de uma ameaça à Amazônia por parte dos EUA?

No atual cenário, segundo Sandoval, a Amazônia, como ainda não está sendo explorada por qualquer potência, se exime de ameaças.
Entretanto, "se a Amazônia começar a fazer um projeto de desenvolvimento próprio, trazendo investimentos chineses, trazendo investimentos europeus, aí, sim, vai haver o interesse americano na região", afirma, emendando que a partir daí pode haver inclusive uso da força.
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O interesse na Amazônia entra no mesmo contexto do canal do Panamá e da Groenlândia, uma vez que, conforme explica o analista, são pontos estratégicos para os EUA "buscarem musculatura novamente".
Se, por ora, parece interessante não haver ameaça no contexto atual, por outro lado "a gente não tem grande estratégia para a Amazônia", diz Sandoval. "Não tem um projeto de biodiversidade, não tem um núcleo estratégico de desenvolvimento da Amazônia", acrescenta.

Brasil precisa de uma grande estratégia para reafirmar soberania?

Guilherme Sandoval defende que o Brasil crie uma grande estratégia que projete o seu desenvolvimento em todas as esferas do poder nacional. Como exemplo para a segurança nacional, o analista afirma que o país deveria implementar uma política nos moldes da National Security Strategy (NSS), dos EUA.
Conforme o especialista, desde o fim da Guerra Fria, com o presidente Bill Clinton, os EUA já organizam sua grande estratégia. Se o que norteou o planejamento de Clinton foi uma política de globalização da economia, com Trump e o American First há um "rigoroso reconhecimento de perda da competitividade em vários pontos e a necessidade de fazer um protecionismo".
"Isso posto, eu queria mostrar que a gente não tem uma estratégia desse tipo, infelizmente. Uma grande estratégia brasileira, ela teria que ser moldada nesse sentido, ou seja, ela se volta para o que a gente chama de núcleos estratégicos, que nada mais são que núcleos estratégicos, nada mais é do que a hélice tríplice. Essa grande estratégia do presidente Clinton, todas elas são voltadas para as empresas americanas, multinacionais, são voltadas para a pesquisa de alta tecnologia, de inovação tecnológica, o próprio governo fazendo marcos regulatórios, fazendo leis", destaca.
A título de comparação, Sandoval explica que a NSS tem três grandes objetivos: manter a hegemonia militar dos Estados Unidos; fortalecer a economia americana a todo momento; e promover a democracia ao redor do mundo.
Militar vigiando a Amazônia Azul, em 12 de janeiro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 16.11.2024
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Nesse sentido, o analista afirma que o Brasil deve voltar a sua grande estratégia com objetivos baseados no artigo 3º, incisos I a IV, da sua Carta maior, a Constituição.

"Os objetivos da grande estratégia brasileira rigorosamente são os que estão no artigo 3º — soberania do país; promover o desenvolvimento nacional; reduzir pobreza, marginalização; acabar com as desigualdades sociais e regionais; gerar uma sociedade livre, justa e solidária", comenta.

Alcançar os objetivos constitucionais deve ser uma das premissas da grande estratégia indicada pelo analista. Outro ponto importante, segundo ele, é o imperativo categórico da geopolítica brasileira.
Segundo Sandoval, baseado na teoria do poder perceptível de Ray Cline, o imperativo categórico brasileiro é estar entre as cinco maiores potências do globo, sendo a terceira premissa, de acordo com ele, o potencial brasileiro.

"O Brasil tem todo o potencial de recursos naturais para se transformar em uma grande superpotência energética, alimentar — que já é muito próxima disso —, e uma superpotência aquífera", analisa.

A partir dessas três premissas, Sandoval defende que a grande estratégia brasileira deve, então, se concentrar no contexto internacional.
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"Essa grande estratégia, a partir dessas três premissas, ela deve ter três grandes vertentes. A primeira vertente de uma grande estratégia brasileira é a que a gente chama de tríade sul-americana. O que é a tríade sul-americana? É rigorosamente a ideia de que o Brasil tem que, por iniciativa estratégica própria e por liderança brasileira na região, fazer a interligação do arco amazônico, que é o nosso debate aqui, a Amazônia."

Além do arco amazônico, a comunidade andina tem que estar nos planos para o desafio do estrategista brasileiro para o horizonte temporal até 2050, que é "liderar essa região, fazendo a interconexão desses três grandes conjuntos geopolíticos".
Aqui a Amazônia tem papel fundamental, conforme o analista. Para isso, a integração sul-americana deve contar com a criação de núcleos estratégicos de desenvolvimento da biodiversidade da Amazônia, junto com os parceiros. A mesma coisa deve acontecer na Amazônia Azul, segundo Sandoval.

Nesse sentido, o estrategista "vai criar núcleos estratégicos, criar empresas, nem que sejam empresas multinacionais que vêm investir na região, vai criar núcleos estratégicos de exploração da biodiversidade da Amazônia Azul. Essa é a grande estratégia para isso, para dar direção para o país, para dar direção para onde o país quer ir", prospecta.

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Ainda no contexto internacional, Sandoval cita o desafio do Brasil em se projetar para todo o Atlântico Sul, para a África Ocidental e, em seguida, para a Antártica e também para o Ártico. Para fechar, ele ressalta a tríade de relações com o poder mundial, ou seja, União Europeia, EUA, China e o próprio BRICS.
Sandoval vê esse projeto como essencial para a soberania brasileira, mas afirma que "nós não temos essa grande estratégia, infelizmente. Não temos essa grande estratégia de forma sistematizada, de forma estudada cientificamente".
Retomando Ray Cline, ele afirma que, dentro da fórmula do estudioso, o W representa a vontade de realizar os objetivos.
"O W é a grande estratégia que nós não temos. Ora, se eu não tenho uma grande estratégia, meu poder perceptivo sempre vai ser o que nós temos até hoje", reitera.
"O Brasil vai ser sempre o país do futuro. O país do futuro por quê? Porque a gente não criou núcleos estratégicos próprios", finaliza.
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