Guarda-chuva nuclear francês não é suficiente ou eficaz para proteger a Europa, diz mídia
© AP Photo / Manish SwarupEmmanuel Macron, presidente da França, discursa durante coletiva de imprensa no final da Cúpula do G20, em Nova Deli, Índia, 10 de setembro de 2023

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Apesar da disposição do presidente francês Emmanuel Macron de convidar líderes europeus para discutir mecanismos que permitissem que o arsenal nuclear da França pudesse ser usado como ferramenta de dissuasão, suas limitações podem não ser satisfatórias.
A ideia de estender o "guarda-chuva nuclear" francês para proteger outros países europeus ganhou urgência devido às ameaças do presidente norte-americano Donald Trump de minar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e abandonar o papel dos EUA como garantidor da segurança europeia.
De acordo com um artigo do Financial Times (FT), o ex-ministro das Relações Exteriores francês, Hubert Védrine, destacou que nunca houve solicitação de um país europeu para tal coisa, pois ninguém questionava o apoio dos EUA.
O guarda-chuva nuclear norte-americano inclui mais de 100 bombas de gravidade na Europa, sob controle de Washington, mas projetadas para serem lançadas por caças de países como Bélgica, Alemanha e Itália. O medo de que os EUA retirem sua garantia nuclear levou líderes da Alemanha e Polônia a sugerirem preparativos para tal cenário.
Friedrich Merz, o futuro chanceler alemão, e o primeiro-ministro polonês Donald Tusk, acolheram a ideia de segurança nuclear do Reino Unido e da França. Macron propôs "abrir o debate estratégico" com países europeus interessados em explorar novas cooperações.
A França há décadas afirma que seus "interesses vitais" têm uma "dimensão europeia", mas nunca definiu o termo. Espera-se que as negociações lideradas por Macron envolvam o Reino Unido, a única outra potência nuclear na região. Mas, segundo especialistas ouvidos pela mídia, o arsenal francês de cerca de 300 ogivas é pequeno para proteger toda a Europa.
Paris também carece de armas nucleares táticas e tem menos opções para escalada gradual do que os EUA e a Rússia. A dissuasão nuclear britânica, com até 260 ogivas, é atribuída à OTAN, enquanto Paris não participa do Grupo de Planejamento Nuclear (NPG, na sigla em inglês) da Aliança Atlântica.
Marion Messmer, especialista em segurança internacional, sugeriu ao FT que a França devesse se juntar ao NPG da OTAN caso quisesse fortalecer a dissuasão europeia porque desta forma alinharia as doutrinas nucleares francesa e britânica, facilitando o planejamento e treinamento para crises.
No entanto, isso derrubaria a tradição francesa de independência nuclear. Macron enfatizou que um presidente francês sempre teria o poder máximo para decidir sobre o uso das bombas. O argumento é que juntas, as capacidades nucleares britânicas e francesas pudessem dissuadir Moscou de aspirações expansionistas, algo que o Kremlin negou repetidas vezes, argumentando que sua operação militar especial na Ucrânia teve por objetivo desmilitarizar o país vizinho por uma questão de segurança.
Apesar da dificuldade do tema, a França ainda tem opções. Para o especialista em geopolítica e estratégia nuclear, Bruno Tertrais, Paris deveria enviar caças Rafale sem ogivas nucleares para bases de parceiros, como a Polônia, realizar mais exercícios conjuntos para então estabelecer uma nova abordagem que preparasse seus aliados para uma mudança na estratégia nuclear da França.