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OTAN faz brotar sementes de guerra, e declínio da aliança não prejudicaria a Europa, avalia analista

© AP Photo / Mindaugas KulbisSoldados lituanos participam de cerimônia de hasteamento da bandeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Vilnius. Lituânia, 29 de março de 2024
Soldados lituanos participam de cerimônia de hasteamento da bandeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) em Vilnius. Lituânia, 29 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 29.01.2025
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Especialistas ouvidos pelo podcast Mundioka apontam que Rússia e OTAN têm um forte equilíbrio de forças, capaz de levar a um grande enfrentamento, mas destacam que Moscou não tem pretensão de invadir países europeus.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte, admitiu que a Rússia produz quatro vezes mais equipamentos militares que a aliança em um período de um ano.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o que isso significa para a correlação de forças no cenário internacional, em um momento que o novo presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça não defender os membros da OTAN que não investirem 5% do PIB na aliança, um aumento no percentual de 2% exigido inicialmente pelo republicano. A ameaça surge em um contexto em que muitos europeus estão fragilizados economicamente, sobretudo por conta do apoio a Kiev no conflito ucraniano.
Vinicius Modolo Teixeira, professor de geopolítica da Universidade do Estado de Mato Grosso (UEMG), afirma que a Rússia superou as expectativas de analistas ocidentais que não acreditavam na capacidade do país.
Teixeira destaca que as estimativas apontam que a Rússia fabricou, apenas em 2024, 4 milhões de munições de artilharia de calibre 152 milímetros, enquanto o Ocidente, nas melhores expectativas, fabricou apenas 1 milhão de munições de artilharia de calibre 155 milímetros, o padrão usado na aliança. Ele acrescenta que as sanções falharam em conter a produção de armas russas.

"Pensava-se, no primeiro momento, que isso [as sanções] poderia impactar de maneira decisiva, fazendo com que a Rússia ficasse restrita em algumas áreas. Mas ela conseguiu inverter essas condições para a fabricação interna e também conversar com outros aliados, outros países fornecedores, fazer uma transposição de fornecedores que pudessem agregar à sua linha de fabricação", afirma.

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Segundo ele, o fato de a Rússia ter usado o míssil hipersônico Oreshnik, equipado com ogivas convencionais, demonstra a disponibilidade de Moscou responder em caso de escalada do Ocidente no conflito ucraniano.
"Ele [Oreshnik] foi utilizado ali com ogivas convencionais. Ele é um míssil que deve ser composto de ogivas nucleares. É um bom recado, na verdade, que, em caso de uma escalada em um conflito contra a OTAN de maneira direta, os russos usariam armas nucleares táticas e, depois, logicamente, isso poderia escalar para armas nucleares estratégicas", explica o analista.
Teixeira afirma que, se os países europeus acatarem a demanda de Trump de elevar os gastos com a OTAN, enfrentariam protestos internos.
"Pessoas mais pobres, nesses países europeus, têm alguns direitos que no Brasil a gente considera que são coisas ainda distantes da gente. […] Imagina você tendo que diminuir orçamentos que são para auxílios à população mais carente e elevando gastos com armas? Como você vai justificar isso para a população, que vai ter que pagar mais caro no gás, no aquecimento, na alimentação? Em contrapartida, você vai ver ali um desfile militar maior no dia de comemoração do seu país. Não faz muito sentido. Então, nesses países, caso eles optem por seguir essa linha com Trump, certamente vão ocorrer protestos e a oposição, que nesses países também é bem ativa, deve acabar contribuindo para um caos político e econômico."
Lier Pires Ferreira, mestre em relações internacionais, professor e pesquisador associado do Núcleo de Estudo dos Países BRICS (NuBRICS), da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que a baixa capacidade de produção de armas de países da OTAN apontada por Rutte é fruto da acomodação de países europeus.

"Durante algumas décadas, a Europa se acomodou com a blindagem oferecida pelos EUA — blindagem de defesa, blindagem bélico-militar —, beneficiando-se economicamente da parcela do PIB que, não alocada à defesa, pôde ser deslocada para outras atividades e para outros serviços", afirma.

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Entretanto, ele avalia que os países europeus acabarão consentindo com a pressão de Trump para elevar os gastos com a OTAN.
"Em parte porque querem consentir, porque evidentemente também existem senhores de guerra europeus, com as indústrias bélicas europeias, […] e em parte porque eles sabem que não possuem muitas alternativas", afirma.
Segundo Ferreira, há em curso uma corrida armamentista no mundo, na qual atores fora da OTAN, como China, Índia, Irã, Japão e Turquia, também estão implicados e ganham importância estratégica.

"E o pior é que nós sabemos que, historicamente, o ápice de toda corrida armamentista é uma guerra, mas que tanto a OTAN quanto a Rússia têm e dispõem das condições bélicas necessárias para um grande enfrentamento, que evidentemente nós esperamos que jamais aconteça. Isso é uma grande verdade."

No entanto, ele afirma que a Rússia não tem pretensões territorialistas na Europa, apenas deseja "evitar que a OTAN invada ainda mais o chamado espaço vital russo".
Para Ferreira, é mais plausível que os EUA adquiram a Groelândia para dominar as rotas do Ártico do que a Rússia tentar reconquistar países bálticos.

"O que me parece muito claro é que a Rússia deseja diminuir a presença ocidental no Leste Europeu, reconquistando uma certa influência, uma certa importância que, historicamente, ela deteve nessa área que, do ponto de vista geopolítico, sempre foi considerada um espaço vital russo", afirma o analista.

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Na avaliação de Ferreira, a ameaça de Trump de não mais defender os países da OTAN "é para valer" e pode ser consolidada.
"Ele situou um patamar inicial de 2%, agora já pede 5%, porque evidentemente ele está contando não apenas com a desoneração dos cofres do Tesouro norte-americano, mas também com uma maior aquisição de armas da indústria bélica, do chamado complexo bélico-industrial norte-americano, por parte dos atores europeus. […] A OTAN e a Rússia têm um equilíbrio muito grande do ponto de vista das suas forças em geral."
Questionado sobre quais seriam os impactos geopolíticos no mundo se a OTAN entrasse em declínio por conta de uma eventual saída dos EUA, caso os países europeus não acatem a demanda de Trump por um maior financiamento da aliança, Ferreira afirma ter "mais medo do fortalecimento da OTAN do que do seu declínio".

"Uma OTAN forte é capaz de fazer brotar sementes de guerra que há muito tempo estão adormecidas. É o caso, por exemplo, da Alemanha, que é um país que cada vez mais amplia o seu orçamento de defesa e os seus recursos bélicos, vide, por exemplo, os tanques Leopard que já estão em operação na Ucrânia. […] Por outro lado, um certo declínio da coalizão leste da OTAN não traria, eu quero crer, grandes problemas de ordem prática, pelo menos para o cenário europeu, porque, na verdade, não existem ameaças reais hoje ao território europeu."

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