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'Obviamente não são neutras': se a economia cresce, por que as previsões do mercado são pessimistas?
'Obviamente não são neutras': se a economia cresce, por que as previsões do mercado são pessimistas?
Sputnik Brasil
Em entrevista à Sputnik Brasil, economistas afirmam que o mercado tem interesse em fazer a inflação subir para que haja aumento de juros, e usa a divulgação de... 13.02.2025, Sputnik Brasil
2025-02-13T17:42-0300
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A economia brasileira vem apresentando um bom desempenho, tendo crescido 2,9% em 2023, com previsão de alta de 3,5% em 2024.Apesar disso, algumas instituições financeiras têm alertado para um risco de recessão técnica no segundo semestre deste ano. Em relatório recente, Bradesco, Banco BV, Ativa Investimentos, Monte Bravo, Nova Futura e Tendências afirmaram que a combinação de juros altos, retração do consumo e incertezas fiscais são fatores que podem pressionar a atividade econômica.Somado a isso, no final de janeiro o Comitê de Política Monetária (Copom) fixou a taxa básica de juros, a Selic, em 13,25% ao ano, o que encarece o crédito, reduzindo o poder de compra das famílias.Fábio Sobral, professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que recessão técnica ocorre quando há dois trimestres consecutivos, ou seja, seis meses, de queda da atividade econômica, do PIB.Segundo ele, o mercado tem dois interesses. O primeiro é que a inflação suba para que se justifiquem aumentos de juros do Banco Central.Sobral classifica a divulgação do relatório pelas instituições financeiras, em uma semana crucial do governo, em que são mandados projetos para o Congresso, como um "ataque do mercado financeiro"."É um claro interesse político de prejudicar, de atrapalhar a gestão governamental e boicotar, sabotar o andamento das políticas governamentais."Para Sobral, analistas que defendem que a previsão de recessão é fruto dos gastos do governo têm um viés ideológico muito específico e trabalham com a ideia de que o governo deve gastar mais do que arrecada. Segundo ele, essa lógica está invertida.Pedro Faria, economista e petroleiro, considera que não é uma questão de o mercado apostar contra o sucesso da economia, mas sim de defender seus próprios interesses."O que a gente chama de mercado é o sistema financeiro. O sistema financeiro representa uma fração do capital, da classe dos capitalistas, classe dominante, e ele tem um interesse, obviamente, de que a economia brasileira seja orientada para o seu aumento de lucratividade", explica.Segundo ele, essa fração do capital, por atuar em favor da própria lucratividade, "obviamente está em confronto com os trabalhadores".Faria acrescenta que isso mostra que o interesse dessas frações não é no fracasso da economia brasileira, mas sim em que ela siga um certo rumo que ele avalia não ser "um bom rumo para a grande maioria das pessoas que são trabalhadores e trabalhadoras"."Então eu acho que essa é a situação. O conflito é esse. O mercado financeiro tem interesse em uma postura mais forte no combate à inflação, no corte de gastos, na privatização de serviços públicos. E eles vão defender isso. Se precisar provocar uma recessão por meio de juros elevados, por meio de política fiscal restritiva, vão defender isso. Não é uma questão de sucesso e fracasso. O objetivo deles é um. O meu, enquanto trabalhador, é outro. O capital industrial, enquanto outra fração do capital, é outro. E cada um quer o sucesso da sua versão da economia brasileira", afirma o especialista.Faria destaca que as instituições financeiras contratam economistas para fazer previsões internas que orientam as decisões dos bancos, das casas de corretoras e dos fundos de investimentos, e aponta que essas previsões "obviamente não são neutras". No entanto ele afirma que a publicação das previsões, sobretudo como ocorreu da última vez, às vésperas da semana na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviaria ao Congresso projetos prioritários do governo, tem o objetivo de influenciar opiniões.Por outro lado, acrescenta o especialista, essas instituições, por meio de seus porta-vozes, indicam que o governo deveria ter outra agenda, diferente da que está sendo apresentada."Apesar de o governo não ser um governo que promove um conflito aberto com o sistema financeiro, pelo contrário, tem sido bastante amigável, tem elementos da agenda do governo, como a questão da reforma do imposto de renda, que não são do interesse dessas pessoas. Então eles vão tentar roubar a agenda, roubar o assunto da semana para essas previsões negativas e vincular a solução dessa situação negativa que eles projetam às propostas deles."Gastos do governo provocam recessão?As previsões divulgadas pelo mercado apontam que o risco de recessão é fruto da política do governo Lula de gastar mais do que arrecada.Faria discorda dessa visão e afirma que o gasto do governo, mesmo que superior à arrecadação, não provoca recessão, ao contrário, expande a economia. Ele afirma não considerar que a economia brasileira vai entrar em recessão e diz que o que há no momento é uma desaceleração da economia.Segundo ele, a inflação brasileira tem um problema que é a inflação de oferta, ou seja, quando há escassez de produtos, não excesso de pessoas querendo consumir. Nesse rol entra a inflação gerada pela seca, por enchentes e pela alta do dólar, que aumenta o custo dos produtos importados. Porém ele afirma que há também um pouco de inflação de demanda, o que gerou reação do governo, reduzindo gastos, mas sobretudo do Banco Central, com aumento de juros."A gente está vendo a desaceleração do crescimento de gasto — o gasto está crescendo, mas crescendo menos, mais devagar. Isso faz com que a economia se esfrie. Ao contrário do que se propõe, [com] menos gastos, mais arrecadação, a economia de fato vai crescer menos, [mas] não acho que é o caso de ter recessão, pelo menos por agora. Pode ser que a gente tenha dois trimestres negativos? Pode ser, mas a gente ainda vai ter um crescimento anual no final de 2025, a não ser que aconteça alguma coisa que não está no radar", afirma.Faria avalia que as decisões do governo de reduzir gastos e a do Banco Central de elevar os juros estão erradas. Ele diz esperar "que o governo não mate o paciente com remédio".Segundo ele, a qualidade dos empregos melhora quando se tem desemprego baixo por muito tempo "porque o empresário, o capitalista começa a investir na formação da sua mão de obra"."Porque ele [empresário] não consegue contratar mão de obra qualificada mais porque está todo mundo empregado, então ele investe na qualificação da sua mão de obra, ele investe em máquinas mais modernas, porque ele não está conseguindo expandir a produção por meio da mão de obra. Então ele vai investir em formas de produção mais modernas, processos gerenciais, etc. Então a gente não quer que tenha uma queda excessiva de crescimento, tudo bem ter um pouco de redução do ritmo e tal, mas o governo tem que olhar para outras formas de controlar a inflação, que não sejam derrubar a economia", conclui o especialista.
https://noticiabrasil.net.br/20250203/acima-da-meta-do-governo-mercado-financeiro-preve-inflacao-de-551-no-brasil-em-2025-38371933.html
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brasil, economia, luiz inácio lula da silva, banco central, congresso, selic, inflação, taxa de juros, mercado financeiro, sistema financeiro, bancos, gastos, corte de gastos, desaceleração econômica, crescimento econômico, exclusiva, sputnik brasil
A economia brasileira
vem apresentando um bom desempenho, tendo crescido 2,9% em 2023, com previsão de alta de 3,5% em 2024.
Apesar disso, algumas instituições financeiras têm alertado para um risco de recessão técnica no segundo semestre deste ano. Em relatório recente, Bradesco, Banco BV, Ativa Investimentos, Monte Bravo, Nova Futura e Tendências afirmaram que a combinação de juros altos, retração do consumo e incertezas fiscais são fatores que podem pressionar a atividade econômica.
Somado a isso, no final de janeiro o Comitê de Política Monetária (Copom) fixou a taxa básica de juros, a Selic, em 13,25% ao ano, o que encarece o crédito, reduzindo o poder de compra das famílias.
Fábio Sobral, professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que recessão técnica ocorre quando há dois trimestres consecutivos, ou seja, seis meses, de queda da atividade econômica, do PIB.
Segundo ele,
o mercado tem dois interesses. O primeiro é que a inflação suba para que se justifiquem
aumentos de juros do Banco Central.
"No ano passado, foram pagos mais de R$ 750 bilhões de juros a esses especuladores. Então cada 1% aumenta cerca de R$ 50 bilhões nos ganhos deles. O segundo interesse é que a economia realmente entre em recessão, esteja em má situação, porque politicamente esse mercado financeiro se alinha ao projeto bolsonarista e quer derrubar o atual governo de qualquer forma", afirma.
Sobral classifica a divulgação do relatório pelas instituições financeiras, em uma semana crucial do governo, em que são mandados projetos para o Congresso, como um "ataque do mercado financeiro".
"É um claro interesse político de prejudicar, de atrapalhar a gestão governamental e boicotar, sabotar o andamento das políticas governamentais."
Para Sobral, analistas que defendem que a previsão de recessão é fruto dos gastos do governo têm um viés ideológico muito específico e trabalham com a ideia de que o governo deve gastar mais do que arrecada. Segundo ele, essa lógica está invertida.
"É o contrário, o governo arrecada o que gasta. Quando ele [governo] gasta, a economia se movimenta e o que ele gasta acaba se consolidando em arrecadação tributária. Ao gastar, o governo movimenta a economia quando ela está estagnada e ela produz, paga impostos, paga tributos, e o governo ganha mais. É o contrário, se o governo não se movimentar, a economia entra em colapso."
Pedro Faria, economista e petroleiro, considera que não é uma questão de o mercado apostar contra o sucesso da economia, mas sim de defender seus próprios interesses.
"O que a gente chama de mercado é o sistema financeiro. O sistema financeiro representa uma fração do capital, da classe dos capitalistas, classe dominante, e ele tem um interesse, obviamente, de que a economia brasileira seja orientada para o seu aumento de lucratividade", explica.
Segundo ele, essa fração do capital, por atuar em favor da própria lucratividade, "obviamente está em confronto com os trabalhadores".
"E também com outras frações do capital. Só para dar um exemplo, no caso da Petrobras, o capital financeiro tem interesse em uma grande distribuição de dividendos, tem interesse em que a Petrobras gere rendas a partir do petróleo, que é um recurso natural finito, e em que essas rendas sejam distribuídas na forma de dividendos. O capital industrial, por outro lado, ele tem um interesse em que a Petrobras ganhe essas rendas do petróleo e invista essas rendas em expansão, porque a expansão por parte da Petrobras significa mais compras feitas no parque industrial brasileiro."
Faria acrescenta que isso mostra que o interesse dessas frações não é no fracasso da economia brasileira, mas sim em que ela siga um certo rumo que ele avalia não ser "um bom rumo para a grande maioria das pessoas que são trabalhadores e trabalhadoras".
"Então eu acho que essa é a situação. O conflito é esse. O mercado financeiro tem interesse em uma postura mais forte no combate à inflação, no corte de gastos, na privatização de serviços públicos. E eles vão defender isso. Se precisar provocar uma recessão por meio de juros elevados, por meio de política fiscal restritiva, vão defender isso. Não é uma questão de sucesso e fracasso. O objetivo deles é um. O meu, enquanto trabalhador, é outro. O capital industrial, enquanto outra fração do capital, é outro. E cada um quer o sucesso da sua versão da economia brasileira", afirma o especialista.
Faria destaca que as instituições financeiras contratam economistas para fazer previsões internas que orientam as decisões dos bancos, das casas de corretoras e dos fundos de investimentos, e aponta que essas previsões "obviamente não são neutras". No entanto ele afirma que a publicação das previsões, sobretudo como ocorreu da última vez, às vésperas da semana na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviaria ao Congresso projetos prioritários do governo, tem o objetivo de influenciar opiniões.
"Por que eles publicam? Para influenciar, não é neutro. Eles querem uma agenda de cortes de gastos fortes, focados nos direitos sociais; eles querem mais privatizações, concessões que já estão acontecendo, nunca deixaram de acontecer. Então, no momento em que o governo tenta definir a agenda, o capital financeiro, o sistema financeiro, o mercado, ele tenta também impor a sua agenda. E como ele impõe a sua agenda? Divulgando previsões pessimistas sobre a economia e conectando esse cenário com as políticas propostas pelo governo", afirma.
![Bandeira do Brasil no hotel Marina Palace, no Rio de Janeiro Bandeira do Brasil no hotel Marina Palace, no Rio de Janeiro - Sputnik Brasil, 1920, 11.11.2024](https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e8/0b/0b/37299949_0:567:4288:2282_1920x0_80_0_0_863cde652af8bdac60572c880e163271.jpg)
11 de novembro 2024, 11:59
Por outro lado, acrescenta o especialista, essas instituições, por meio de seus porta-vozes, indicam que o governo deveria ter outra agenda, diferente da que está sendo apresentada.
"Apesar de o governo não ser um governo que promove um conflito aberto com o sistema financeiro, pelo contrário, tem sido bastante amigável, tem elementos da agenda do governo, como a questão da reforma do imposto de renda, que não são do interesse dessas pessoas. Então eles vão tentar roubar a agenda, roubar o assunto da semana para essas previsões negativas e vincular a solução dessa situação negativa que eles projetam às propostas deles."
Gastos do governo provocam recessão?
As previsões divulgadas pelo mercado apontam que o risco de recessão é fruto da política do governo Lula de gastar mais do que arrecada.
Faria discorda dessa visão e afirma que o gasto do governo, mesmo que superior à arrecadação, não provoca recessão, ao contrário,
expande a economia.
Ele afirma não considerar que a economia brasileira vai entrar em recessão e diz que o que há no momento é uma desaceleração da economia.
"Porque nós estamos no que os economistas chamam de pleno emprego. E quando você tem pleno emprego, você começa a ter uma inflação um pouco mais sistemática de demanda."
Segundo ele, a inflação brasileira tem um problema que é a inflação de oferta, ou seja, quando há escassez de produtos, não excesso de pessoas querendo consumir. Nesse rol entra a inflação gerada pela seca, por enchentes e pela alta do dólar, que aumenta o custo dos produtos importados. Porém ele afirma que há também um pouco de inflação de demanda, o que gerou reação do governo, reduzindo gastos, mas sobretudo do Banco Central, com aumento de juros.
"A gente está vendo a desaceleração do crescimento de gasto — o gasto está crescendo, mas crescendo menos, mais devagar. Isso faz com que a economia se esfrie. Ao contrário do que se propõe, [com] menos gastos, mais arrecadação, a economia de fato vai crescer menos, [mas] não acho que é o caso de ter recessão, pelo menos por agora. Pode ser que a gente tenha dois trimestres negativos? Pode ser, mas a gente ainda vai ter um crescimento anual no final de 2025, a não ser que aconteça alguma coisa que não está no radar", afirma.
Faria avalia que as decisões do governo de reduzir gastos e a do Banco Central de elevar os juros estão erradas. Ele diz esperar "que o governo não mate o paciente com remédio".
"Acho que já está errado, o Banco Central, principalmente, em aumentar demais os juros, e o governo em cortar gastos para reduzir esse crescimento para conter a inflação. Isso não é o nosso problema, a gente tem que manter um crescimento alto, de mais de 2% — que nem é uma coisa absurda, deveria ser normal isso —, para justamente ter os seus efeitos positivos de longo prazo do crescimento, que são a melhoria da qualidade dos empregos."
Segundo ele, a qualidade dos empregos melhora quando se tem desemprego baixo por muito tempo "porque o empresário, o capitalista começa a investir na formação da sua mão de obra".
"Porque ele [empresário] não consegue contratar mão de obra qualificada mais porque está todo mundo empregado, então ele investe na qualificação da sua mão de obra, ele investe em máquinas mais modernas, porque ele não está conseguindo expandir a produção por meio da mão de obra. Então ele vai investir em formas de produção mais modernas, processos gerenciais, etc. Então a gente não quer que tenha uma queda excessiva de crescimento, tudo bem ter um pouco de redução do ritmo e tal, mas o governo tem que olhar para outras formas de controlar a inflação, que não sejam derrubar a economia", conclui o especialista.
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