Privatização da hidrovia do rio Paraguai atinge o 'coração' do Pantanal, dizem especialistas (VÍDEO)
15:07 13.02.2025 (atualizado: 16:20 13.02.2025)
© Sputnik / Guilherme CorreiaBarqueiros navegam pelo rio Paraguai, no Mato Grosso do Sul, Brasil
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Especialistas soam o alerta sobre os riscos da privatização e expansão da hidrovia Paraná-Paraguai, que promete conectar Cáceres (MT) a Corumbá (MS). Eles afirmam que o projeto pode comprometer o regime de cheias do Pantanal, agravar a seca e provocar danos irreversíveis ao bioma.
Gustavo Figueirôa, biólogo e diretor do SOS Pantanal, explica que o projeto é antigo, com cerca de 30 anos, e que o tramo sul, de Corumbá a Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, já opera.
"Não se tem um consenso sobre a viabilidade financeira dessa hidrovia. Vai ser um investimento altíssimo, e em boa parte do ano o rio continuará inavegável por causa da seca."
Ele destaca que trechos já dragados no tramo sul permanecem inavegáveis nas épocas mais secas.
Nesse aspecto, inclusive, ele afirma que as perspectivas para 2025 não são otimistas, com previsão de chuvas abaixo da média, cenário que tem se repetido nos últimos anos.
© Sputnik / Guilherme CorreiaTrechos já dragados no tramo sul do rio Paraguai permanecem inavegáveis nas épocas mais secas
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Trechos já dragados no tramo sul do rio Paraguai permanecem inavegáveis nas épocas mais secas
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Além disso, Figueirôa alertou para os impactos socioambientais do projeto, que prevê intervenções em áreas sensíveis, como o Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense, a Estação Ecológica Caimã e outras unidades de conservação. "Se você dragar essas áreas, vai alterar o pulso de inundação, que já está prejudicado pela falta de água. O impacto será gigantesco."
Ele também defendeu alternativas menos impactantes, como as ferrovias, para o escoamento de cargas. Segundo ele, é crucial "botar a mão na consciência" e buscar soluções que preservem o Pantanal.
"As ferrovias, por exemplo, são um belíssimo exemplo onde você pode exportar, escoar a produção […] de uma maneira muito mais segura e mais barata a longo prazo do que a hidrovia. Fora que com danos ambientais muito menores, infinitamente menores."
🗣🌳 Hidrovia pode causar danos ambientais irreversíveis ao Pantanal
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) February 13, 2025
A construção da hidrovia no Rio Paraguai volta a causar preocupação entre ambientalistas. O projeto de concessão à iniciativa privada visa ampliar o escoamento de produtos na região, mas especialistas alertam… pic.twitter.com/1IbAX9aJ6R
André Siqueira, biólogo e diretor da ONG Ecoa, ressalta que a hidrovia já tem causado problemas históricos na bacia do Alto Paraguai, agravados por intervenções como dragagem e derrocamento. "Se você tira as curvas dos rios, você aumenta muito a vazão, muda completamente o comportamento do rio, e aí você tem menos água dentro do campo, dificultando as inundações."
Ele também afirma que tais alterações comprometem o regime de cheias do Pantanal, essencial para a biodiversidade.
O pesquisador aponta que as mudanças na paisagem, intensificadas por uma ocupação desordenada nas últimas décadas, também resultaram no assoreamento dos rios. "Os rios estão muito assoreados, o que reduz a capacidade de manter água durante o ano, acelerando ainda mais as secas."
Por fim, Figueirôa sugere a possibilidade de adaptar embarcações para navegar nos trechos mais rasos do rio Paraguai, evitando intervenções de grande impacto no bioma. "Existem alternativas, dá para fazer […], mudar o tipo de embarcação, deixar elas mais largas, mais chatas, para conseguirem navegar nesses trechos que são mais rasos."
"Quando a gente fala de alterar o pulso de inundação de um bioma que depende desse pulso, […] a gente está falando literalmente de matar o bioma com uma facada no coração."
Privatizar o rio Paraguai?
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) abriu consulta pública, disponível até 23 de fevereiro, para discutir a concessão da hidrovia do rio Paraguai, que poderá se tornar a primeira concessão hidroviária do Brasil.
Nos primeiros cinco anos, a concessionária seria responsável por obras e melhorias na hidrovia, incluindo dragagem, derrocagem, balizamento, sinalização, construção de um galpão industrial, aquisição de draga, monitoramento hidrológico e levantamentos hidrográficos.
Também estão previstas melhorias em travessias e pontos de desmembramento de comboios, além da implementação de sistemas de gestão do tráfego hidroviário e serviços de inteligência fluvial.
A cobrança de tarifa pelo transporte de cargas seria iniciada somente após a conclusão das obras previstas na primeira fase do contrato.
Já o transporte de passageiros e de pequenas cargas continuaria isento de tarifas. Antes do leilão, a estimativa era que a tarifa poderia chegar a R$ 1,27 por tonelada transportada.
De acordo com a Antaq, a concessão garantirá um calado de 3 metros durante períodos de cheia e de 2 metros na seca, permitindo a navegação ao longo de todo o ano, ou na maior parte dele.