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Eventual ofensiva dos EUA na América Latina com foco em drogas não incluiria Brasil, diz pesquisador
Eventual ofensiva dos EUA na América Latina com foco em drogas não incluiria Brasil, diz pesquisador
Sputnik Brasil
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas afirmam que o Brasil não é o maior fornecedor de drogas para os EUA e que a intervenção direta... 18.02.2025, Sputnik Brasil
2025-02-18T17:36-0300
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A companhia militar privada estadunidense Blackwater solicitou carta branca do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, para atuar na América Latina. A demanda vem após Trump classificar cartéis de drogas como organizações terroristas.Apoiadores do presidente norte-americano defendem uma intervenção no continente latino-americano sob a alegação de conter cartéis de drogas. Um deles é o senador Mike Lee, que recentemente defendeu o uso de cartas de corso para que empresas privadas norte-americanas se engajem no combate ao narcotráfico na região em busca de lucro fiduciário.As cartas de corso são autorizações dadas pelo governo para que entes privados engajem em pirataria contra alvos estrangeiros. Com essa autorização, companhias militares privadas poderiam confiscar bens de grupos narcotraficantes, não só com o intuito de combatê-los, mas também de lucrar.O tema das drogas é um dos que norteiam a relação entre EUA e América Latina há décadas, desde os anos 1970, quando o governo do presidente norte-americano Richard Nixon estabeleceu a guerra às drogas, tendo inclusive sido responsável por criar o termo. É o que aponta, em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, João Estevam, professor de relações internacionais da Universidade Anhembi Morumbi, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos sobre os EUA (INCT-Ineu) e do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).Segundo Estevam, essa política se manteve dos anos 1970 até os anos 2000, sobretudo na década de 1980, durante o governo de Ronald Reagan, pautada pela cooperação e pressão de Washington para que os países-alvo se adequassem ao seu modelo de guerra às drogas.Ele afirma que, agora, com a chegada de Trump à Casa Branca, há possibilidade de que essa política de guerra às drogas se torne mais militarizada, excluindo a assistência socioeconômica que antes fazia parte da agenda da guerra às drogas.No entanto, ele descarta que o Brasil possa estar na rota de Trump se este decidir usar as drogas como argumento para uma intervenção em países da região. Isso porque, embora as facções brasileiras tenham ganhado força, o Brasil não é o principal fornecedor para os EUA, mas sim o México, alçado a esse posto nos anos 1990, após a desarticulação dos cartéis colombianos."Então é por meio do México, por meio dos cartéis mexicanos, que a cocaína sai da região andina e passa para os EUA. […] No caso do Brasil, a gente não tem esse fluxo tão grande. A gente não está nessa rota. Então isso favorece a gente", afirma.Estevam acrescenta que a política de guerra às drogas implantada por Washington é "falha", "fracassada" e abrange outros interesses.Intervenção direta dos EUA em outros países vem perdendo forçaMesmo que em um cenário hipotético Trump decida intervir em algum país da América Latina usando as drogas como pretexto, é improvável que envie soldados americanos, segundo afirma ao podcast Mundioka Thiago Oliveira, doutorando e mestre em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, pesquisador do Observatório Político dos EUA (OPEU) e autor de pesquisas nas áreas de nacionalismo, neonacionalismo, ultradireita e seus atores e política externa de EUA e Brasil.Oliveira afirma que o aspecto do intervencionismo norte-americano, a partir do uso direto de tropas, vem perdendo força, como pode ser observado em um post recente de Trump nas redes sociais, no qual deixou claro que os EUA tomariam o controle da Faixa de Gaza sem enviar tropas.Ele afirma ainda que é preciso ter cautela com as declarações de Trump, uma vez que o líder estadunidense tende a usar muito mais a retórica como forma de obter o que deseja."A gente pega até na administração passada dele muitas promessas, como a mais inusitada de que ele faria o México pagar pelo muro, que não se concretizou, mas é muito importante a gente ver que quando o Trump se manifesta — especialmente de uma forma para tentar mobilizar, galvanizar um apoio em rede social —, os temas que ele mobiliza, de certa forma, demonstram áreas de interesse da sua administração. Então não necessariamente os EUA vão insistir ou, de forma factual, fazer essas operações no México, mas o fato demonstra que ele tenta abarcar esse tema como outro ponto de pressão em relação ao México, como é o caso da fronteira", afirma.No recorte do Brasil, Oliveira afirma que Trump poderia usar a instrumentalização do combate às drogas como arma de pressão em relação ao BRICS, grupo cujo fortalecimento causa descontentamento em Trump, ou de pressão contra o governo brasileiro por medidas contra a desinformação nas redes que desagradam Elon Musk.Entretanto, ele afirma que uma movimentação desse tipo traria para a gestão Trump "mais danos do que benefícios".
https://noticiabrasil.net.br/20240923/analise-guerra-as-drogas-liderada-pelos-eua-esta-elevando-a-violencia-no-norte-e-nordeste-do-brasil-36609991.html
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Eventual ofensiva dos EUA na América Latina com foco em drogas não incluiria Brasil, diz pesquisador
17:36 18.02.2025 (atualizado: 18:39 18.02.2025) Especiais
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas afirmam que o Brasil não é o maior fornecedor de drogas para os EUA e que a intervenção direta no país traria mais danos do que benefícios à gestão Trump.
A companhia militar privada estadunidense Blackwater solicitou carta branca do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, para atuar na América Latina. A demanda vem após Trump classificar cartéis de drogas como
organizações terroristas.
Apoiadores do presidente norte-americano defendem uma intervenção no continente latino-americano sob a alegação de conter cartéis de drogas. Um deles é o senador Mike Lee, que recentemente defendeu o uso de cartas de corso para que empresas privadas norte-americanas se engajem no combate ao narcotráfico na região em busca de lucro fiduciário.
As cartas de corso são autorizações dadas pelo governo para que entes privados engajem em pirataria contra alvos estrangeiros. Com essa autorização, companhias militares privadas poderiam confiscar bens de grupos narcotraficantes, não só com o intuito de combatê-los, mas também de lucrar.
O tema das drogas é um dos que norteiam a relação entre EUA e América Latina há décadas, desde os anos 1970, quando o governo do presidente norte-americano Richard Nixon estabeleceu a guerra às drogas, tendo inclusive sido responsável por criar o termo. É o que aponta, em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, João Estevam, professor de relações internacionais da Universidade Anhembi Morumbi, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos sobre os EUA (INCT-Ineu) e do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
"Durante essa administração [Nixon] é que a gente tem esse tema como […] o grande tema na área de segurança internacional, e também, claro, isso se espalha para outros temas como economia, como política institucional", afirma.

23 de setembro 2024, 16:10
Segundo Estevam, essa política se manteve dos anos 1970 até os anos 2000, sobretudo na década de 1980, durante o governo de Ronald Reagan,
pautada pela cooperação e pressão de Washington para que os países-alvo se adequassem ao seu
modelo de guerra às drogas.
Ele afirma que, agora, com a chegada de Trump à Casa Branca, há possibilidade de que essa política de guerra às drogas se torne mais militarizada, excluindo a assistência socioeconômica que antes fazia parte da agenda da guerra às drogas.
"O que a gente está vendo então é uma reversão desse processo, ou seja, cada vez mais essas iniciativas de assistência de segurança, de combate às drogas vão começar a ter um caráter, voltar a ter um caráter mais militarizado, e outras talvez sejam até abandonadas, mas o fato é que a gente deve ver essa maior militarização da assistência de segurança dos EUA."
No entanto, ele descarta que o Brasil possa estar na rota de Trump se este decidir usar as drogas como argumento para uma intervenção em países da região. Isso porque, embora as facções brasileiras tenham ganhado força, o Brasil não é o principal fornecedor para os EUA, mas sim o México, alçado a esse posto nos anos 1990, após a desarticulação dos cartéis colombianos.
"Então é por meio do México, por meio dos cartéis mexicanos, que a cocaína sai da região andina e passa para os EUA. […] No caso do Brasil, a gente não tem esse fluxo tão grande. A gente não está nessa rota. Então isso favorece a gente", afirma.
Estevam acrescenta que a política de guerra às drogas implantada por Washington é "falha", "fracassada" e abrange outros interesses.
"A gente não pode ser ingênuo de achar que é meramente uma pressão norte-americana que os países da região, acuados, têm que se submeter. Não, existe gente também internamente que lucra com isso nos países em questão. […] Existe uma economia política da guerra às drogas que não é somente a economia do que a droga fornece em termos de riqueza, mas sim quem é que lucra com esses combates de guerra às drogas", afirma.
Intervenção direta dos EUA em outros países vem perdendo força
Mesmo que em um cenário hipotético Trump decida intervir em algum país da
América Latina usando as drogas como pretexto,
é improvável que envie soldados americanos, segundo afirma ao
podcast Mundioka Thiago Oliveira, doutorando e mestre em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, pesquisador do Observatório Político dos EUA (OPEU) e autor de pesquisas nas áreas de nacionalismo, neonacionalismo, ultradireita e seus atores e política externa de EUA e Brasil.
Oliveira afirma que o aspecto do intervencionismo norte-americano, a partir do uso direto de tropas, vem perdendo força, como pode ser observado em um post recente de Trump nas redes sociais, no qual deixou claro que os EUA tomariam o controle da Faixa de Gaza sem enviar tropas.
Ele afirma ainda que é preciso ter cautela com as declarações de Trump, uma vez que o líder estadunidense tende a usar muito mais a retórica como forma de obter o que deseja.
"A gente pega até na administração passada dele muitas promessas, como a mais inusitada de que ele faria o México pagar pelo muro, que não se concretizou, mas é muito importante a gente ver que quando o Trump se manifesta — especialmente de uma forma para tentar mobilizar, galvanizar um apoio em rede social —, os temas que ele mobiliza, de certa forma, demonstram áreas de interesse da sua administração. Então não necessariamente os EUA vão insistir ou, de forma factual, fazer essas operações no México, mas o fato demonstra que ele tenta abarcar esse tema como outro ponto de pressão em relação ao México, como é o caso da fronteira", afirma.
No recorte do Brasil, Oliveira afirma que Trump poderia usar a instrumentalização do combate às drogas como arma de pressão em relação ao BRICS, grupo cujo fortalecimento causa descontentamento em Trump, ou de pressão contra o governo brasileiro por medidas contra a desinformação nas redes que desagradam Elon Musk.
"Não duvido que esse ponto chegue ao Brasil; por exemplo, o combate ao PCC [Primeiro Comando da Capital] ou ao Comando Vermelho. Ou, até mesmo, não dessa forma tão específica, mas o combate ao tráfico ilegal de drogas abarque o Brasil justamente para tentar apertar esses pontos de pressão no Brasil nesses tópicos."
Entretanto, ele afirma que uma movimentação desse tipo traria para a gestão Trump "mais danos do que benefícios".
"Acho que se o Trump quiser, na verdade, tentar forçar o Brasil para meios de negociação em outras esferas, em outros tópicos, eu creio que talvez não seja um bom approach para ele acabar fazendo isso através do combate, da guerra às drogas, como uma forma de ameaça direta ao Brasil", afirma o especialista.
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