https://noticiabrasil.net.br/20250307/analise-com-eventual-ausencia-dos-eua-parceria-com-china-sera-grande-cartada-do-brasil-na-cop-30-38769678.html
Análise: com eventual ausência dos EUA, parceria com China será grande 'cartada' do Brasil na COP30
Análise: com eventual ausência dos EUA, parceria com China será grande 'cartada' do Brasil na COP30
Sputnik Brasil
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas afirmam que, embora ainda dependa de combustíveis fósseis, a China vem liderando os investimentos na transição... 07.03.2025, Sputnik Brasil
2025-03-07T20:39-0300
2025-03-07T20:39-0300
2025-03-07T22:16-0300
panorama internacional
américas
ásia e oceania
donald trump
rússia
xi jinping
brasil
china
pequim
brics
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e9/03/07/38770335_0:0:3072:1728_1920x0_80_0_0_871d8c25905428a87a5d6f8fd0ec6ec7.jpg
O presidente dos EUA, Donald Trump, proibiu a participação de cientistas norte-americanos na primeira reunião do ano do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), principal órgão das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, ocorrido na China no final de fevereiro. Foi a primeira vez que cientistas estadunidenses ficaram de fora do evento.A ação foi vista como um prenúncio da ausência e da total indiferença dos EUA, sob a gestão Trump, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro, em Belém, no Pará. O evento é uma das apostas do Brasil na busca pelo protagonismo da pauta climática.À Sputnik Brasil, especialistas analisam como o afastamento dos EUA pode impactar na agenda brasileira e se parceiros do BRICS poderiam reverter um possível esvaziamento da conferência.Carlos Milani, professor titular de relações internacionais no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e coordenador do Observatório Interdisciplinar das Mudanças Climáticas (OIMC) da universidade, afirma que o governo Lula 3 é bastante diferente dos dois mandatos anteriores, no sentido de que tenta tensionar ao máximo as contradições provocadas na perspectiva das injustiças ambientais e climáticas que existem no modelo de desenvolvimento econômico brasileiro.Porém, ele considera que a grande dificuldade que o governo terá para liderar a agenda climática na COP30, em Belém, é o fato de que o Brasil se confronta com dois tipos de contradição: uma interna e outra externa.Milani acrescenta que há um retrocesso gigantesco da pauta climática e de transição energética com a chegada ao poder do governo de Donald Trump e que há uma contínua aposta no modelo de economia fóssil mundo afora, que acaba reverberando internamente no Brasil na forma de outra contradição, desde a defesa de lideranças políticas à exploração de petróleo na Margem Equatorial, sob o argumento de que outros países da região estão explorando, dizendo que com isso vão financiar a transição energética. Ele avalia não ser compatível um financiamento da transição energética "sem uma clara agenda de phase down [redução] e de phase out [abandono] da economia fóssil"."É fundamental que haja não apenas um investimento em fontes alternativas renováveis, eólica, solar, hidrelétrica, mas é absolutamente essencial que haja uma agenda clara de phase out e de phase down, de redução desse investimento, a não abertura de novos poços, um monitoramento claro, com dados que sejam muito transparentes por parte das principais petroleiras do mundo."Ele afirma que há pressão para que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) libere o projeto de pesquisa e a exploração do recurso, com a promessa de que isso vai gerar o desenvolvimento da sociedade do Amapá.Ele afirma ainda que é sabido que esses tipos de dividendos econômicos muito raramente são destinados a políticas sociais e a políticas públicas, visando o bem-estar da população local e das pessoas mais vulneráveis e mais vulnerabilizadas por esse processo de exploração.Milani diz que, diante do afastamento dos EUA da pauta ambiental, há risco do esvaziamento da COP30, mas acredita que a capacidade da diplomacia brasileira pode contornar esse risco. Nesse contexto, ele afirma que "a cartada mais importante" certamente será a parceria com a China, tentando trazer sobretudo a China dentro do BRICS — grupo que abrange muitas economias produtoras de petróleo.Evandro de Menezes Carvalho, professor associado de direito internacional da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que o Brasil é um país importante no cenário internacional quando se trata da pauta ambiental, com papel central em discussões sobre mudanças climáticas, preservação da biodiversidade e transição para uma economia sustentável."O Brasil abriga 20% da biodiversidade global e a Floresta Amazônica — maior floresta tropical do planeta — armazena 120 bilhões de toneladas de carbono, contribuindo de modo decisivo para a redução do efeito estufa. Além disso, o país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, uma vez que mais de 80% da eletricidade vem de fontes renováveis. O Brasil tem um imenso potencial para hidrogênio verde e lidera avanços em biocombustíveis. Não é sem razão que o Brasil tem assumido compromissos internacionais relevantes, a exemplo do Acordo de Paris, e tem participado ativamente dos fóruns ambientais internacionais, tendo a COP30 um papel de destaque."Porém, ele sublinha que "o desmatamento da Amazônia, por ter repercussão global, está no centro das negociações climáticas". Carvalho afirma não acreditar em um esvaziamento da COP30 por conta do afastamento dos EUA da pauta climática. Para ele, o provável é que haja maior isolamento dos EUA no concerto das nações quando o assunto for a questão climática global, o desenvolvimento sustentável e a proteção da biodiversidade.Ele afirma ainda que tem havido um reforço de Pequim relativo a regulamentações ambientais para indústrias, e que "Brasil e China podem e deveriam desenvolver uma parceria mais ampla na agenda ambiental global".Segundo o especialista, o Brasil poderia aproveitar a Cúpula do BRICS em julho, no Brasil, para avançar nas iniciativas conjuntas para o desenvolvimento sustentável."A cúpula poderá ser a ocasião para apontar caminhos que serão, posteriormente, debatidos e propostos na COP30. Claro que a agenda do BRICS não se limita ao tema ambiental. Mas naquilo que converge para o que será discutido na COP30, a Cúpula do BRICS poderá se antecipar e contribuir para que a COP30 tenha êxitos concretos."Carvalho afirma ainda que a China vem se posicionando para liderar não só o debate climático, mas iniciativas para o desenvolvimento verde, e menciona três iniciativas concretas adotadas pelo governo chinês.
https://noticiabrasil.net.br/20250305/petrobras-esta-no-ranking-das-36-maiores-empresas-emissoras-de-co2-do-mundo-aponta-estudo-38742900.html
https://noticiabrasil.net.br/20241210/brasil-bate-recorde-de-geracao-de-energia-eolica-em-novembro-diz-ministerio-37661410.html
brasil
china
pequim
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2025
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e9/03/07/38770335_341:0:3072:2048_1920x0_80_0_0_5e3d33f658ffd34798eef94551b9dd5f.jpgSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
américas, ásia e oceania, donald trump, rússia, xi jinping, brasil, china, pequim, brics, sputnik brasil, onu, acordo de paris, conferência das nações unidas sobre as mudanças climáticas de 2025 (cop30), transição energética, meio ambiente, exclusiva
américas, ásia e oceania, donald trump, rússia, xi jinping, brasil, china, pequim, brics, sputnik brasil, onu, acordo de paris, conferência das nações unidas sobre as mudanças climáticas de 2025 (cop30), transição energética, meio ambiente, exclusiva
Análise: com eventual ausência dos EUA, parceria com China será grande 'cartada' do Brasil na COP30
20:39 07.03.2025 (atualizado: 22:16 07.03.2025) Especiais
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas afirmam que, embora ainda dependa de combustíveis fósseis, a China vem liderando os investimentos na transição energética, e que a parceria com Pequim pode ser a "cartada mais importante" do Brasil na busca pelo protagonismo na agenda climática.
O presidente dos EUA, Donald Trump, proibiu a participação de cientistas norte-americanos na primeira reunião do ano do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), principal órgão das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, ocorrido na China no final de fevereiro. Foi a primeira vez que cientistas estadunidenses ficaram de fora do evento.
A ação foi vista como um prenúncio da ausência e da total indiferença dos EUA, sob a gestão Trump, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30),
marcada para novembro, em Belém, no Pará.
O evento é uma das apostas do Brasil na busca pelo protagonismo da pauta climática.
À Sputnik Brasil, especialistas analisam como o afastamento dos EUA pode impactar na agenda brasileira e se parceiros do BRICS poderiam reverter um possível esvaziamento da conferência.
Carlos Milani, professor titular de relações internacionais no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e coordenador do Observatório Interdisciplinar das Mudanças Climáticas (OIMC) da universidade, afirma que o governo Lula 3 é bastante diferente dos dois mandatos anteriores, no sentido de que tenta tensionar ao máximo as contradições provocadas na perspectiva das injustiças ambientais e climáticas que existem no modelo de desenvolvimento econômico brasileiro.
Porém, ele considera que a grande dificuldade que o governo terá para liderar a agenda climática na COP30, em Belém, é o fato de que o Brasil se confronta com dois tipos de contradição: uma interna e outra externa.
"As contradições lá fora dizem respeito à manutenção dos investimentos em economia fóssil, mesmo em países que têm um compromisso forte com a agenda climática multilateral, como os países da União Europeia. Veja o caso da Alemanha, que voltou a carvão e gás para poder recuperar um pouco de pujança econômica e industrial, dada a crise provocada pelo suprimento de gás pela Rússia em função do conflito russo-ucraniano", explica.
Milani acrescenta que há um retrocesso gigantesco da pauta climática e de transição energética com a chegada ao poder do governo de Donald Trump e que há uma contínua aposta no modelo de economia fóssil mundo afora, que acaba reverberando internamente no Brasil na forma de outra contradição, desde a defesa de lideranças políticas à exploração de petróleo na Margem Equatorial, sob o argumento de que outros países da região estão explorando, dizendo que com isso vão financiar a transição energética. Ele avalia não ser compatível um financiamento da transição energética "sem uma clara agenda de phase down [redução] e de phase out [abandono] da economia fóssil".
"É fundamental que haja não apenas um investimento em fontes alternativas renováveis, eólica, solar, hidrelétrica, mas é absolutamente essencial que haja uma agenda clara de phase out e de phase down, de redução desse investimento, a não abertura de novos poços, um monitoramento claro, com dados que sejam muito transparentes por parte das principais petroleiras do mundo."
Ele afirma que há pressão para que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) libere o projeto de pesquisa e a exploração do recurso, com a promessa de que isso vai gerar o desenvolvimento da sociedade do Amapá.
"Nós já tivemos casos recentes aqui no Brasil de promessas de que todos os recursos, dividendos e lucros advindos da exploração do petróleo no pré-sal seriam destinados à educação e à saúde. E nós sabemos, de forma muito pertinente, qual é o estado da educação pública e da saúde pública no Brasil, muito aquém de todas aquelas promessas que foram feitas em nome da exploração do petróleo no pré-sal brasileiro. A mesma promessa se faz agora em relação ao petróleo na Margem Equatorial."
Ele afirma ainda que é sabido que esses tipos de dividendos econômicos muito raramente são destinados a políticas sociais e a políticas públicas, visando o bem-estar da população local e das pessoas mais vulneráveis e mais vulnerabilizadas por esse processo de exploração.
Milani diz que, diante do afastamento dos EUA da pauta ambiental, há risco do
esvaziamento da COP30, mas acredita que a capacidade da diplomacia brasileira pode contornar esse risco. Nesse contexto, ele afirma que
"a cartada mais importante" certamente será a parceria com a China, tentando trazer sobretudo a China dentro do BRICS — grupo que abrange muitas economias produtoras de petróleo.
"Então, a cartada do Brasil vai ser com a China, que ainda tem boa parte da sua matriz energética e matriz de energia elétrica fortemente tributárias da economia fóssil, bem diferente do Brasil, é claro, mas é um país que, paradoxalmente, também é um dos maiores investidores em eletrificação de veículos, em produção de baterias, em tecnologia de ponta na prestação de serviços ecologicamente sustentáveis, visando a uma transição energética e de proteção do clima planetário."
Evandro de Menezes Carvalho, professor associado de direito internacional da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que o Brasil é um país importante no cenário internacional quando se trata da pauta ambiental, com papel central em discussões sobre mudanças climáticas, preservação da biodiversidade e transição para uma economia sustentável.
"O Brasil abriga 20% da biodiversidade global e a Floresta Amazônica — maior floresta tropical do planeta — armazena 120 bilhões de toneladas de carbono, contribuindo de modo decisivo para a redução do efeito estufa. Além disso, o país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, uma vez que mais de 80% da eletricidade vem de fontes renováveis. O Brasil tem um imenso potencial para hidrogênio verde e lidera avanços em biocombustíveis. Não é sem razão que o Brasil tem assumido compromissos internacionais relevantes, a exemplo do Acordo de Paris, e tem participado ativamente dos fóruns ambientais internacionais, tendo a COP30 um papel de destaque."
Porém, ele sublinha que "o desmatamento da Amazônia, por ter repercussão global, está no centro das negociações climáticas".
"Além disso, por ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo, é preciso que o país se comprometa com práticas agrícolas sustentáveis, visando garantir a segurança alimentar global."

10 de dezembro 2024, 00:27
Carvalho afirma não acreditar em um esvaziamento da COP30 por conta do afastamento dos EUA da pauta climática. Para ele, o provável é que haja maior isolamento dos EUA no concerto das nações quando o assunto for a questão climática global, o desenvolvimento sustentável e a proteção da biodiversidade.
"Um dos efeitos colaterais deste afastamento dos EUA será o aprofundamento da parceria entre Brasil e China. A China tem implementado uma estratégia abrangente para promover o desenvolvimento verde, combinando políticas ambientais, investimentos em energia limpa e reformas econômicas. Em 2020, o presidente Xi Jinping anunciou que a China atingirá o pico de emissões de CO₂ até 2030 e será carbono neutro até 2060. Os chineses são líderes mundiais em energia solar e eólica. O país responde por mais de 50% dos painéis solares do mundo. É fato que a China ainda é dependente do carvão, mas tem fechado usinas ineficientes e investido mais em transição para fontes mais limpas."
Ele afirma ainda que tem havido um reforço de Pequim relativo a regulamentações ambientais para indústrias, e que "Brasil e China podem e deveriam desenvolver uma parceria mais ampla na agenda ambiental global".
Segundo o especialista, o Brasil poderia aproveitar a Cúpula do BRICS em julho, no Brasil, para avançar nas iniciativas conjuntas para o desenvolvimento sustentável.
"A cúpula poderá ser a ocasião para apontar caminhos que serão, posteriormente, debatidos e propostos na COP30. Claro que a agenda do BRICS não se limita ao tema ambiental. Mas naquilo que converge para o que será discutido na COP30, a Cúpula do BRICS poderá se antecipar e contribuir para que a COP30 tenha êxitos concretos."
Carvalho afirma ainda que
a China vem se posicionando para liderar não só o debate climático, mas iniciativas para o desenvolvimento verde, e
menciona três iniciativas concretas adotadas pelo governo chinês.
"A primeira delas é o Plano de Céu Azul, que tem reduzido drasticamente a poluição do ar em cidades como Pequim e Xangai. Depois, os projetos de reflorestamento massivo com o plantio de mais de 70 milhões de hectares de florestas desde os anos 90, e, por fim, a recuperação de rios e lagos antes altamente poluídos, como o rio Yangtzé. Essas iniciativas são claramente percebidas pela população chinesa e dá muita legitimidade para o governo chinês no trato dos assuntos ambientais. E, no plano internacional, o governo chinês lançou a Nova Rota da Seda Verde visando desenvolver infraestrutura sustentável em países parceiros."
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!
Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.
Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).